Encerrando as gravações do álbum de 2026, a Majestade do Samba exaltou sua ancestralidade, e integrantes relembraram com carinho de Gilsinho em um registro marcado por saudade e novos caminhos. A Portela concluiu, no último dia 9 de outubro, no Estúdio Century, na Barra Olímpica, a gravação de sua faixa para o álbum de sambas-enredo do Grupo Especial de 2026. A escola, que enfrentou a perda do intérprete Gilsinho poucos dias antes da sessão, reuniu diversos componentes que o homenagearam com grande emoção. O CARNAVALESCO conversou com alguns deles para entender como foi o processo de gravação da obra que levará à Marquês de Sapucaí o enredo “O Mistério do Príncipe do Bará — A oração do Negrinho e a ressurreição de sua coroa sob o céu aberto do Rio Grande”, do carnavalesco André Rodrigues.

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Leandro Lima, 42 anos, integrante do carro de som desde 2020, diretor musical e responsável pelo cavaquinho na faixa, contou que se agarrou ao trabalho para honrar a memória de Gilsinho. Ele destacou a excelência vocal de Zé Paulo, que assume os vocais da escola, e ressaltou também o vínculo de mestre Vitinho com a Portela, com quem já trabalhou anteriormente. Para Leandro, a melodia do samba é profundamente emocionante e cativa facilmente o coração do portelense.

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Leandro Lima, 42 anos, integrante do carro de som desde 2020

“Este ano temos a questão da ausência do Gilsinho. Tivemos essa fatalidade. Mas, por sempre ter sido muito próximo a ele, estou me dedicando a fazer tudo da melhor forma possível, em prol de sua memória. E seremos sempre o carro de som ‘É Tudo Nosso’. É bacana também gravar este ano com o Vitinho, cria da Portela, com quem já trabalhei. Estamos bem representados com um cantor excelente, que é o Zé Paulo, um amigo portelense que abrilhantou esse samba. A melodia pega muito pelo lado da emoção: o refrão do meio e o trecho que antecede o refrão de baixo, ‘Enquanto houver um pastoreiro a chama não se apagará, não há demanda que o povo preto não possa enfrentar’, me tocam muito. E também a saída da segunda parte, ‘Portela, tu és o próprio trono de Zumbi’, que, para mim, é o momento de maior emoção”, declarou.

Ledjane Motta, também do carro de som “É Tudo Nosso” e integrante do coro na gravação, definiu o momento da Portela como um ano de inovação. Para ela, o samba é uma verdadeira louvação ao batuque, à ancestralidade, aos orixás e ao povo preto dos pampas. Ledjane acredita que Bará será a força que abrirá os caminhos da escola em 2026.

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Ledjane Motta também do carro de som “É Tudo Nosso”

“É um motivo de muita felicidade, porque a Portela está passando por mudanças significativas. Nos últimos anos, havia sempre a expectativa de manter o que já vinha sendo feito, de preservar uma tradição. Este ano eu vejo como um ano de inovação: um novo cantor, um novo mestre de bateria e algumas mudanças no carro de som. É uma inovação que respeita e mantém nossa tradição, sem ferir o que representa a nossa majestosa Portela centenária. Acredito que esse samba trará uma energia muito boa para a Sapucaí, reforçando essa sensação de novidade. Gosto muito da frase ‘Enquanto houver um pastoreio, a chama não se apagará, não há demanda que o povo preto não possa enfrentar’. Caminhamos com a força ancestral; é Bará abrindo os caminhos, guiando e movimentando tudo. Bará é movimento”, afirmou.

Ritmistas e irmãos portelenses desde 2023, Juan e Gabriel Reis gravaram pela primeira vez o samba oficial da escola. Emocionados, ambos destacaram a lembrança de Gilsinho durante todo o processo. Gabriel, de 14 anos, falou sobre o nervosismo e a alegria da experiência. Já Juan, de 20, ressaltou a honra de representar a escola onde cresceu.

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Ritmista Juan

“É uma emoção estar aqui pela primeira vez. Dá aquele nervosismo, mas é uma alegria sem fim. Vamos tocar pelo nosso ídolo Gilsinho, que infelizmente se foi, e isso aumenta muito a emoção. Gosto muito do samba para 2026, especialmente do refrão”, contou Gabriel.

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Ritmista Gabriel

“Hoje foi uma experiência maravilhosa, minha primeira vez. Senti aquele friozinho na barriga, ainda mais representando a escola de onde sou cria. Foi muito gratificante e muito forte, ainda mais após o acontecimento triste que tivemos. Mas gravar um samba de muita garra, força e energia, de um enredo tão vibrante, dá uma vontade enorme de trabalhar e vencer”, completou Juan.