Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins
A Torcida Jovem desfilou neste sábado pelo Grupo de Acesso 2 do carnaval de São Paulo de 2025. O primeiro casal teve uma atuação deslumbrante, representando o pavilhão da comunidade santista com vigor e elegância. A bateria “Firmeza Total” também levantou o público com bossas criativas ao longo do cortejo, encerrado após 47 minutos. A Alvinegra foi a quarta agremiação a passar e se apresentou com o enredo “Na Capital do Reggae, onde a natureza canta e o mundo se encanta. São Luís do Maranhão”, assinado pela comissão de carnaval formada por China, Deko, Evandro e Jefferson Silvan.
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Comissão de Frente
Coreografada por Fernando Lee, a comissão de frente da Jovem foi intitulada “A Disputa das 3 Coroas” e se apresentou ao longo de duas passagens do samba. A proposta foi mostrar o período colonial da região de São Luís. A região chegou a ser ocupada por França e Holanda em diferentes momentos da história, obrigando Portugal a travar batalhas para reconquistar seu território. O quesito apresenta esse momento através de atores representando as colônias formadas por esses países, com o uso de três plataformas móveis construídas de forma modular que permitindo a conversão ao longo da apresentação entre embarcações, o Forte de São Luís e as mesas de negociação utilizadas para definir o status da atual capital maranhense. Na outra face dos tablados havia bandeiras de cada um dos países estampada.
A ideia de usar de plataformas móveis para fazer diferentes montagens de cenário é válida, mas a execução foi insuficiente. Os três atores encarregados de subir nos tablados na maior parte da coreografia não conseguiam fazer o movimento de forma coreografada, sendo um deles, que representou a Holanda, demonstrou especial dificuldade. O acabamento da própria cenografia onde pisavam, em que só se via estampas de coroas, foi riscando ao longo da apresentação, possibilitando ao jurado apontar falha de acabamento. A coreografia não ficou clara na Avenida, sendo no máximo possível apontar facilmente os diferentes momentos em que França, Holanda e Portugal colonizaram a região.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal da Jovem, formado por Gabriel Vullen e Joice Cristina, se apresentou representando a “Influência Africana”. Principal destaque do desfile da escola, a dupla demonstrou muito entrosamento em todos os módulos pelos quais se apresentaram. Os movimentos obrigatórios foram bem executados, a expressão de ambos foi constantemente alegre e confiante, e a coreografia obteve êxito e demonstrou elegância. As expectativas para boas notas no quesito podem ser vistas como elevadas.
Enredo
O enredo da Torcida Jovem é uma homenagem a São Luís do Maranhão. A história da cidade, que é a única capital do país totalmente localizada em uma ilha, é contada na Avenida desde o período colonial, onde o território inicialmente colonizado por Portugal, também teve domínio por França e Holanda por alguns anos distintos. Carregada por uma cultura única marcada por lendas originárias e recebendo influências de seus antigos colonos, a chamada “Ilha do Amor” também é conhecida como a capital brasileira do reggae. São Luís é reconhecida como patrimônio cultural mundial pela Unesco.
Um enredo que pecou por tentar contar histórias demais com pouco espaço para tal. As referências do samba não se aprofundaram pelas fantasias e segunda alegoria não contribuiu para enriquecer a leitura por, ao invés de condensar mais informações, limitar-se a poucas referências do “patrimônio mundial”.
Alegorias
A Jovem se apresentou com um conjunto de duas alegorias e um quadripé. O carro Abre-alas tinha o nome de “França Tropical”. O quadripé, que veio na parte central do desfile, era chamado “Lendas e mistérios”. O segundo carro, que encerrou o desfile da escola, foi batizado de “Patrimônio Mundial”.
As alegorias da Jovem apresentaram bom acabamento. O primeiro carro era de clara leitura e contribuiu para realizar uma boa abertura da história do enredo. O quadripé central tentou ao máximo reunir as lendas e mistérios de São Luís, mas abriu o leque de interpretação das origens do folclore mais que o necessário. O segundo carro pecou por apresentar poucas referências ao fato de São Luís ser considerada um patrimônio cultural mundial.
Fantasias
As fantasias das alas da Torcida Jovem procuraram contribuir para a narrativa do enredo apresentando diferentes destaques da história, geografia e cultura de São Luís do Maranhão. Referências culturais como a Casa Nagô, conhecido local de culto do Tambor de Mina, uma religião afro-brasileira, se fizeram presentes entre as vestimentas dos componentes da escola.
Individualmente falando, as fantasias eram de fácil leitura dentro da proposta apresentada, mas algumas, como a da ala “Palmeira que brota desse chão” e a da ala das baianas dificultavam a evolução dos componentes. A reportagem registrou também a queda do costeiro de uma das baianas da escola, que mesmo após intervenção de um diretor não retornou ao lugar.
Harmonia
O destaque positivo no canto da Torcida Jovem vai para a ala de fantasias mais leves da escola, a “Capital do Reggae”. O coral apresentado pelos desfilantes, porém, foi irregular. Em várias alas componentes foram observados sem sequer cantar o samba da escola, em especial naquelas cujas fantasias eram mais volumosas. O cantar discreto do samba dos desfilantes pode render problemas na hora da apuração.
Samba-enredo
A obra que conduziu o desfile da Torcida Jovem é assinada pelos compositores Turko, Rafa do Cavaco, Maradona, Imperial e Fábio Souza, e na Avenida o samba foi defendido pelo intérprete Vaguinho. Um samba com letra rica em poesia e que consegue contar o enredo dentro de sua proposta. O carro de som teve um bom desempenho, demonstrando bom entrosamento com a bateria “Firmeza Total”. É um dos quesitos que podem contribuir positivamente para as pretensões da escola na apuração.
Evolução
A Torcida Jovem fechou os portões após 47 minutos de desfile, a fluidez foi notável durante a procissão e o recuo da bateria foi bem executado. O principal problema da evolução da escola foi a separação entre comissão de frente e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. O primeiro quesito avançou pela Avenida em uma velocidade desproporcional nos três primeiros módulos em que foram observados, chegando a abrir um espaço para o casal que superou o limite de 12 grades estabelecido pelo regulamento nos módulos um e dois. Um ponto de preocupação para o julgamento da escola.
Outros destaques
A bateria “Firmeza Total” comandada por mestre Caverna deu um belo espetáculo com suas bossas, principalmente no trecho do samba que faz referência à “Capital do Reggae”. A corte comandada pela Rainha Dóris Grace foi um show à parte com sua fantasia de faixas coloridas, interagindo frequentemente com o público.