Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins (Colaboraram Naomi Prado, Gustavo Lima, Nabor Salvagnini e Lucas Sampaio)
Algumas escolas são conhecidas pela força de determinados quesitos em particular. No carnaval paulistano, esse é o caso da Acadêmicos do Tatuapé. A agremiação é famosa pela força do canto da comunidade da Zona Leste e, também, pelo chamado Casal Foguinho – Diego do Nascimento e Jussara de Sousa, primeira dupla de mestre-sala e porta-bandeira da agremiação. Comprovando a fama de tais setores da azul e branca, ambos foram as grandes forças do segundo ensaio técnico da agremiação no Anhembi, neste domingo (09 de fevereiro). A exibição do enredo “Justiça – A Injustiça Num Lugar Qualquer É Uma Ameaça À Justiça Em Todo Lugar”, que será o quinto a desfilar na sexta-feira de carnaval (28 de fevereiro) teve 56 minutos.
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Presente no Sambódromo para acompanhar o dia de exibições, o CARNAVALESCO conta tudo sobre a apresentação da Acadêmicos do Tatuapé, quesito a quesito – e já adianta que a agremiação mostrou a força que lhe é característica.
Comissão de Frente
O tripé do quesito veio mostrando ainda menos que no primeiro ensaio técnico, quase que inteiramente coberto por sacos pretos. O que ficou mais claro em relação ao setor foi a disposição dos componentes: um deles claramente tem destaque, com pintura corporal bastante colorida. Os demais tinham uma única cor no corpo – em uma provável marcação de fantasias e/ou de funções na coreografia. Em um rápido momento, todos eles ficam no tripé – mas boa parte da dança ligada ao quesito acontece com muitos dos componentes no chão, interagindo entre si.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Desde 2012 na agremiação, Diego do Nascimento e Jussara de Sousa tiveram mais uma exibição que explica, de maneira prática, o motivo pelo qual ambos gabaritam o quesito desde 2018. Com exibições arrebatadoras nos quatro módulos, o Casal Foguinho mostrou ótimo entrosamento entre si e também com o samba-enredo – fazendo, em determinados momentos, por exemplo, um gesto tapando ouvidos e orelhas, um dos símbolos universais de sistemas judiciários. Inteiros de azul, ambos cumpriram todas as obrigatoriedades e usaram e abusaram dos giros, bastante rápidos – por sinal, se o ensaio técnico começou com um vento bastante considerável, as correntes de ar diminuíram sensivelmente a partir do primeiro módulo, em sinal de que, aparentemente, até a natureza queria ajudá-los. Isso sem falar nos sorrisos que se tornaram símbolos da dupla.
O próprio casal admite o excelente desempenho: “Hoje, sem a chuva e como a pista estava seca, deu para sentir melhor a coreografia, fazer mais marcação do que a gente já fez no primeiro. Fizemos algumas alterações também devido ao posicionamento, ao andamento da escola, para estar dentro do andamento e poder ajudar a escola também no quesito de Evolução. Hoje, com certeza, em vista do anterior, foi 80% melhor”, disse Jussara. Diego complementou: “Conseguimos sentir bem, de verdade, o que a gente vai fazer no dia do desfile. Conseguimos colocar tudo em prática, tivemos algumas alterações, mas coisas poucas, só para poder entrar no andamento da escola – e viemos muito bem. Agora, como eu sempre falo, nós somos muito perfeccionistas. Claro que ainda vamos trabalhar muito, ajustar algumas coisas, mas a gente está no caminho certo, graças a Deus – e, se Deus quiser, vai dar tudo certo e a gente vai conseguir trazer a nota para essa comunidade maravilhosa”, agradeceu.
Harmonia
O canto da agremiação é reconhecido como, no mínimo, um dos mais fortes de todo o carnaval paulistano. E, novamente, tal característica se mostrou bastante evidente: a única agremiação da Zona Leste no Grupo Especial novamente bradou o samba-enredo aos quatro ventos – sobretudo alguns versos do refrão (a saber: “A ‘Escola da Emoção’ veste a toga da justiça” e “Respeite o meu Tatuapé”).
Celsinho Mody, intérprete da agremiação, falou sobre o ensaio: “Fizemos um excelente primeiro ensaio técnico do carro de som, temos um trabalho técnico muito forte, muito rigoroso em busca do que os jurados querem. Fazemos música, que é o patrimônio maior do samba, direcionamos toda a nossa música dentro do que os jurados querem no balizamento das escolas de samba. Tivemos um bom rendimento no ensaio passado e, agora, fizemos correções técnicas. Colocamos ainda mais alegria, mais emoção. O samba sem emoção não tem graça nenhuma – e, para o próximo, vamos melhorar ainda mais pequenos pontos técnicos e grandes pontos de felicidade para poder colocar esse samba nos braços do povo. Nosso papel é conduzir a escola para cantar, levar a mensagem do samba para a arquibancada, para que as pessoas se sintam seduzidas com esse canto da sereia e venham cantar com a escola. Estamos acrescentando coisas a um trabalho que está sendo feito há cinco meses, e vamos acrescentando coisas na base que já está sólida da minha parte. São dez anos de um trabalho, todos esses anos subiram degraus para esse trabalho. Quanto mais gás tiver, mais gás a escola tem. Ainda tem coisas para acrescentar no sentido de se comunicar mais com o samba no geral, o samba está um pouco mais solto, um pouco mais nos braços do povo. isso também depende da quantidade de pessoas que tem, também. Quanto mais próximo do carnaval, mais a obra cresce. Não falo só a obra do samba, a obra do carnaval. Vamos crescer, crescer, crescer, vamos melhorar”, analisou.
Evolução
Com componentes sempre animados, sorridentes e se movimentando bastante, o quesito também teve bom desempenho ao longo do ensaio técnico. Vale destacar, porém, que alguns harmonias estavam repetidamente pedindo atenção de desfilantes em relação ao alinhamento dentro de cada ala – muito embora não foram notados problemas em tal questão em grupo algum e em momento nenhum do ensaio.
Erivelto Coelho, um dos presidentes e integrantes da direção de Carnaval da agremiação, comentou sobre o ensaio: “A cada ensaio é notório que estamos evoluindo. No primeiro ensaio, cumprimos o papel. Estávamos ainda muito tensos, nervosos, porque já é um ano que nós passamos aqui, e acredito que nesse ensaio a escola veio mais solta, veio balançando mais. Essas eram algumas questões que estávamos discutindo durante a semana na quadra. É um ponto positivo. Saímos daqui muito felizes. Que no domingo que vem a gente consiga evoluir ainda mais – e que, no desfile oficial, quanto ao que planejamos lá em abril, tenho certeza que vai ser um espetáculo muito bom. As pessoas vão se surpreender com a Tatuapé”, destacou.
Ao ser perguntado sobre o nível de crescimento da agremiação em cada ensaio técnico, Erivelto foi sucinto: “Expressão corporal, andamento, bom contingente. Houve uma evolução muito significativa se compararmos com o último ensaio. Isso é um recado de que estamos dando para a comunidade, todos esses meses e eles vêm escutando, vêm nos entendendo. Acredito que no domingo que vem vai ser ainda melhor. O nosso time é muito competente, nosso casal é muito bom, nossa área musical é muito boa, nossa bateria é muito boa. Os profissionais que aqui estão há muito tempo, entregam há muitos anos e num nível muito alto”, comemorou.
Samba
Se divide opiniões de maneira bastante extremada na bolha do carnaval paulistano (já que conta com defensores ferrenhos e críticos ácidos), a canção teve ótimo rendimento na passarela. Não apenas pelo já tradicional forte canto dos componentes da azul e branco, é importante destacar: cada vez mais à vontade, Leonardo Costa, popularmente conhecido como Léo Cupim, segue em ótimo trabalho à frente da “Qualidade Especial”, bateria da agremiação. O elogiadíssimo carro de som da instituição, comandado por Celsinho Mody e com presenças ilustres como Keila Regina e André Ricardo, também brilhou.
Cupim, por sinal, detalhou a estratégia para o ensaio: “Hoje viemos com o andamento um pouquinho mais tranquilo, a gente deu uma seguradinha no pedal e acho que a escola conseguiu evoluir. Para a bateria esse andamento também é confortável. Cada vez mais está chegando perto de se aproximar do ideal – que é no dia da pista, mas sempre tem o que melhorar. É hora de voltarmos para casa, estudarmos bastante todos os vídeos, fazermos reuniões de diretoria e vermos o que a gente precisa melhorar. Com certeza a gente vai ter pontos a melhorar. Pensamos sempre na construção das bossas, na questão da Evolução da escola e da Harmonia. Creio que esse casamento está rolando legal”, comentou.
Celsinho também elogiou a força da canção: “o Samba é muito bom, é um samba redondo, um samba bem enquadrado. a melodia tem um caminho que é bem popular e as pessoas estão cantando bastante. A bateria está redonda com o samba, estamos adicionando com andamento um pouco mais lento que os outros anos. O samba está cumprindo com a sua função”, finalizou o intérprete.
Outros Destaques
A numerosa corte de bateria da “Qualidade Especial” tinha Muriel Quixaba, a rainha, de preto; Carmen Reis, a madrinha, de azul; Talita Guastelli, a princesa, de branco; e Daniel Manzini, o rei. Com eles, um pandeirista.
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