Em outubro, a Camisa 12 esteve na Fábrica do Samba para registrar a gravação oficial de seu samba-enredo para o Carnaval 2026 o primeiro audiovisual da história da escola. O clima foi de expectativa, emoção e afirmação coletiva de um projeto que marca o retorno ao Grupo de Acesso 1 após 23 anos. A obra, profundamente ligada à ancestralidade e ao culto a Xangô, tem mobilizado a comunidade e orientado o planejamento musical, técnico e estratégico da agremiação.

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Fotos: Naomi Prado/CARNAVALESCO

Direção de varnaval busca unidade e fidelidade ao trabalho na quadra

O diretor de carnaval, Demis Roberto, explica que a Camisa 12 decidiu fugir de fórmulas prontas e, pela primeira vez, registrar em vídeo aquilo que vem construindo internamente. “Nós pensamos em fazer algo um pouco diferente do que a gente está vendo as pessoas fazendo. Não sabemos ainda se vai dar certo, porque não gravamos ainda, mas vamos fazer algo muito parecido com o que estamos fazendo dentro da escola”.

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Diretor de carnaval, Demis Roberto

Segundo ele, a gravação reflete meses de ensaio e consolida um momento histórico da entidade. “É o primeiro audiovisual da Camisa 12. Estamos vivenciando muitas ‘primeiras’ coisas. Vamos fazer um bom trabalho e mostrar o motivo de estarmos neste grupo”.

Demis destaca que todos os setores da agremiação foram representados de forma proporcional e criteriosa. “A gente está cumprindo exatamente a numeração que a própria Liga-SP passou para nós. Mas nós só estamos trazendo as pessoas que verdadeiramente ensaiaram”.

Sobre a disputa acirrada do Acesso 1, o diretor não esconde a consciência do desafio. “A Camisa 12 é a única escola do grupo inteiro que nunca foi para o Grupo Especial. Então, é um grupo muito difícil”. Ainda assim, ele confia no projeto: “O que a gente está pretendendo dentro desse grupo é mostrar por que merecemos o Acesso 1”.

A parte do samba que mais o emociona resume o espírito da comunidade: “Kaô, kabecilê Xangô! Meu sangue é preto, é ancestral.”.

Interpretação: emoção, técnica e união na disputa mais acirrada de SP

O intérprete Tim Cardoso ressaltou que o frio no dia da gravação exigiu um cuidado vocal direto e objetivo. “É muito importante beber bastante água e sempre fazer um aquecimento vocal, mas nada de preparativo muito grande”.

Diferentemente das gravações em estúdio, o registro ao vivo reuniu comunidade, ala musical e todo o elenco. “Hoje, todo mundo junto, acho que vai mais a emoção do que a técnica. Hoje vai ser mais para cima”.

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Intérpretes Tim Cardoso e Clóvis Pê

Tim também destaca sua identificação com o trecho mais marcante do samba: “Kaô, kabecilê Xangô! Meu sangue é preto, é ancestral.”.

O intérprete Clovis Pê reforça que o retorno ao Acesso 1 exige preparação intensa. “A competição é sarrafo lá em cima. Então, a gente tenta ensaiar muito”.

Clovis revela que mantém exercícios técnicos diários desde 2000, quando enfrentou um problema vocal. Ainda assim, ele aponta que cantar diante da comunidade desperta outro nível de entrega. “Hoje é mais emocionante, porque você tem a comunidade junto”.

Para ele, a abertura do samba é o ponto mais forte. “O xirê é a festa. E o Carnaval é uma festa. É proibido ficar triste”.

Direção musical aposta em ousadia, ancestralidade e novas texturas sonoras

Responsável pela produção musical, Neuber André afirma que a gravação marca um renascimento da Camisa 12. “Depois de 23 anos, a gente está voltando para o Grupo de Acesso 1. Eu quero fazer uma gravação totalmente diferenciada”.

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Ele detalha que o trabalho terá ousadia tanto nas cordas quanto na bateria. “Vamos ter umas bossas com atabaques. E, na parte das cordas, eu vou colocar um banjo para deixar um pouco mais percussiva a questão das cordas”.

Neuber também se emociona com o trecho final do samba: “Kaô, kabecilê Xangô! Meu sangue é preto, é ancestral, o toque do tambor resiste no meu carnaval”.

Bateria reforça tradição, cadência e referências afro-baianas

À frente da “Fúria Azul e Branco”, o mestre Lipe explica que a escolha do andamento preserva a escola e honra a memória do pai, maestro Neno. “Adaptamos o andamento para 142 BPM (batidas por minuto), foi o que aprendemos no nosso início. Samba é cadenciado”.

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Para o desfile, o andamento deve subir sem perder a essência. “Aumentaremos um pouco mais para dar mais pressão, porém sem fugir dessa característica”.

A bateria apresentará três bossas, com forte influência afro-baiana. “Traremos muita Bahia, faremos um toque de Adarrun”.

Audiovisual como marco de afirmação

A gravação na Fábrica do Samba consolidou um movimento de reorganização e crescimento da Camisa 12. Com forte conexão espiritual e raízes afro-brasileiras, o samba-enredo tornou-se símbolo da busca da escola por estabilidade no grupo e, quem sabe, por voos ainda maiores.

A frase repetida por todos, intérpretes, direção e comunidade, sintetiza o que a escola leva para o Anhembi em 2026: “Kaô, kabecilê Xangô! Meu sangue é preto, é ancestral”.