Após um hiato de duas semanas, a Beija-Flor de Nilópolis voltou o ocupar a Estrada da Mirandela, na noite desse sábado, para realizar mais uma edição do “Encontro de Quilombos”. A escola convidada, dessa vez, foi a coirmã de Baixada Fluminense, a Acadêmicos do Grande Rio. E coube justamente a tricolor caxiense o papel de abrir os trabalhos na tradicional via, sendo seguida pela anfitriã. Por conta disso, o relógio já passava das 23h quando a Deusa da Passarela deu a largada no seu segundo ensaio de rua da temporada para o Carnaval de 2024. O horário tardio do treino, que terminou já na madrugada de domingo, não afastou o público que acompanhou a passagem da azul e branca até o final. Além disso, a agremiação contou com praticamente todo o seu contingente de desfile, incluindo os principais segmentos. Em meio a tudo isso, o veterano casal de mestre-sala e porta-bandeira formado por Claudinho e Selminha Sorriso e a bateria “Soberana” roubaram a cena e foram os destaques da apresentação que durou aproximadamente uma hora e 15 minutos.

“A Beija-Flor está em uma crescente. Hoje a gente conseguiu trazer as alas que ensaiam também na Cidade do Samba, então a escola ficou bem maior. Gosto muito do canto da escola, da evolução, mas acho que a gente ainda tem que melhorar algumas coisas da evolução interna das alas. A ideia é soltar um pouco mais, porque o samba é muito alegre. Atualmente, temos alas brincando mais do que as outras e queremos tentar dar uma igualada nisso aí. Aí é o trabalho dos ensaios de quadra, que fazemos todas às quintas-feiras”, analisou o diretor de carnaval da Beija-Flor, Dudu Azevedo, em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO.

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Fotos: Diogo Sampaio/CARNAVALESCO

Em 2024, a Beija-Flor terá como enredo “Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila”, assinado pelo carnavalesco João Vitor Araújo. Na ocasião, a Deusa da Passarela será a segunda agremiação a passar pelo Sambódromo da Marquês de Sapucaí no domingo, dia 11 de fevereiro, pelo Grupo Especial. Esta será a primeira vez que a azul e branca desfilará nesta posição.

Comissão de frente

O segundo ensaio de rua da Beija-Flor de Nilópolis na temporada para o Carnaval de 2024 foi aberto com uma performance dos integrantes da comissão de frente, comandados por Jorge Teixeira e Saulo Finelon. A apresentação contou com dez componentes, todos uniformizados com camisas e bonés da escola, que realizaram uma coreografia marcada por giros, saltos e passos sincronizados, além de gestos longilíneos. Ao longo do percurso com a agremiação, eles fizeram esse número pelo menos em três ocasiões, justamente nas cabines simuladas de julgadores.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Em seguida a comissão de frente, quem se apresentou foi o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Beija-Flor, Claudinho e Selminha Sorriso. Os dois, que são considerados verdadeiras entidades do Carnaval carioca, mostraram mais uma vez o motivo de serem referências para tantas pessoas. Com um figurino na cor azul, a dupla apostou em um bailado predominante mais tradicional, mas com alguns passos coreografados. Os giros, característicos de Selminha, estiveram presentes na performance, assim como o riscado de Claudinho. Ao longo de todo o trajeto pela Estrada da Mirandela, eles fizeram questão de dançar sem parar, presenteando dessa forma os espectadores que se aglomeraram nas calçadas para assistir a passagem da Deusa da Passarela. Outro ponto de destaque foi o altíssimo entrosamento, fruto dos mais de trinta anos de parceria, que se manifestou nos diversos momentos em que ambos se comunicaram através de uma simples troca de olhares. Ao final do percurso, o casal conversou com a reportagem do site CARNAVALESCO e fez um balanço desse segundo treino a céu aberto da escola, enfatizando a importância deles na preparação para o desfile oficial.

“Aprendemos com o mestre Laíla que treino é jogo. Cada um de nós entende o compromisso de passar aqui valendo, buscando a perfeição, querendo aprimorar para chegar no dia e arrasar. Aqui é um treino com seriedade, com respeito ao público, que vem em massa prestigiar a Beija-Flor, ainda mais hoje em dia com o ‘Encontro de Quilombos’. Estamos aprimorando, devagarinho, passinho por passinho com perfeição, concentração, dedicação e muito amor. Vai dar certo”, declarou a porta-bandeira.

“Para gente aqui o treino é valendo, como bem disse a Selminha. E hoje, com a presença de todas as alas e quase 100% da escola, deu para gente ter uma noção bem real. Ficou mais fácil da gente entender o andamento e ir testando algumas coisas, como por exemplo a parte coreográfica e o condicionamento físico. Então, é importante para gente estar fazendo um trabalho legal e chegar mais preparados no dia do desfile. É óbvio que tem algumas coisas guardadas, que a gente não executa nos ensaios de rua. Porém, testamos sim algumas coisas para ver se rola no momento, se podemos inserir no dia do desfile ou não”, afirmou o mestre-sala.

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Samba-enredo

Doa quem doer, o samba-enredo da Beija-Flor de Nilópolis teve uma boa performance nesse segundo ensaio de rua da temporada para o Carnaval de 2024. Mesmo com a ausência da voz oficial Neguinho, o carro de som da Deusa da Passarela deu conta do recado e soube conduzir a obra composta por Kirraizinho, Lucas Gringo, Wilsinho Paz, Venir Vieira, Marquinhos Beija-Flor e Dr. Rogério explorando a sua principal característica que é a alegria. O intérprete Igor Pitta, que comandou o microfone principal, se mostrou seguro diante do desafio e ainda buscou incentivar o canto da comunidade, sejam os desfilantes ou até mesmo os torcedores que assistiam nas calçadas da Estrada da Mirandela. Outro fator importante para o rendimento positivo foi a bateria “Soberana”, que através de uma sequência de bossas, algumas com referências a ritmos nordestinos, deu um tempero a mais para o hino oficial.

Harmonia

Embalado pelo bom funcionamento do samba, a Beija-Flor fez bonito no quesito harmonia. A comunidade nilopolitana mostrou ter abraçado o samba escolhido pela agremiação, que teve no refrão principal o seu ponto alto. Os versos “Aqui é Beija-Flor, doa a quem doer/Do gênio sonhador, da gana de vencer/Tá no meu peito, tá no meu grito/Escola de respeito que coroa Benedito” foram entoados com extrema força. Além dele, o refrão do meio, “Tem mironga, festa da ralé/Malandragem, frevo, arrasta-pé/A magia que avoa, o rosário no andor/A cantiga que ecoa no axé do meu tambor”, também foi bem cantado pelos componentes. Em relação às alas em si, o destaque ficou para a primeira da escola que cantou a obra com afinco do começo ao fim, mesmo se tratando de uma ala coreografada. Já como um ponto de atenção vale mencionar uma queda de rendimento que ocorreu em parte da primeira estrofe do samba, especialmente nos versos “Herdeiro da dinastia e das lutas de Zumbi/De Palmares às palmeiras e marés/Da cultura e bravura dos Tupis e Caetés”, nos quais foi possível observar diversos componentes sem cantar esse trecho ou entoando em menor volume.

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“A gente está trabalhando no canto da escola e observamos muito. E o que nós percebemos é um equilíbrio no canto. Temos mais de 60 diretores, alas ensaiando separadas e na quadra. A gente não se pegou nesse ponto. Entendemos que temos um canto muito equilibrado, de ponta a ponta. Tem frases que a galera bate mais no peito, mas é algo natural. Não ouvimos esse desequilíbrio”, afirmou o diretor de carnaval Dudu Azevedo para reportagem do site CARNAVALESCO, ao ser questionado sobre este último tópico.

Evolução

Acostumada a ser considerada um “rolo compressor” no quesito evolução, a Beija-Flor irá adotar uma filosofia um pouco diferente no próximo Carnaval. A ideia é manter a força do seu chão, mas com uma pegada mais leve, brincalhona e alegre, condizente com o enredo da agremiação para o ano que vem. Isso já pode ser visto nesse segundo ensaio de rua. Em diversas alas, como por exemplo as do último setor, já é possível observar componentes soltos, pulando, vibrando e cantando. Tal postura não trouxe prejuízos para a performance da escola, que mesmo sem a regidez de alas enfileiradas, não abriu clarões e nem teve registro de embolamentos. Também não ocorreram abertura de buracos e as paradas de segmentos em cabines simuladas de julgadores, assim como a entrada e saída da bateria do recuo, ocorreram sem maiores transtornos. Quanto ao ritmo, a azul e branca manteve durante todo o percurso um andamento mais cadenciado, sem correrias, e terminou o treino com um tempo de aproximadamente uma hora e 15 minutos.

Outros destaques

Uma das principais atrações desse treino da Deusa da Passarela foi a bateria “Soberana”. Os ritmistas liderados pelos mestres Rodney e Plínio tiveram uma performance inspirada e impulsionaram o rendimento do samba-enredo da escola. A levada dada por eles não só contagiou os componentes como também os torcedores que assistiam a apresentação, sendo crucial para criar o clima de alegria que é proposto pelo tema da agremiação. Em entrevista concedida para a reportagem do site CARNAVALESCO, Rodney avaliou o trabalho desenvolvido até o momento, além de comentar sobre o andamento e as bossas que pretendem levar para o Sambódromo da Marquês de Sapucaí.

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“A gente está incessante na busca de achar o melhor andamento. Hoje nós começamos com 144 BPM (batidas por minuto) e o carro de som se sentiu à vontade. O nosso samba é muito leve, não tem necessidade de você vir em um andamento mais acelerado. No outro ensaio de rua, a nossa largada tinha sido com 145 BPM e o samba rendeu também. No entanto, acho que com o andamento de 144 BPM ficou mais gostoso, mais acomodado. Em relação a bossas, hoje executamos sete ao todo. Porém, depois do réveillon, a gente vai inserir mais duas, até para galera não cair naquela zona de conforto. Já definimos o que vai ser feito e, assim que virar o ano, vamos começar a inserir essas novas bossas. Então, a ideia é ir com essas nove convenções para Avenida, pois assim o samba fica bem dividido e não tem como passar em frente do julgador sem estar fazendo alguma coisa. É uma forma de evitar aquela justificativa famigerada de falta de criatividade”, relatou mestre Rodney.

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A rainha da “Soberana” Lorena Raíssa foi outro destaque desse segundo ensaio de rua da Beija-Flor de Nilópolis. A jovem, no clima do “Encontro de Quilombos”, homenageou o enredo da coirmã Grande Rio no figurino e veio vestida de onça. Em seu segundo ano de reinado, ela demonstrou estar cada vez mais à vontade no posto e deu um verdadeiro show na frente da bateria. Prata da casa, Lorena fez questão de atender o público que assistia a passagem da escola, dando beijos, abraços e tirando fotos. Em alguns momentos, ela ainda mostrou seus dotes como ritmistas e se arriscou tocando chocalho.