Como fazia habitualmente, Dona Neuma Gonçalves almoçou bem, tomou as suas braminhas e foi tirar uma soneca no sofá da sala, onde a porta estava sempre aberta. A casa da filha de Seu Saturnino – um dos fundadores da Verde e Rosa – tinha uma frequência somente comparável à da própria quadra da Estação Primeira, ali ao lado.
Naquela tarde, Dona Neuma foi acordada com alguém batendo no portal, chamando. Sobressaltada, deu um pulo do sofá, procurando os óculos. Enxergou apenas o vulto de um homem, que dizia, timidamente:
– Dona Neuma, sou eu, o Nenê.
Dona Neuma nem percebeu que o escurinho usava chapéu, um terno bem-ajambrado e fazia mesuras, saudando uma das mais importantes figuras da Corte Verde-e-Rosa. Reagiu, contrariada:
– Que pintor?! Eu não chamei pintor nenhum. Pintei minha casa outro dia. Vocês estão pensando o quê? Que eu sou milionária?
O sujeito ficou mais encabulado ainda. Resolveu se aproximar e se identificou:
– Não sou pintor, Dona Neuma. Sou o Nenê, o Nenê da Vila Matilde.
Era o fundador da afilhada paulistana, que vinha pedir permissão para homenagear a Mangueira no enredo daquele ano.