Buscando a correção nos quesitos, a Nenê de Vila Matilde desfilou neste domingo (02 de março) no Sambódromo do Anhembi, sendo a sexta a se apresentar no Grupo de Acesso I. Com excelente apresentação de Edgar Carobina e Graci Araújo, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Quartel General de Bamba. A águia, símbolo da agremiação, também teve destaque por vir em dois momentos cruciais da apresentação: no abre-alas (em um azul que a destacou bastante) e no último carro (neste, em tons terrosos). A apresentação inteira teve 58 minutos.
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Sempre presente em tudo que envolve escolas de samba, o CARNAVALESCO traz a análise do desfile da onze vezes campeã do carnaval paulistano:
Comissão de Frente
Com o nome “O Encontro da Arte”, os componentes cumpriram muito bem o papel de apresentar o enredo da escola. Com um personagem vestido de trovador (segurando um alaúde), um de bufão (popularmente conhecido bobo da corte) e os demais de artistas mambembes. Coreografados pelo diretor artístico da Comissão de Frente, Fernando Lee, os componentes executaram uma coreografia animada e que tinha como objetivo mostrar um pouco do desfile que estava se iniciando. Vale destacar que o tripé, intitulado “Carroça Medieval”, tinha pouca participação no resultado do segmento.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Primeiro casal da agremiação, Edgar Carobina e Graci Araújo desfilaram com uma fantasia chamada “Rei e Rainha Medieval” – que também já deixa claro qual era o papel desempenhado por eles na exibição.
Inteiros nas cores azul e branco e com uma indumentária com brilhantes estrategicamente posicionados que tornavam a roupa de muito bom gosto. A dupla, formada por profissionais bastante experientes e de alto gabarito, não surpreendeu: dançou muito bem, com Graci executando os giros com maestria e Edgar a cortejando muito bem – além do cada vez mais afiado samba no pé.
Enredo
De maneira bastante resumida, a Nenê de Vila Matilde falou sobre festejos populares brasileiros e a raiz comum de todos eles- tradições da Idade Média. Nessa linha cronológica bastante ampla, existem alguns fatos bastante relevantes que permeiam a temática: o clássico livro “Os Doze Pares da França” que falava sobre a guarda pessoal de Carlos Magno; e o Movimento Armorial, criado por Ariano Suassuna, para valorizar a cultura brasileira – e já reconhecendo o medievalismo em cada uma delas.
Dividido em três setores, o primeiro tem o nome de “Um Quê de Poesia” e fala sobre a era medieval e o trovadorismo. Depois, é a hora do setor “Um Tanto de Magia”, que mostra a influência do medievalismo em representações folclóricas brasileiras. Por fim, aparece o segmento “A Arte de Encantar o Imaginário Popular”, fincando raízes no país.
Alegorias
O abre-alas, “Era do Trovadorismo”, obviamente foi inteiro inspirado na Idade Média e possuía esculturas e itens que remetiam ao período em questão – além, é claro, da indefectível águia, símbolo da agremiação. Quase que inteiramente azul (incluindo a mascote), o carro trouxe boas soluções plásticas. O segundo, “Trupe de Artistas”, enquanto começa a mescla entre festejos brasileiros e inspirações medievais, tem uma estética bem mais colorida. Por fim, a última alegoria, “Relicário Armorial”, deixa explícita a retomada da cultura brasileira proposta pelo movimento criado por Ariano Suassuna. A surpresa no último carro é a presença de outra águia: se a primeira inicia a viagem, a segunda conclui – na tonalidade marrom, tal qual a alegoria, com temática nordestina.
Fantasias
Majoritariamente exaltando movimentos medievais (como guardiões, nobres da corte e damas da Idade Média) e brasileiros (tal qual a cavalhada e as congadas), o grande mérito do conjunto de fantasias foi a simples assimilação para quem conhece cada uma das manifestações. Outra mescla muito bem pensada pela escola foi a altura de costeiros – algumas eram mais altas, enquanto outras tinham um teto menor. O que não falhava era o volume: todas tinham alguma representação e muitas tinham adornos – o que também ajudava no quesito Evolução. É importante destacar, porém, a lindíssima indumentária da Ala das Baianas: chamada de “Damas da Idade Média”, elas traziam o tradicional azul da Vila Matilde para o desfile da Nenê.
Harmonia
Historicamente, escolas de samba da Zona Leste de São Paulo são conhecidas pela força do chão das comunidades. A Nenê, terceira maior campeã do carnaval paulistano e grande vencedora do “Lado Leste”, novamente não decepcionou em tal aspecto. Mesmo com o potente sistema de som do Anhembi, era possível ouvir o samba ressoando no Anhembi.
Evolução
Com boa presença de fantasias volumosas, a movimentação dos componentes da escola criou uma dinâmica interessante na avenida – e a comunidade em geral se mostrava satisfeita com o que estava sendo apresentado. Houve, entretanto, um momento que pode ser mal interpretado pelos julgadores: enquanto o casal de mestre-sala e porta-bandeira se apresentava no segundo módulo, a ala à frente não parou de evoluir – criando um espaço próximo das seis grades, limite para não ser considerado passível de penalização.
Samba-Enredo
Dividindo opiniões entre quem acompanha o carnaval paulistano, a canção optou por mesclar alguns versos mais poéticos com outros mais objetivos. Vale destacar que, tal qual o enredo, a canção é escrita na visão da Águia, mascote da agremiação, que percorre locais e eras diferentes para contar a própria visão de tudo que viu e aprendeu. Como é de praxe, a obra teve excelente interpretação por parte de Agnaldo Amaral e foi muito bem sustentado pela Bateria de Bamba, sob o comando de Matheus Machado.
Outros Destaques
Reinando absoluta na frente da Bateria de Bamba, a rainha Gabriela Ribeiro.