O Arranco, escola muito marcada pela força feminina, levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “Mães que alimentam o sagrado” da carnavalesca Annik Salmon, que chegou após o Carnaval de 2024. O CARNAVALESCO conversou com a carnavalesca Annik Salmon, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Falcão e Laryssa Victória, e a presidente Tatiana Santos. Annik Salmon contou que quando foi convidada pela presidente para ser carnavalesca do Arranco, ela tinha uma ideia de enredo em mente.
“E a gente conversando muito ela me trouxe uma outra contraproposta, de uma outra abordagem. Eu fui para casa, pensei e ela também foi pensando no assunto que eu levei, do tema que eu levei. Fui pra casa, pensei muito e esse enredo surgiu meio que como uma intuição, como um sonho. E eu trabalho muito assim. Esses carnavais que eu fiz solo, eles meio que surgem de uma intuição, de algo que eu acho que está predestinado, digamos assim. E no dia seguinte, quando encontrei com ela eu falei: ‘Tati, aquela ideia que você estava querendo, eu pensei nesse enredo’, e ela amou. Ela amou porque foi um enredo que eu vim estudando a escola, eu vim estudando quais são as características da escola, o que a escola vem apresentando de temática dos últimos carnavais. É um enredo que fala muito de mim também, do que eu sou, carrego comigo, que tem muito a ver com o Arranco. E foi um casamento perfeito. Eu acho que vai ser um sucesso, a escola está muito feliz com o desenvolvimento, com todo o trabalho que foi feito. Se Deus quiser vai ser um sucesso para o carnaval”.
Annik comentou também sobre o retorno à Série Ouro após dois anos no Especial, e como ela enxerga a importância de fazer carnaval, estar presente na folia, independente de qual grupo: “Eu acho que importante hoje, ainda mais eu como mulher, o importante é eu estar no carnaval. O importante é eu estar atuando, eu estar podendo mostrar o meu trabalho e a minha arte. Hoje a gente ainda fala: ‘Mas você está no Grupo de Acesso, você está na Série Ouro’, não importa, é o lugar onde a gente tem como a gente mostrar o nosso grande trabalho, o que eu dediquei a minha vida, o que eu estudei. E eu estou muito feliz por eu estar aqui, por eu ter essa oportunidade. E é uma escola que eu conhecia de assistir os desfiles, mas eu não conhecia essa família que é Arranco e é uma escola que abraçou muito e eu digo: é realmente uma família. Eu acho que era o que eu precisava, era ser abraçada por essa comunidade, por essa direção da escola que é montada por uma família, que é principalmente montada por uma presidente, que é uma mulher de um caráter ímpar. Eu fiquei muito feliz disso e eu acho que o importante, não importa se a gente está no Especial um ano, se a gente está no Acesso, eu acho que o importante, a gente como artista, a gente estar trabalhando, a gente está podendo atuar com dignidade”.
A carnavalesca falou também sobre o resultado do último carnaval onde ficou em sétimo lugar, na Mangueira, não retornando no desfile das campeãs. Annik ressaltou também a questão da subjetividade dos jurados: “A gente sempre trabalha e faz de tudo para acertar, para ser o melhor, para a gente ficar nas cabeças, não ser campeã, mas ficar ali entre as campeãs. Só que a gente não consegue entender cabeça de jurado, é uma caixinha de surpresa que a gente não sabe. Tem muitas coisas que às vezes me perguntam: ‘Por que o jurado tirou essa questão desse ponto em fantasia?’. Vou até dizer um ponto de uma fantasia que era a fantasia ‘O Sufoco’. Que foi uma fantasia que eu e o Guilherme a gente se dedicou a criar, foi uma fantasia realmente feita a quatro mãos que um fez, depois o outro foi para casa e a gente levou e foi pensando junto para ter uma identidade visual que a gente conseguisse interpretar essa questão do sufoco, que não é uma coisa palpável, mas que a gente conseguisse passar o que era esse sentimento e o que a música falava, e de uma forma criativa, que foi uma fantasia que foi muito bem elogiada antes nos bastidores. E quando o jurado me tira um ponto dizendo que não foi bem entendida, sinceramente eu não sei o que ele conseguiu enxergar ali ou não enxergar ali. É sempre uma caixa de surpresa, mas a gente, como artista, tenta acertar, mas nem todo ano a gente acerta, a gente erra”.
A artista ressaltou também a importância das divisões de uma escola na construção do carnaval: “A escola não é só toda em função de um carnavalesco. No desfile a gente tem direção de carnaval, direção de barracão, tem toda uma galera por trás que monta o desfile. A cabeça cair de uma escultura não é culpa do carnavalesco. Tem todo um projeto, tem toda uma estrutura para a gente fazer aquele carro descer, aquele carro subir até chegar na concentração, tanto que ela chegou intacta, e de repente tudo vira culpa do carnavalesco. O carnaval, infelizmente, é assim. E a gente está nesse meio, a gente sabe disso. Mas é assim, a gente procura todo ano acertar, mas nem sempre acerta”.
Diego e Laryssa falaram como chegaram na escola. Laryssa foi sucinta contando como o convite surgiu: “Comigo foi através da presidente Tati. Ela me mandou mensagem pedindo para gente conversar, para possível ser primeira porta-bandeira do Arranco”.
Diego contou que o retorno para a agremiação já veio sendo conversada há mais tempo, e que é uma alegria muito grande retornar: “Meu namoro com Arranco, a volta, já tem uns dois anos. A gente chegou a sentar e conversar há uns dois anos atrás, não deu certo, mas tudo acontece no tempo certo, e hoje eu estou aqui com a Laryssa. É um prazer enorme estar voltando a minha casa depois de 20 anos fora do Arranco do Engenho de Dentro, primeira escola que eu defendi na minha carreira. E é um prazer muito grande estar aqui de volta”.
Diego continuou comentando as características que já foi descobrindo na nova parceira de dança, em menos de dez dias de ensaio até a apresentação, inclusive uma que partilham entre si, e com as quais Laryssa concordou plenamente: “Eu vou te falar que é uma parceria nova e toda parceria nova tem o lance da descoberta. A dança do mestre-sala e porta-bandeira é um eterno namoro. E quando a gente começa a dançar com a porta-bandeira nova é um começo de um namoro, é um começo de um encantamento um pelo olhar do outro e uma coisa que é característica nossa, que eu já consigo identificar como característica nossa, é o olho no olho. Graças a Deus, é uma parceria que fluiu, que não teve aquela dificuldade do começo, de encontrar, de achar, as coisas foram fluindo, não teve essa dificuldade de um primeiro momento”.
O mestre-sala também comentou sobre a importância de estar numa escola que possui uma grande força feminina dentro de sua estrutura: “Eu acho que é um diferencial da escola, inclusive. Aqui o comando é majoritariamente feminino e eu acho que isso reflete no trabalho do quesito e do cuidado que tem com as pessoas na escola, que é aquela coisa de mãe, aquele carinho”.
Por fim, ambos falaram sobre a questão dos estilos de dança, entre partes mais tradicionais e outras mais modernas dentro do bailado dos casais, com Diego ressaltando que a junção de ambos pode ser um caminho: “Sem querer dar spoiler e sem querer dizer a minha idade, eu tenho mais de idade de carreira do que ela de vida e eu acho que isso é muito legal, porque ela vem trazendo um frescor da juventude e eu venho com uma bagagem de experiência. Eu acho que isso é o que o jurado acaba querendo. Ele quer uma inovação, mas ele também não quer deixar de ver o tradicional de um mestre-sala e porta-bandeira. Eu acho que é isso que o povo pode esperar da gente”.
Laryssa concordou com o parceiro, destacando o quanto de sintonia ambos possuem: “Quando a gente começou a conversar sobre, conversamos sobre isso: o que cada um gosta. E poder dançar com Diego me dá a tranquilidade de que eu gosto também do tradicional. Sou uma menina nova, gosto de uma modernidade, mas eu tenho a minha paixão pelo tradicional. Quando a gente conversou, eu vi que as nossas ideias batiam, eu: ‘ufa!’ Eu estou bem tranquila, nos ensaios a gente dançou, dançou e fluiu”.
A presidente Tatiana Santos também comentou sobre os preparativos para o Carnaval de 2025. Ela iniciou falando sobre a vinda de Annik Salmon, e que foi o primeiro pensamento da escola após a saída de Nícolas Gonçalves, pela escola ser uma escola com empoderamento femino. Em seguida, ela também citou sobre a saída de Nícolas, considerado uma grande revelação do carnaval de 2024, e falando sobre o desfile: “Foi uma coisa que abrilhantou o carnaval do Rio de Janeiro, posso falar do mundo, porque a gente mexeu com uma coisa que é ligada ao nosso coração, que é a saúde mental. O Nícolas desenvolveu um carnaval maravilhoso e foi de ambas as partes não permanecer. Ele queria, foi mais dele do que do Arranco, ele queria seguir novos horizontes, ele queria buscar novos caminhos, oportunidade. Como eu falo a todo momento, o Arranco é uma escola que lança talentos e eu tenho muito orgulho disso. Estou torcendo muito por ele na Tucuruvi, para que ele faça um carnaval brilhante lá”.
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Tatiana entrou em detalhes também sobre como Annik foi o nome chegado para comandar o carnaval da escola, e tocar o enredo: “Depois da saída do Nícolas toda a diretoria pensou justamente nisso, no nosso entendimento do pensamento do que a gente queria para 2025, e a primeira ideia foi ter uma carnavalesca feminina, uma carnavalesca mulher. Mas a gente teve no meio do caminho ainda uns percursos difíceis, porque ela estava negociando com outra escola. A gente também conversou com outros carnavalescos, mas Deus, com toda a sua sabedoria, mudou tudo e a gente conseguiu ter a nossa primeira opção, que era a Annik e hoje a gente está lançando um enredo feminista de uma mulher maravilhosa que é a Annik”.
Tatiana também comentou sobre a importância dos intérpretes Pâmela Falcão e Thiago Acácio para a escola. “Um dos meus maiores orgulhos dentro da escola. A Pâmela foi uma menina que saiu da bateria, cantando em uma roda de samba, e eu me apaixonei pela primeira vista. Fiz o convite para ela vir para o carro de som do Arranco e fez um trabalho, ficou comigo na Intendente, depois foi comigo para Marquês de Sapucaí e aí veio o Thiago. Thiago veio com um coração aberto pelo Arranco e é um encontro de almas para mim, porque as vozes deles como se encontraram foi verdadeiramente a voz do Arranco. Hoje, Thiago e Pâmela, eles têm o símbolo do Arranco, as vozes deles são emblemáticas. Quando eles abrem a boca para falar, a família Arranco se emociona”.