A Grande Rio realizou, na noite do último domingo, seu segundo e último ensaio de rua de 2025, na Avenida Brigadeiro Lima e Silva, em Duque de Caxias. Com canto constante, evolução fluida e excelente performance do casal, a Tricolor Caxiense mostrou uma escola que incorporou o samba e o enredo, avançando de forma coesa, ainda com ajustes pontuais a serem feitos ao longo da temporada. A escola será a terceira a desfilar na terça-feira de Carnaval, com o enredo “A Nação do Mangue”, assinado pelo carnavalesco Antônio Gonzaga.

Thiago Monteiro, diretor de carnaval da Grande Rio, avaliou de forma positiva o ensaio. Em entrevista ao CARNAVALESCO, o dirigente destacou a evolução da organização da escola em relação ao primeiro ensaio e reforçou a importância do processo contínuo de preparação até o desfile oficial.

“Acho que foi um ensaio muito bom. Eu classifico esse segundo ensaio como bem melhor do que o primeiro em termos de organização da escola. Isso é normal. No primeiro, a gente tem aquele calor muito forte da comunidade, e reforço o que disse: o nosso povo de Caxias nunca vai ser um problema para a Grande Rio. O dia que for, a gente tem que deixar de ser escola de samba. Hoje, em termos de organização e evolução, o ensaio foi muito mais positivo”, afirmou.

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Foto: Marcos Marinho/CARNAVALESCO

Thiago também ressaltou que o momento ainda é de construção e que a escola tem consciência do caminho que precisa percorrer até o Carnaval. “Se a gente já estivesse pronto, mandava todo mundo para casa hoje e só voltava na concentração. Não é o caso. A gente precisa se preparar cada vez mais para fazer um grande espetáculo”, completou.

Sobre o planejamento e o calendário dos ensaios de rua, o diretor explicou que a decisão está diretamente ligada ao calendário do Carnaval 2026, sem mudança no volume de treinamentos em relação aos últimos anos. “Na verdade, a gente tem o mesmo número de ensaios do ano passado. O que muda é que, como o desfile é no dia 17 de fevereiro, a gente precisou antecipar um pouco. O cronograma de treinamento é o mesmo. Também sou contra começar cedo demais, porque isso cansa o componente. Do jeito que foi feito no ano passado e que está sendo feito nesse ano, é confortável para todo mundo e permite testar tudo o que precisa”, disse.

MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA

Daniel Werneck e Taciana Couto performaram com excelência na Avenida Brigadeiro Lima e Silva. O casal apresentou uma fina sintonia, evidente tanto na execução técnica quanto na dimensão relacional do bailado. Essa sintonia se manifesta, sobretudo, na finalização dos movimentos, ponto de destaque da apresentação, mas também no diálogo corporal constante que permeia a proposta coreográfica do casal.

As finalizações chamam a atenção pelo modo como se resolvem no encontro direto dos olhares, gesto que deixa ver o entrosamento e o diálogo pleno entre os artistas, que defendem juntos o pavilhão da agremiação desde 2019.

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Foto: Marcos Marinho/CARNAVALESCO

Há momentos particularmente expressivos na apresentação do pavilhão, principalmente quando o samba anuncia que “a nação está aqui”. Nesse trecho, Daniel e Taciana apresentam a Grande Rio à rua e ao público, abrindo o ensaio, já que, desta vez, a comissão de frente não esteve presente. Ao conduzir a primeira apresentação da bandeira, o casal convoca a comunidade a evoluir com a escola.

Mais adiante, ainda nesse mesmo trecho do samba, o casal se despede da coreografia com uma bandeirada de Taciana bem resolvida, dando um fechamento elegante e coerente com a narrativa musical. Nota-se também a atenção ao movimento espelhado, já apresentado na rua com clareza e precisão, atendendo às exigências do novo modelo de julgamento do quesito.

A movimentação coreográfica articula o bailado clássico do casal de mestre-sala e porta-bandeira com referências à dança dos orixás. Elementos associados a Nanã aparecem incorporados à dança, reforçando o vínculo estético com a matriz afro-religiosa que atravessa o enredo da escola.

O resultado é uma apresentação segura, refinada e consistente. Daniel Werneck e Taciana Couto demonstram domínio técnico, inteligência coreográfica e vigor interpretativo, confirmando-se como um casal de excelência.

SAMBA E HARMONIA

O canto da Grande Rio se apresenta de forma constante e sustentada ao longo do ensaio. Os componentes cantam e dobram o samba sem demonstrar grandes dificuldades com a letra, revelando um nível sólido de incorporação da obra. A sensação é de um canto que segue em fluxo contínuo.

O verso “Freire, ensine um país analfabeto que não entendeu o manifesto da consciência social” é cantado com convicção pela comunidade, e ganha ainda mais impacto quando a bateria faz um “paradão”. Nesse momento, o canto dos componentes assume o protagonismo e responde com intensidade, preenchendo a avenida.

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Foto: Marcos Marinho/CARNAVALESCO

O refrão principal — “Eu sou do mangue, filho da periferia / Sobre uma palafita, Grande Rio anunciou” — também se destaca pela boa resposta dos componentes, assim como a sequência “Ponta de lança e daruê, dobro gonguê, a revolução já começou!”, que surge com energia e envolvimento. Ainda assim, nesse último trecho é possível perceber uma leve perda de canto: nem todos acompanham com a mesma intensidade, o que abre uma margem de crescimento para que o refrão ganhe ainda mais corpo e potência coletiva.

O canto é potencializado pela condução de Evandro Malandro. O intérprete valoriza as entradas da comunidade e permite que o canto dos componentes apareça nos momentos-chave. A leitura clara da letra do samba contribui para a manutenção da constância do canto ao longo do ensaio.

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Foto: Marcos Marinho/CARNAVALESCO

Essa observação é importante porque o samba trabalha justamente com a ideia de repetição e retorno. A força da obra está na constância, no movimento contínuo do canto que vai e volta, criando um efeito circular. Há algo nesse fluxo que remete à própria imagem da lama evocada pelo enredo: um movimento que avança sem pressa, mas sem interrupção, sempre seguindo adiante.

Nesse sentido, o canto da Grande Rio não se quebra, nem se dispersa. O desafio agora é transformar essa constância em ainda mais pressão sonora, sobretudo nos trechos em que o samba exige maior precisão coletiva. É um samba que pede regularidade, insistência e sustentação, que, quando assimiladas, potencializam ainda mais o rendimento da escola no quesito.

EVOLUÇÃO

A Grande Rio varreu a Brigadeiro Lima e Silva com uma evolução leve e consistente. O componente desfila solto, com liberdade de movimento, enquanto a escola avança preenchendo a rua de forma organizada e contínua.

Destaque para a ala que representou os trabalhadores do mangue, composta por cerca de 120 componentes, que chamou a atenção pela dança com que avançava pela rua.

A evolução acontece de forma tranquila, permitindo que a escola avance com naturalidade, sem buracos ou correria. É um desfile contínuo, em que a Grande Rio se desenvolve ao longo do percurso, confirmando uma evolução bem resolvida e em consonância com o andamento do samba.

OUTROS DESTAQUES

A bateria, comandada por mestre Fafá, sustentou mais uma apresentação consistente no ensaio de rua da Grande Rio. Ao atravessar a Avenida Brigadeiro Lima e Silva, a bateria mostrou vitalidade, controle e boa leitura do samba, contribuindo diretamente para o rendimento do canto da escola e para a manutenção da energia ao longo do percurso.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, mestre Fafá avaliou de forma positiva o segundo ensaio de rua da escola, destacando o processo de crescimento coletivo e a assimilação gradual da obra. “A avaliação é sempre positiva, no bom aspecto. Ensaio é para isso: ensaiar, melhorar e evoluir. Esse foi o nosso segundo ensaio de rua. A cada dia, a escola está ‘comprando’ mais o samba, entendendo a ideia da obra. Estamos integrando, subindo degrau em degrau, evoluindo”, afirmou.

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Foto: Marcos Marinho/CARNAVALESCO

O mestre também comentou sobre o samba-enredo e a expectativa de rendimento ao longo da temporada. “Na minha visão, é um samba muito bom. Talvez não seja um samba estratosférico ou ontológico, porque se criou uma mística de que a Grande Rio precisa sempre disso, mas é um samba funcional. Um samba bem interpretado pelo Evandro Malandro, que vai dar a pontuação que a escola precisa”, completou.

No ensaio, a bateria apresentou três bossas já colocadas na rua, todas pensadas para dialogar diretamente com a narrativa do samba. Fafá explicou que a primeira aparece logo na cabeça da obra. “A gente está fazendo uma bossa na cabeça do samba, baseada em um toque inspirado em uma música do Chico Science, ali no trecho do ‘Lá vem Caboclo’. A gente respeita a melodia original do samba e trabalha em cima disso”, explicou.

A segunda intervenção acontece no meio do samba, com uma referência direta à matriz afro-religiosa do enredo. “No meio do samba, tem uma paradinha que mistura um toque dedicado a Nanã”, disse o mestre. Já na parte do “Freire”, a bateria executa um “paradão” que impulsiona o canto da comunidade.

Fafá revelou que outras bossas ainda estão em fase de ajustes e devem ser apresentadas nos ensaios a partir de janeiro. “Ainda temos mais duas bossas que não colocamos na rua. Estamos terminando de ensaiar e ajeitar, porque são duas bossas que a gente tem um carinho especial. Elas ficam próximas do refrão final. A gente brinca que são quatro bossas e meia, por conta do paradão. E ainda tem uma surpresa nesse paradão”, revelou.

Destaque também para o discurso do presidente Milton Perácio, que abriu o ensaio de rua da Grande Rio com uma homenagem a Helenice Catharina, fundadora e histórica porta-bandeira da escola, falecida no último sábado e sepultada neste domingo. Em sua fala, o presidente ressaltou a trajetória de Catharina dentro da Grande Rio, reconhecendo seu legado como uma das figuras centrais da construção da agremiação. Ao final, Milton Perácio pediu uma rufada de tambores da bateria, em homenagem à memória de Helenice Catharina.

A Grande Rio retornará aos ensaios de rua na Avenida Brigadeiro Lima e Silva no dia 4 de janeiro.