A noite da última sexta-feira teve um grande evento na Zona Norte de São Paulo – mais precisamente no Jardim Japão, bairro em que fica a quadra de uma das mais tradicionais escolas de samba paulistanas. Na data, a Unidos de Vila Maria fez uma série de apresentações: do enredo para o carnaval 2026, intitulado “Do chão que alimenta a culinária que encanta: Brasil um banquete de sabores” e desenvolvido pelo carnavalesco Vinícius Freitas; até o do próprio elenco para o ciclo da folia de Momo – que conta com novos nomes.
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A programação começou com um show da Velha Guarda da agremiação. Depois, os tradicionais alusivos da agremiação – “Você Mora No Meu Coração”, hino da escola; e “És Meu Pavilhão”, outro alusivo conhecido em toda a cidade.
Depois, alguns sambas-enredo históricos tiveram vez: “Aparecida – A Rainha do Brasil. 300 Anos de Amor e Fé no Coração do Povo Brasileiro” (de 2017), “A Vila Famosa é Mais Bela, Ilhabela da Fantasia” (2016), “Intolerância Não! Viva e Deixe Viver!” (2002) e “Nos Meus 60 Anos de Alegria – Sou Vila Maria, e Faço a Festa Resgatando do Passado Brinquedos e Brincadeiras de Criança” (2014).

Depois da sequência, começaram as apresentações. Primeiro, os novos integrantes da agremiação. Mestre Marcel Bonfim foi empossado como o nome comandante da Cadência da Vila, bateria da escola. Como primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Kadu Andrade e Camila Moreira também receberam um cerimonial especial por parte da Associação de Mestres-Sala, Porta-Bandeiras e Porta-Estandarte de São Paulo (AMESPBEESP). Os três têm passagens marcantes na agremiação verde, azul e branco e o retorno teve muita emoção por parte de cada um deles e de familiares presentes no local.
Quem também foi apresentado foi Vinícius Freitas, novo carnavalesco da instituição. O clã em questão também teve um discurso muito aplaudido feito por Taiane Freitas, coreógrafa da comissão de frente da agremiação (premiada com o Destaques do Ano, votação popular do Estrela do Carnaval, organizado pelo CARNAVALESCO, como melhor comissão de frente do Grupo de Acesso I de 2025) e irmã do novo quadro da escola.
Mas… e o enredo?
Depois das apresentações, todos ansiavam por saber qual seria a temática a ser abordada pela Vila Maria em 2026. Com um vídeo, o enredo foi apresentado. Na película, Vinícius aparece mostrando o projeto em questão para a presidência e, logo depois, integrantes da escola participaram da produção.
Vale destacar que o vídeo deixou claro que uma linha cronológica será evidente, já que o início das imagens tinha a locução afirmando que o Brasil já era um local de fartura alimentícia mesmo antes da chegada dos europeus.
Palavra de quem fez
Ao ser perguntado sobre qual será o destrinchamento do enredo, Vinícius foi detalhista: “É um enredo em que todos vão se encontrar. E é um enredo riquíssimo, também culturalmente falando, pois ele ressalta muito, por exemplo, o quanto a alimentação, o quanto a nossa culinária, o quanto a nossa gastronomia influencia e faz parte da nossa identidade quanto o povo. Isso vem desde a ancestralidade, desde quando o Brasil ainda não era Brasil. Desde então, já havia alimentos nesse solo. A gente parte por toda a miscigenação, também – essa mistura de cores e sabores de todos os povos que passaram por aqui. Aí, finalmente, a gente chega no Brasil brasileiro – que é a nossa maior identidade como povo. É a riqueza dos nossos alimentos em relação ao ritual de se alimentar. São rituais brasileiros a hora do nosso cafezinho, a hora da nossa cerveja, a hora da nossa feijoada. Tenho certeza que todo mundo vai se encontrar na avenida, todo mundo vai encontrar o seu sabor na avenida e vai ser um espetáculo bem grandioso”, prometeu.

Se a linha cronológica está bem evidenciada tanto no vídeo apresentado quanto na fala do carnavalesco, ele próprio deixa claro que a parte estética também terá muito esmero: “Com certeza teremos surpresas! Modéstia à parte, como artista, a gente sempre busca essas surpresas. Em relação ao enredo, modéstia à parte, todos verão uma Vila Maria com bastante originalidade e luxo na avenida. É o que a gente preza”, destacou.
Originalidade
Alguns enredos com temáticas semelhantes já foram vistos no Anhembi. No carnaval 2004, por exemplo, que comemorava os 450 anos da cidade de São Paulo e tinha a obrigatoriedade de falar de temas relacionados ao município, X-9 Paulistana (com “Se Vens a Minha Casa Com Deus no Coração. Senta-te à Mesa e Come do Meu Pão) e Águia de Ouro (“Sou Mais São Paulo… Ana Maria Braga Conta 450 Anos da Culinária Paulistana) tinham a gastronomia como temática. Em 2017, o Rosas de Ouro apresentou “Convivium. Sente-se à mesa e saboreie”, contando a história dos banquetes.
Indagado sobre quais serão os diferenciais do desfile da Vila Maria de 2026 em relação aos lembrados pela reportagem e outros tantos, Vinícius também foi bastante explicativo: “Com toda a sinceridade e com toda a humildade, já começa com esse nome. É um nome fortíssimo: ‘Do chão que alimenta a culinária que encanta. Brasil, um banquete de sabores’. Isso aí, modéstia à parte… eu não canso de me arrepiar toda vez que eu falo e ouço. Mas eu sei que o maior diferencial vai ser essa comunidade. Disso eu tenho certeza. Essa comunidade aqui, graças a Deus, abraçou esse projeto com tanta humildade, com tanta força, com tanto entusiasmo, que eu tenho certeza que eles vão ser o maior diferencial na avenida desse espetáculo, desse desfile”, comentou.
Clamor pela arte
Durante a entrevista, Vinícius Freitas aproveitou para falar sobre critérios de julgamento – tema recorrente no universo do carnaval paulistano: “Só esperamos que o carnaval de São Paulo preze pela arte e julgue a arte. Para que ele não faça apenas uma conferência de certo ou errado. Senão, quem perde é o artista. O artista não pode pensar assim: ele tem que apresentar o melhor, ele tem que apresentar espetáculo. Afinal, o que o brasileiro tanto fala é que o desfile das escolas de samba é o maior espetáculo da Terra. E, infelizmente, o critério do carnaval de São Paulo está indo por esse lado. O carnaval é uma competição, mas o título é uma consequência. Você tem que apresentar o melhor espetáculo possível. Você tem que valorizar as pessoas que vão assistir – e elas querem ver coisas bonitas, querem ver criatividade. Não querem ver se está certo ou errado, pasta debaixo do braço. Isso aí, para mim, desculpa o palavreado, chega a ser medíocre. Eu tenho certeza que o carnaval de São Paulo vai, agora, prezar a questão do espetáculo, a questão da criatividade, a questão da arte. É isso que a Vila Maria, com toda humildade, com muito trabalho, vai buscar levar para a avenida”, vociferou.
Ideia
Nomes importantes da Vila Maria são os responsáveis pelo enredo em si. O primeiro deles, obviamente, é Vinícius. Ele, entretanto, citou outras pessoas: “O enredo veio do vice-presidente Marcelo Rocha. Nós nos unimos junto com o meu enredista, para montar esse enredo. Senti que era o momento porque é um enredo leve, é um enredo solto”, destacou.
Quem deu mais detalhes a respeito foi Júlio César Dias Alves, popularmente conhecido como Queijo, diretor de Carnaval e de Harmonia da agremiação: “Na verdade, teve uma ideia do vice-presidente, mas é uma ideia conjunta. Foi uma ideia dos dois, que foram criando essa ideia. A família do vice-presidente teve essa ideia junto com ele e, nesse caminho, tudo foi construído junto com o Vinícius… algumas pessoas foram construindo”, destacou.

Adílson José de Souza, presidente da instituição, confirmou a história: “No término de um carnaval já se é pensado no próximo tema. Nessa discussão de qual seria um tema ideal para a nossa escola, o Marcelo já tinha isso com ele. Apresentamos o tema ao carnavalesco e teve uma aceitação de primeira ordem do Vinícius. Com a técnica dele, com a disseminação de arte que ele tem, ele desenvolveu e montou toda uma estrutura que vai unir essa parte cultural com a parte prática para ter uma resposta do que é o encanto do desfile de carnaval”, refletiu.

Aprovação total
O próprio Queijo destacou a diversidade gastronômica brasileira para defender a temática: “O vídeo mostrou muito o que é o enredo. A gente está falando que a gente adotou alguns continentes para a gente falar da comida cotidiana. Tudo que planta, por aqui, dá. O nosso chão é bem rico no Brasil. Todo mundo olha para o Brasil pela diversidade de alimentos. Tudo isso me encanta pela riqueza que vai ser no dia do Anhembi, vai ser diverso, todo mundo está pensando o que ser que vem por aí. E vai ter uma riqueza múltipla de vários continentes que nós adotamos como uma culinária nossa – que faz sucesso hoje no mundo inteiro”, destacou.
O diretor mostrou-se confiante na disputa do Grupo de Acesso I com a temática: “Se Deus quiser (e Ele quer), é com esse enredo que voltamos ao Especial, porque aqui tem muito trabalho. A gente teve um acerto muito grande no enredo e, agora, é para a gente acertarmos num bom samba. Nossa comunidade, hoje, mostrou que já está todo mundo aí, que a nossa equipe trabalha com os Harmonias, com a diretoria, com todo o elenco da escola – e está todo mundo preparado. É acertar um bom samba e trabalhar. Não tem segredo! O segredo da vitória é trabalhar. Sempre. E aí, se Deus quiser, ano que vem, estaremos lá em cima de novo”, observou.
Adílson também gostou do que virá: “é um enredo muito cultural, um enredo que vai falar da base de um povo, de um país que tem na sua essência a condição de melhores alimentos do mundo. Quando nós falamos que o Brasil é um banquete de sabores, é uma verdade muito grande. Graças a Deus somos privilegiados e vivemos isso. Esse banquete, a cada região, a cada lugar, tem a sua identidade, tem a sua cultura, tem a sua forma de ser. Sofremos influência mundial em relação à culinária. E, hoje, temos nesse Brasil imenso vários pratos, sabores e bebidas que encantam. Todos que ouvirem falar do enredo, de alguma forma, terão na boca algum lugar do nosso Brasil, já que o desfile vai remeter a alguma refeição que foi feita e que ficou marcada na memória, na essência de cada um”, finalizou.