A saudade da irreverência de Quinho do Salgueiro tomou conta do Pra Ti Faria Bar, em São Paulo, na noite de domingo. O bloco Doentes da Sapucaí definiu em concurso o samba com o qual recordará no carnaval de 2025 a trajetória de um dos maiores intérpretes da história do carnaval. A obra vencedora foi a da dupla Daniel San e Bertola, e foi escolhida através de votação secreta de um júri composto por convidados presenciais e online. Os Doentes desfilarão inspirados pelo enredo “Quinho do Salgueiro… Alegria do povo” no dia 22 de fevereiro com saída programada a partir da Rua Marselha, na Vila Mariana. Como se não bastassem as homenagens póstumas à Quinho, que foi celebrado através de sambas que marcaram sua carreira no Acadêmicos do Salgueiro e na União da Ilha do Governador, a festa promovida pelos Doentes da Sapucaí contou com a presença ilustre de um nome icônico do carnaval de São Paulo. O compositor Grego, autor de sambas históricos dos Gaviões da Fiel, foi aplaudido pelo público presente ao som de sua obra autoral “Coisa boa é pra sempre”, campeã do carnaval de 1995. Veja a letra e ouça o samba no fim desta matéria.

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Daniel San e Bertoga

Como foi o concurso

O concurso promovido pelos Doentes da Sapucaí foi marcado pelo bom humor. Os sambas inscritos se apresentaram em ordem definida por sorteio, e cada candidato teve a oportunidade cantar quatro passagens de suas obras, sendo as duas últimas com time de percussão todo tocando. Quem tinha cantor levou o seu, quem não tinha improvisou por conta própria ou contou com os cantores da casa para se apresentar. A alegria e nostalgia transmitidas pelas obras candidatas divertiram o público do começo ao fim, e mesmo aqueles que estavam torcendo para uma parceria específica caíram no samba ao som de todos.

A obra vencedora contou com uma numerosa torcida que embalou a apresentação do início ao fim. Os compositores campeões Daniel San e Bertola conversaram com o CARNAVALESCO e falaram sobre o que representa levar a história de Quinho do Salgueiro através de seu próprio samba.

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“Primeiro falando de Quinho, eu frequento o Salgueiro há muito tempo. O Quinho é nosso ídolo, meu ídolo, ídolo da minha família. A hora que apareceu esse enredo eu falei: ‘cara, eu vou fazer um samba para o Quinho’. O Quinho é talvez um dos ‘top 3’ puxadores da Sapucaí. A emoção é muito grande porque a gente conseguiu retratar em um samba conciso, em um samba de bloco, as principais etapas da carreira do Quinho. Ilha, Salgueiro, a bateria ‘Furiosa’, o ‘Tambor’, o ‘Explode Coração’. A gente conseguiu retratar de uma maneira muito concisa a história inteira do Quinho e o que o Quinho representa para os Doentes da Sapucaí. Toda vez em que ele esteve aqui ele abraçava a gente. A gente conseguia fazer grandes festas muito legais com ele. É uma emoção muito grande poder retratar o Quinho em uma letra de samba em que a gente tentou ser um samba de bloco. Estou muito feliz”, disse Daniel San.

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“Eu sou aqui de São Paulo, mas sou salgueirense desde sempre e conheço todos os sambas do Quinho. Sou fã do Quinho e sempre gostei muito dele. A hora que o Doentes anunciou o enredo do Quinho como homenagem para mim foi demais. Falar do Quinho é falar muita coisa legal. Para mim ele é um dos melhores intérpretes que já existiram na história. Depois de Jamelão, o Quinho era demais. É muito legal falar do Quinho, e me empolguei com o tema porque realmente era o Quinho. Quem já foi na Sapucaí e escutou o Quinho várias vezes viu que o Quinho era diferente. Ele não era nem melhor e nem pior, ele era apenas diferente. Era o Quinho”, declarou Bertola.

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Bertola demonstrou gratidão pelo carinho com o qual Quinho tratou o bloco sempre que esteve presente em São Paulo. “Se tratando do Quinho do Salgueiro, ele foi um cara que abraçou os Doentes da Sapucaí. Ele veio há dois, três anos e puxou os Doentes da Sapucaí. Ele incorporou o projeto dos Doentes da Sapucaí. Há três, quatro anos atrás o Quinho tocou no Na Aba e já tocou aqui. Quando ele viu o projeto dos Doentes da Sapucaí ele gostou demais. É um projeto da galera de São Paulo que gosta do samba do Rio de Janeiro, e ele já fez várias participações aqui com a gente. Quinho do Salgueiro, a alegria do povo”, disse.

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Daniel San explicou a estratégia por trás da construção da letra do samba desenvolvido pela dupla. “A gente tentou num samba curto, samba de bloco, reunir as principais coisas que o Quinho fez na vida. Ilha, Salgueiro, Academia, Furiosa. A gente tentou trazer os cargos do Quinho para gente conseguir reproduzir no samba, de uma maneira curta, tudo que o Quinho representa no samba. Eu acompanho o Quinho desde 1990, desde o Salgueiro, e a gente quis trazer o que era o Quinho. Acho que a gente conseguiu resumir num samba curto, de bloco, tudo o que o Quinho fez”, explicou.

“Ou seja: pimba! Pimba! Ai que lindo! Vai pegar fogo no congá! Esse é o Quinho, imortal”, concluiu Bertola.

Amigo dos Doentes da Sapucaí

O presidente Odilon Cardoso falou sobre última vez em que Quinho esteve presente no Pra Ti Faria e cantou com os Doentes da Sapucaí. Coincidentemente, a ocasião foi a mesma em que a equipe de São Paulo do CARNAVALESCO esteve pela primeira vez no local que recebeu a festa do Prêmio Estrela do Carnaval.

Presidente Odilon

“Acho que foi o último evento que o Quinho participou em vida foi aqui em um dos nossos encontros em que a gente teve ele e o Neguinho da Beija-Flor. Depois que ele faleceu, a gente ficou pensando sobre qual o enredo que a gente iria fazer. Fizemos uma votação dentro da diretoria do bloco e venceu o Quinho. O Quinho é uma alegria, tudo que ele fez pelo samba-enredo, é aquela irreverência, e o que veio mais para exaltar foi a participação dele. Ele esteve várias vezes com a gente aqui cantando, virou um amigo nosso. Acho que nada melhor como homenagear um cara que a gente homenageou em vida e agora homenagear depois que ele se foi”, recordou.

Odilon avaliou como positiva a escolha do samba vencedor para representar os Doentes da Sapucaí no carnaval de 2025. “Gostei, realmente é um samba de bloco. É um samba curto, que é fácil de decorar. Eu acho que vai pegar na Avenida. Acho que vai ser bastante cantado na apresentação que a gente vai fazer no ano que vem. Fica o convite para quem quiser participar no dia 22 de fevereiro, um sábado antes do carnaval. Nós vamos sair ali na Rua Marselhesa, na Vila Mariana. Espero que essa alegria a gente possa mostrar no desfile porque o samba é bem alegre, um samba curto, para bloco mesmo, e acho que vai pegar no desfile”, afirmou.

Nem melhor, nem pior, apenas diferente

Marcos Sores, o Dino, um dos diretores dos Doentes da Sapucaí falou sobre a importância de exaltar a vida e obra de Quinho do Salgueiro através da festa que marcou sua carreira. Dino recordou a trajetória do artista e exaltou a capacidade do homenageado de transmitir alegria por onde passou.

Diretor Dino

“Quando o Quinho vinha pra São Paulo fazer nossos eventos, era uma alegria imensa quando ele chegava e muito maior quando ele saía. Ele conseguia trazer gente para dentro do recinto, para dentro do evento. Só que quando ele saía, as pessoas falavam assim: ‘esse cara é uma bomba atômica de alegria’. O Quinho era uma ‘bomba atômica’ de alegria, o meu conceito do Quinho é esse. Era um baita de um cara ‘família’. Um dos filhos dele foi um dos jurados online desse nosso evento, e a gente vê o quanto ele era um cara família. Um cara que gostava de estar em casa, gostava de valorizar a família. Só que quando o cara estava na quadra, ele se transformava de uma forma que ele levava alegria, sem nenhum pudor de mostrar a alegria que ele tinha, e ele levava mesmo. Os cacos dele são os cacos mais representativos do carnaval para mim não só do carioca, mas de São Paulo e de todo o mundo. A gente tem alguns intérpretes que considera os principais da história que são, obviamente, Jamelão, Neguinho da Beija-Flor, que graças a Deus ainda está com a gente, Dominguinhos do Estácio, Ito Melodia, Aroldo Melodia, vários caras, mas o Quinho era um cara diferente de todos esses. Ele conseguia ser diferente. Nem melhor, nem pior, apenas diferente. Ele conseguia levar esse lema do Salgueiro para onde ele fosse. Para a Vila Maria, para o Peruche, para a Ilha. Ele não era melhor nem pior que ninguém e ele não queria fazer isso. Ele falou: ‘eu não sou intérprete, eu sou cantor. Eu sou igual a todo mundo’. Ele queria estar no mesmo patamar que todo mundo, mas ele não era do mesmo patamar que todo mundo. Ele queria parecer que era, mas ele não era. O Quinho era um cara que representava muito para a gente como amantes do samba-enredo e para a gente como parte da direção dos Doentes da Sapucaí. A gente o trouxe algumas vezes para cá e sempre que a gente o trouxe sempre foi um cara ímpar, um cara incrível, e que faz muita falta para a gente”, declarou o diretor.

Dino acredita que o samba vencedor do concurso será capaz de transmitir para o público a história de Quinho através de sua essência. “Esse samba que ganhou é um samba de dois compositores que já tem uma história nos Doentes da Sapucaí. Um deles inclusive é da oficina de bateria dos Doentes da Sapucaí. Eles conseguiram trazer um pouco mais da essência do bloco através da ‘voz’ do Quinho. A gente ouviu vários sambas muito bons, mas muito bons que isoladamente conseguiriam disputar com o samba que ganhou fácil. Só que o samba que ganhou trouxe uma essência um pouquinho maior de bloco, então foi por isso que eles conseguiram ganhar. Vai ser um samba que vai levar para a Avenida a história do Quinho de forma alegre, de forma diferente. Nem melhor, nem pior, apenas diferente”, afirmou.

Samba de 2025 dos Doentes da Sapucaí

Compositores: Daniel San e Bertola

Explode coração, na maior felicidade
O Quinho do Salgueiro vai deixar saudade
Explode coração, na maior felicidade
Canto Quinho o ano inteiro, para matar saudade

(Sou mais minha ilha)

Ilha
Porre de felicidade
Academia
Furiosa inspiração
de um tambor apaixonado
cantava com emoção

Pimba Pimba ai que lindo
Pega Fogo no Congá
O Doentes na avenida
Vai fazer vc sambar

Sorriso no rosto
Alegria irreverente
Na Terra da Garoa
Ou no Andaraí
Virou Quinho dos Doentes
Da Sapucaí