O comentarista Milton Cunha emocionou ao falar sobre a proposta das homenagens realizadas em cada dia das eliminatórias da Corte do Carnaval 2026 do Rio de Janeiro, que neste ano ganharam um novo significado. Em entrevista ao CARNAVALESCO, ele explicou que a ideia surgiu após um período marcado por grandes perdas no mundo do samba e que a intenção é transformar a saudade em celebração e reconhecimento da ancestralidade que sustenta a festa.

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Fotos: Juliana Henrik/CARNAVALESCO

Segundo Milton, a concepção nasceu de uma reflexão profunda. No ano anterior, ele havia sido responsável pela última noite do evento e, ao ser convidado novamente, propôs um formato que destacasse figuras importantes que já partiram, especialmente mulheres que marcaram a cultura popular.

“Foi um período de muitas perdas, como Preta Gil, Rosa Magalhães, Márcia Lage… Diante disso, propus uma celebração da ancestralidade”, contou.

Ele destacou ainda a importância de resgatar a essência do carnaval, valorizando quem vive e faz a festa de dentro, sem ostentação ou distanciamento da realidade das escolas de samba.

“Antes eu sentia vergonha, porque parecia desconectado do universo do desfile. Agora, com esse novo olhar, sinto orgulho. A Corte é o desfile. Eles nasceram e foram criados nesse contexto. O que importa é a essência, a dedicação e o esforço de quem vem das comunidades”, afirmou.

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Milton Cunha com Thuanne Werneck, rainha do Carnaval 2025

A primeira homenageada desta edição, celebrada no dia 9 de novembro, foi Lygia Santos, filha de Donga, compositor de “Pelo Telefone”, música registrada na Biblioteca Nacional em 1916 e amplamente considerada o primeiro samba gravado no Brasil. Lygia se tornou uma sambista marcante nas décadas de 1970 e 1980, fundando o Clube do Samba ao lado de Clara Nunes, Martinho da Vila e João Nogueira. Para Milton, iniciar o ciclo de homenagens com uma mulher negra de tamanha relevância é simbólico.

“Que honra! Começar com uma mulher negra que faleceu aos 90 anos é uma forma de demonstrar que a negritude é intelectual, estudiosa e pesquisadora. Ela era professora, filha de Donga, e trouxe ancestralidade para esse espaço de expressão, o que é muito bonito”, destacou.

Milton também ressaltou o valor educativo e cultural desse novo formato. Para ele, as homenagens vão além da emoção e se tornam um instrumento de aprendizado e consciência.

“Embora a tristeza se faça presente, há também raízes e história. É uma celebração. Utilizar o concurso para abordar a cultura negra africana e compartilhar isso com a juventude é de extrema importância. É como se disséssemos: ‘Seu pai, seu avô, seu bisavô, todos estão aqui celebrando esses sambistas’”, concluiu.

Com emoção e respeito, Milton Cunha transforma a Corte do Carnaval em um palco de memória e reverência, onde o samba reconhece seus mestres e reafirma a força de sua ancestralidade.