Por Naomi Prado e Will Ferreira

A escola que venceu o Estrela do Carnaval — premiação organizada e concedida pelo CARNAVALESCO — na categoria “Samba-enredo” em 2025 apresentou, de maneira oficial, a canção para o desfile de 2026. Intitulado “Oro Mi Maió Oxum”, o samba da Barroca Zona Sul será assinado por Pedro Alexandre, popularmente conhecido como Magoo, com composição de Thiago Meiners, Sukata, Morganti, Claudinho, Fernando Negão, Shumacker, Valencio, L. Santos, Daniel Paixão, Léo PZ, Beto Savanna, Wilson Mineiro e Tubino. Marcando presença na apresentação do samba-enredo, o CARNAVALESCO esteve na Arena Neguinha, quadra da Faculdade do Samba, no Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, e ouviu diversos personagens importantes da agremiação.

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Fotos: Naomi Prado e Will Ferreira/CARNAVALESCO

Dia cheio

Como é tradicional nas escolas de samba, a canção para a próxima temporada foi revelada durante uma feijoada. Com show do projeto Quintal da Barroca, apresentação das passistas dirigidas por Val Diniz e exibição do grupo Ideia Maluka, com participação de Pinha Presidente, a Faculdade do Samba mostrou força desde a apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira mirim da agremiação, formado por Gabriel de Barros e Domênica da Costa.

Após o hino da escola e a apresentação da bateria Tudo Nosso, comandada por mestre Fernando Negão, o samba-enredo “Os Nove Oruns de Iansã” — premiado em 2025 — também foi executado. Para entrar no clima da orixá que será a temática da escola em 2026, a Confraria Olosuns, formada por filhos e filhas de Oxum, também se apresentou na Arena Neguinha. Em seguida, houve a apresentação do novo segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, Luan Alencar e Fernanda Medeiros (que foi a terceira dupla em 2025).

Após a apresentação do samba-enredo para a comunidade e o mundo do samba paulistano, ainda houve tempo para um show com seis intérpretes convidados: Tinga, Pixulé, Renê Sobral, Rodrigo Xará, Agnaldo Amaral e Chitão Martins encerraram a noite com clássicos do carnaval paulistano.

Dinâmica aprovada

Com poucas alterações, a parceria que assina os sambas-enredo do Barroca Zona Sul há cerca de uma década segue firme. Quem explica é Thiago Meiners, um dos autores de mais uma obra da Faculdade do Samba: “Acredito que tudo é uma construção. Esse é meu décimo samba no Barroca e, se a escola não estivesse feliz com os resultados anteriores, não teria mantido a parceria conosco. O que construímos aqui dentro não é só sobre composição: hoje, a parceria se sente parte da família da escola. Eles acreditam muito no nosso trabalho — e isso, com o tempo, vai se comprovando. Eu sou do Rio de Janeiro, mas digo para todo mundo, inclusive lá, que a minha escola é o Barroca”, revelou.

Ele próprio fez questão de relembrar outro samba marcante da história da agremiação — “Okê Arô”, de 2019, com o qual a instituição foi vice-campeã do Grupo de Acesso I e retornou à elite da folia paulistana: “O Barroca, no ano passado, talvez não tenha tido o melhor samba, mas certamente teve o mais cantado pela arquibancada. Desde que falou de Oxóssi, o Barroca tem tido, se não o melhor, um dos melhores sambas dos grupos em que está. Isso reforça a confiança no nosso trabalho”, refletiu.

Sempre sucinto, Fernando Negão — mestre de bateria e também compositor — concordou com o parceiro: “O processo de composição foi semelhante ao do ano passado. São os mesmos compositores, a mesma galera que fez. E vamos com mais um samba belíssimo para o Anhembi”, destacou.

O carnavalesco da escola também fez elogios: “Essa dinâmica do Barroca me agrada bastante. Quando escrevi a sinopse após a pesquisa, já imaginei a parte plástica, os carros alegóricos, o roteiro. Pensando no samba, já destaquei que determinada parte daria um refrão, por exemplo. É muito legal a conversa que temos com os compositores. Eu explico a ideia, eles fazem a primeira entrega, a diretoria avalia e sugere ajustes. É importante estar integrado ao enredo desde o começo. Não tivemos problemas com refrões fora do enredo ou trechos fora de ordem. O próprio samba já foi feito em cima do nosso projeto. Houve uma integração muito bacana entre compositores e escola”, detalhou Magoo.

Dodô Ananias, um dos intérpretes da verde e rosa, também elogiou a forma como a escola escolhe seus sambas: “A parceria que faz os sambas encomendados do Barroca é a mesma há muito tempo, então já existe uma sinergia com o presidente Cebolinha e toda a diretoria. O presidente dá liberdade, autonomia, mas também pondera quando algo não agrada. É um processo normal de qualquer encomenda”, comentou.

Já na ponta da língua

Diversos personagens importantes aprovaram o samba-enredo. A começar por Ewerton Rodrigo Ramos Sampaio, o Cebolinha, presidente da escola: “A gente fez mais um samba que carrega a energia lá pra cima. Acho que o samba, para a história que o Barroca vai contar, vai emocionar muito. Estou bastante contente. Acho que a gente acertou de novo. Vai cair na boca do povo”, refletiu.

Rafael Roberto dos Santos, o Tinguinha, que estreará no microfone principal em 2026, exaltou a obra: “Confesso que já me apeguei muito a ele. É um sambão! Acredito que estará entre os melhores do carnaval de São Paulo mais uma vez.”

Dodô, que chega ao segundo ano como intérprete da escola, também opinou: “A expectativa para 2026 aumentou. No ano passado, tivemos o melhor samba do carnaval. No ano anterior, eu já dizia que o Barroca estava no top 3, mesmo sem ter ouvido os demais. Para 2026, te garanto que estaremos no mínimo no top 5. É uma proposta diferente, mas muito boa, muito bonita, e atende às expectativas da escola”.

Responsável pela pesquisa do enredo, Magoo aprovou o resultado final: “Sou suspeito para falar, porque gostei muito. Desde o início, gostei. A aceitação da comunidade também foi ótima. Fizemos um ensaio à noite na quadra e eles aprenderam mais rápido do que o samba de 2025. O astral foi lá em cima! Estou animadão! O raio caiu duas vezes no mesmo lugar!”, empolgou-se.

Angélica Barbosa, da Comissão de Carnaval, destacou a agilidade do trabalho: “O samba me agradou muito. Vai ser mais um super pra cima, uma porrada. A escola tem essa vibe de enredos religiosos, e isso é muito positivo. O público da escola aceita muito bem. Estamos felizes e já trabalhando bastante. Nosso barracão está a mil. O lançamento do samba marca o início, e logo começam os ensaios pra valer”.

Inspiração autorreconhecida

Os compositores também destacaram a força da canção: “Não sei se é bom ou ruim, mas a expectativa para 2026 aumentou muito. Em 2025, não esperávamos tanto sucesso. Já para 2026, o samba foi para o estúdio pronto, aprovado e todo mundo apaixonado. Na minha opinião, o samba de 2026 é melhor que o de 2025 — mas não posso prever o que vai acontecer”, comentou Meiners.

Fernando Negão também aprovou: “Gostei bastante do resultado final. O samba ficou maravilhoso. Foi um dos que fizemos de bate-pronto. Já mandou, já gostou, já encaixou. Realmente, está maravilhoso.”

Para evitar sustos

Mesmo com um samba elogiado, o Barroca foi despontuado no quesito em 2025. Das quatro cabines, teve duas notas máximas e dois 9,9 — um descartado. Meiners comentou:
“Acredito que o julgamento em São Paulo é difícil de trabalhar. Sei que há esforço para melhorar. Houve sim uma preocupação. Concordo com a justificativa, mas não com a penalização apenas do Barroca. Este ano, nos preocupamos mais com o regulamento. Tudo que está no samba — como palavras em iorubá — será justificado”.

Dodô também fez apontamentos: “Não há subjetividade no julgamento. Os três melhores sambas (Barroca, Gaviões e Tucuruvi) foram penalizados. Este ano, tivemos outra estratégia: o samba já estava pronto há dois meses. Até a gravação, ficamos só ajustando detalhes para não sermos penalizados. Teremos muito trabalho com a comunidade para intensificar o canto e evitar perdas”.

Refrão (queridinho) falso

Assim como em 2025, a parceria apostou em um refrão falso com palavras em iorubá. Se na canção sobre Iansã ele vinha após o refrão de cabeça, em 2026 ele virá antes. Essa parte foi destacada por muitos: “Temos uma parte que é um bis e é a minha preferida. Mas o samba por completo é excelente”, disse Tinguinha.

Meiners concordou: “Gosto muito do bis do refrão, inspirado em um ponto de Oxum — assim como o de Oyá em 2025. Os sambas do Barroca não têm a cara do carnaval de São Paulo, lembram os que compus no Rio. Mas o pré-refrão e o refrão principal são minhas partes preferidas”.

Calendário lotado

Angélica destacou que o lançamento do samba marca o início de uma sequência importante: “No próximo sábado, temos a feijoada da Velha Guarda. Em 10 de agosto, aniversário da escola — no Dia dos Pais, com convite para pais e filhos celebrarem juntos. Os ensaios começam em 14 de setembro”.

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