O Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Octavio Malta, localizado no bairro de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, promove ao longo desta semana o “Festivom 2023 – As Escolas de Samba e seus Enredos Imortais”. Trata-se de um projeto de formação cultural, em que diversos convidados entre pesquisadores, jornalistas e representantes das escolas de samba comparecem até a unidade escolar e compartilham histórias, conhecimentos e vivências com os alunos da rede estadual de ensino. A reportagem do site CARNAVALESCO conversou com o idealizador e desenvolvedor dessa iniciativa, o professor Caio Moraes, que falou sobre como surgiu a ideia.
“Esse projeto se originou através da necessidade de construir modalidades atrativas e culturais para os alunos do Ciep, constatado que o acesso aos meios culturais dos nossos alunos é muito limitado. Esta construção não possui a intenção de criar uma prática apenas de entretenimento, mas utilizar a cultura como uma forma de construir valores e conhecimento. O projeto possui uma organização direcionada ao objetivo de instigá-los e estimulá-los a uma nova postura diante do contexto escolar. Postura esta que compreende análise de seu papel integrador, consciência da importância de uma educação de qualidade e ligada à realidade social do aluno, motivação pessoal e conhecimento cultural. A arte, enquanto dimensão do conhecimento, embasamos, assim, parte desse projeto na construção da significação artística, contribuindo em sua correlação com outras áreas do conhecimento, estabelecendo parâmetros entre o fazer artístico com a emancipação humana. Para isso, nada melhor do que falar sobre a história do samba e a história do Carnaval”, declarou o professor.
Na conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, Caio Moraes exaltou a importância de fomentar nos jovens o desejo de conhecer mais da cultura do samba e da folia. “Ao verificar que o acesso dos nossos alunos aos meios culturais é muito limitado e verificando que eles desconhecem a história do samba, ou seja, desconhecem a história do Carnaval carioca, não enxergando estas manifestações como pertencentes a sua identidade, procuramos resgatar essa identificação cultural através do projeto. Fiquei preocupado porque percebi que o samba está um pouco fora do ‘radar’ dos nossos jovens. Uma das maiores riquezas culturais existentes no Brasil é justamente as escolas de samba do Rio de Janeiro. É incrível que não tenhamos a cultura de debatermos e estudarmos os sambas-enredo em sala de aula, uma vez que a grande maioria dessas obras traduzem a realidade da nossa sociedade. Sambas como Dom Obá, que possui versos como ‘no Rio de lá luxo e riqueza/no Rio de cá lixo e pobreza’, criam imensas possibilidades de discussões sociológicas. E por que não trabalhar ‘Liberdade! Liberdade…’, o grande poema ‘Aquarela Brasileira’ de Silas de Oliveira ou questionar como diz o trecho ‘livre do açoite da senzala, preso na miséria da favela’ que a Mangueira levou para a Avenida em 1988? São inúmeras as possibilidades de estudos e reflexões com valor pedagógico e histórico”, afirmou.
“Resgatar o interesse dos jovens pelo samba seria a garantia da continuidade cultural da nossa cidade. Se não investirmos nos jovens, se não facilitarmos o acesso deles ao samba e as escolas, se não facilitarmos a participação deles nos desfiles, o samba irá agonizar, como dizia Nelson Sargento. Mas até quando teremos que ver o samba agonizando? Despertar o interesse pelo samba nos jovens é primordial para a continuidade deste legado cultural. Já estamos obtendo grandes ganhos pedagógicos em nossa unidade com esse projeto. Estamos observando uma maior interação entre os alunos que estão debatendo alguns temas relacionados ao Carnaval nos tempos livres. Alguns alunos estão organizando grupos para apresentações musicais dentro da unidade escolar. Descobrimos vários talentos como cantores. Durante esse processo tive o conhecimento de quatro alunos que são passistas em escolas de samba tradicionais como Portela e Salgueiro, mas que não comentavam com os colegas com receio de sofrerem preconceitos, mas que hoje falam com orgulho sobre essas apresentações”, complementou Caio.
O professor ainda relatou que o pontapé inicial no projeto ocorreu em fevereiro deste ano. E, além das palestras, outras ações com os alunos estão previstas para acontecerem ao longo de todo o ano.
“Iniciamos o projeto com os professores apresentando e discutindo a realidade das comunidades cariocas, as suas origens e o surgimento das escolas de samba. Neste momento, percebemos que os alunos não possuíam a percepção do movimento de resistência através do samba, desconheciam a localização de algumas escolas de samba tradicionais, não conheciam os sambas-enredo mais populares… Foi aí que parei e pensei no desenvolvimento de uma semana de formação cultural. Redesenhei o projeto e dividimos em 3 etapas: Estudar as comunidades e as escolas de samba, formação cultural e desenvolvimento das apresentações baseadas em algum enredo e personalidades do samba. Na formação cultural, estamos estudando a história do samba, conheceremos compositores que irão conversar com os alunos sobre as fases de construção de um samba, a preparação de um intérprete, a cobertura jornalística, a história dos sambistas ilustres como Cartola, Candeia, Nelson Cavaquinho, Ivone Lara… Iremos analisar os sambas, filmes e documentários. Parte dos nossos professores estiveram na Cidade do Samba conhecendo o processo de construção do Carnaval para repassar esse conhecimento aos alunos. Alguns professores de física estão trabalhando os mecanismos de movimentação cenográfica dos carros alegóricos, os professores de história debatendo a importância da pesquisa e das fontes… A escola está se movimentando para realizar uma grande culminância no final do ano onde os alunos poderão expor o trabalho desenvolvido”, garantiu.
Como parte da semana de formação cultural, o jornalista Alberto João, proprietário e editor-executivo do site CARNAVALESCO, ministrou uma palestra na unidade, na última segunda-feira, para uma plateia de 80 alunos. Os desafios da cobertura jornalística do maior espetáculo da Terra e a importância de se produzir conteúdo sobre a festa ao longo de todo o ano foram alguns dos tópicos abordados na apresentação.
“Uma honra conversa com jovens estudantes e passar como será a cobertura da imprensa do carnaval. Foi um dia muito especial. O site CARNAVALESCO fará muitas atividades assim e prepara uma surpresa para esse fim de ano”, disse.
A semana de formação cultural no Ciep Octavio Malta vai até a próxima sexta-feira, dia 18 de agosto. Entre os palestrantes que irão passar pelo evento estão o cantor e compositor Paulinho Mocidade, a porta-bandeira da Portela Squel e a compositora Manú da Cuíca, além das escolas Sereno de Campo Grande e Unidos de Cosmos.