Primeira escola a passar pela Marquês de Sapucaí no penúltimo dia de ensaios técnicos da Série Ouro, a Acadêmicos do Vigário Geral mostrou a força do seu samba, muito elogiado no pré-carnaval. Compacta, a agremiação trouxe sua comunidade para a avenida e iniciou seu treino por volta de 20h30. Apesar do bom desempenho da obra, buracos e algumas correrias foram perceptíveis em vários pontos diferentes do Sambódromo. * VEJA AQUI FOTOS DO ENSAIO
“A impressão que eu tive é que a escola cantou bem, principalmente a frente da escola, nossa comissão de frente se apresentou muito bem e nossa bateria além do samba funcionou muito bem. Nós ainda temos coisas a melhorar, mas até o desfile vai ficar tudo pronto. Eu quero aprimorar o canto e ver a escola mais compacta. É para a comunidade acreditar e abraçar porque a gente vem para fazer bonito neste carnaval”, afirmou o diretor de carnaval da Vigário, Ney Lopes.
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA
Há pouco mais de dois meses anunciados como o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vigário Geral, Diego Jenkins e Thainá Teixeira mostraram sincronia na apresentação em frente aos módulos de julgamento que durou pouco menos de dois minutos. Trajados em azul que dá o tom no pavilhão da escola e detalhes de estampa vermelha, o casal enfrentou um vento forte durante a execução do bailado, fazendo com que a bandeira dobrasse levemente no final da apresentação. Mas, é notório ressaltar as pegadas seguras na bandeira por parte de Diego e a apresentação bem nítida do pavilhão da Thainá Teixeira. No geral, os dois demonstraram graça e muita conexão em meio à uma bela coreografia, que estava com movimentos limpos. O casal também aparentou calma, sintonia e alegria, se olhando o tempo inteiro. Além dos passos tradicionais, a dupla incorporou passos afro em sua dança.
Thainá Teixeira falou sobre as dificuldades impostas pelo forte vento. “Ventou em todos os módulos, foi impressionante que ao longo da avenida nem ventou tanto, mas era só a gente entrar numa cabine e começava a ventar muito. Eu driblei o vento, mas não sei ao certo como eu fiz. A gente torce para que não venha vento no dia, para que não chova… mas se tiver que ser com vento vai ser, se tiver com chuva também. Na quarta-feira nós estivemos aqui e também ventou muito, aí hoje eu trouxe outra bandeira, trouxe a bandeira antiga de Vigário. Eu vim com ela, porque ela é bem mais pesada que a minha de apresentação, então imaginei que pudesse me passar mais segurança, também molhei ela e é isso… apesar do vento, eu estou muito feliz, porque conseguimos trazer muita coisa que testamos e quero agradecer ao Diego e a todo mundo envolvido”, comentou a porta-bandeira.
“Eu quero agradecer a Deus e a Thainá, porque nós conseguimos fazer absolutamente tudo que temos ensaiado todos os dias. Teve um vento que tentou atrapalhar a gente, mas graças a Deus eu tenho uma porta-bandeira muito eficiente, que me passa confiança e conseguiu driblar a ventania. Para mim foi lindo, foi emocionante e eu estou chegando aqui com a sensação de dever cumprido, porque tudo que a gente ensaiou, consertou e repetiu mil vezes, a gente conseguiu fazer aqui”, revelou o mestre-sala Diego Jenkins.
EVOLUÇÃO
De longe, o “calcanhar de aquiles” da Vigário e o que precisa ser ajustado para o desfile oficial. Houve um grande clarão envolvendo a apresentação do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, desde o primeiro módulo de julgamento até o último, localizado no setor 10. Um espaço muito maior do que o normal foi aberto entre eles e as alas que antecedem e sucedem a dupla. Isso fez com que o ritmo de andamento da escola fosse prejudicado: hora evoluiu regularmente num ritmo constante, hora precisava acelerar os passos de forma brusca, fazendo com que as filas formadas dentro das alas se misturassem. O segundo casal da escola também precisou se revezar por toda a avenida entre compensar o grande buraco deixado, ou pedir espaço porque estava sendo estrangulado pelas alas. Alguns adereços de mão como bexigas nas cores da agremiação e pompons também ajudaram algumas alas nas coreografias e trouxeram maior movimento.
HARMONIA
Apesar do excelente samba, algumas alas da escola não aproveitaram o ensaio para cantá-lo. A escola passou sem que fosse notada alguma cola, no entanto, os componentes passaram cantando pouco, exceto pelo refrão principal que era cantando com força. Durante o treino, era possível observar alguns componentes da ala, que veio na sequência do tripé que representava o abre-alas, conversando e com celular na mão, ao invés de entoar a obra. Entretanto, a ala dos compositores cantou forte o samba por inteiro, assim como a ala das baianas, das passistas e a ala dos escravos, ala que também tinha coreografia bem ensaiada. Da concentração até a praça da apoteose, os componentes fizeram bonito e entoaram com força e muita garra a obra para o carnaval de 2022.
SAMBA-ENREDO
Comandado por Tem-Tem Jr, o carro de som da Vigário Geral deu show na Marquês de Sapucaí. O samba, que contou com a participação de Xande de Pilares na gravação, auxiliou a bateria na sustentação e manteve o andamento durante todo o desfile. De longe, o refrão possui uma pegada forte e é o ponto de explosão para a escola. Os versos Atabaque evocou orixá no Ilê / E o ponto firmou no toque do alabê / Pequena África… Raiz cultural / O samba resiste na Pedra do Sal levantaram a plateia presente no Sambódromo. O intérprete Tem-Tem Jr analisou o rendimento da obra no ensaio.
“Eu acho que foi muito forte em relação a forma com que a gente esperava, até um pouquinho mais. É um samba muito resistente, não cai nenhum minuto. Eu acho que o povo percebeu a cadência. A conexão do carro de som com a bateria é uma sintonia excelente. Minha escola, passando com muita alegria. Estou emocionado. “Um samba muito aclamado pelo povo. Vocês podem ver pela internet, sempre com muitos elogios, graças a Deus. Os carnavalescos foram muito felizes na escolha do enredo e os compositores mais ainda na feitura da obra. Eu só tenho que agradecer a toda equipe”.
BATERIA
Comandada pelo mestre Luygui Silva, a bateria da Vigário Geral apresentou um belíssimo trabalho em seu ensaio na Sapucaí. Com bossas que elevaram a potência do samba, o andamento foi mantido do início ao fim. Foi possível perceber cada um dos instrumentos e em nenhum momento a bateria atravessou o carro de som. À frente da bateria estava a rainha Egili Oliveira que esbanjou samba no pé. Vestida com as cores da escola e um belo adereço dourado na cabeça, a beldade mostrou estar preparada para o carnaval e atendeu público e imprensa com muita simpatia. Damásio dos pratos, famoso por desfilar em outras escolas como a Mocidade Independente de Padre Miguel, também estava presente. Mestre Luygui revelou que a “ Swing Puro” virá com 220 ritmistas para o desfile, além de explicar as bossas e convenções que pretende fazer.
“Uma avaliação muito positiva, mas não foi 100%, não foi 10 e eu acredito que o 10 nós vamos buscar no dia do desfile. Temos que melhorar pequenos detalhes, mas o ensaio foi muito produtivo, foi muito bom. Digamos que estamos 99% prontos para o desfile e até o desfile, a gente chega a 100%. Nós vamos apresentar essas duas convenções que fizemos aqui hoje, para valorizar mais o samba, ditar mais o ritmo dele, que é muito bom e é um dos melhores do carnaval. Então, a gente nunca trabalha só pensando em nós mesmos, a gente trabalha pensando na escola, no conjunto”.
OUTROS DESTAQUES
A ala de passistas, além de evoluírem muito bem, sambaram ao longo de todo o percurso pela avenida. Destaque para a roupa confeccionada em estampas que remetiam à África. A velha-guarda da escola também passou bonito logo na frente do primeiro tripé de alegoria, que são três ao todo.
Vale destacar também a bravura da comissão de frente em uma coreografia marcante e muito bem ensaiada. A apresentação durou dois minutos e trouxe 15 bailarinos, que esbanjaram muita energia, vestidos com saias coloridas e rostos maquiados de branco. A coreografia mostrou algumas referências de atividades características dos ancestrais, como por exemplo: passos de danças afro, movimentos característicos de religiões de matrizes africanas, referência ao ritual de incorporação que é visto nos terreiros de candomblé e umbanda, etc. A Vermelha, Azul e Branca da Zona Norte presenteou o público com uma ala das baianas vestida no tradicional branco que destacava as guias e patuás que vinham no pescoço das componentes da ala e adereços multicoloridos em suas cabeças
Com o enredo Pequena África: Da Escravidão ao Pertencimento – Camadas de Memórias entre o Mar e o Morro, a Acadêmicos do Vigário Geral será a sexta escola a desfile no segundo dia de desfiles da Sério Ouro em 21 de abril, feriado de Tiradentes.
Participaram da cobertura: José Luiz Moreira, Walter Farias, Leonardo Damico, Gabriel Gomes, Lucas Santos. Fotos de Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO