A União da Ilha do Governador pisou na Sapucaí com toda a responsabilidade de mais uma vez ser favorita ao acesso e pela homenagem realizada aos seus 70 anos de história e ao centenário da madrinha Portela. Apesar do excelente trabalho visual do carnavalesco Cahê Rodrigues, o carro abre-alas passou apagado nos dois últimos módulos de julgamento, o que deve gerar despontuação que pode fazer falta em uma eventual título da Série Ouro. A alegoria trazia as cores da escola e as águias, símbolo das duas agremiações. A “Baterilha” de mestre Marcelo Santos foi outro ponto alto da noite e a comissão de frente apresentou bem a ideia da homenagem presente no enredo além de impressionar pela excelência no aspecto visual. Com o enredo “O encontro das águias no Templo de Momo”, a União da Ilha foi a sexta agremiação a desfilar, encerrando sua apresentação com 53 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE 

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Comissão de frente

A comissão de frente de Márcio Moura trouxe um cortejo de arlequins, personagens tradicionais do carnaval, que com piruetas e acrobacias cortejavam um elemento cenográfico que representava o altar da realeza, onde se curvaram diante dos deuses do samba, expressados pela figura do Rei Momo do carnaval de 2022, Wilson Dias. No tripé, Wilson estava sentado em um trono à frente do brasão da Ilha e de um conjunto que remeteu a pequenos barracos como que representando a comunidade insulana.

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Em determinado momento o rei da folia descia e interagia com os arlequins, sambando inclusive. Destaque para a atuação muito expressiva de Wilson e o sorriso destacado no rosto. No primeiro módulo, enquanto sambava, a coroa do Momo chegou a balançar fazendo com que Wilson tivesse que segurar para não correr o risco da queda. Em outros módulos, continuou a impressão de que a coroa talvez estivesse um pouco solta, mas sem gerar nenhum problema concreto para a performance. No ato final, o trono virava e aparecia a presidente de honra da Portela, Tia Surica, reverenciada e aplaudida pelo público.

Ainda no ápice da apresentação uma componente vestida de águia aparecia acima do elemento, enquanto saía fumaça da alegoria e a bandeira das duas escolas homenageadas no enredo apareciam no chão e acima do tripé. No geral uma apresentação bastante pertinente com o enredo, explicativa e com surpresas que deram ao início do desfile o tom da emoção que o carnaval da Ilha propõe. Destaque para o apuro visual das fantasias dos arlequins e do Momo.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Thiaguinho Mendonça e Amanda Poblete, veio logo no primeiro setor atrás da comissão de frente, com a fantasia “enamorados”, representando bailes de máscaras que vieram de Paris para o Brasil envolvidos por um clima de glamour, elegância e desejo. O modelito trazia as cores da escola e era finalizado com uma bonita máscara alada com um bico prolongado trazendo a ideia do símbolo das duas escolas, a águia.

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Na apresentação a dupla apostou em uma coreografia mais tradicional. Já na entrada para a apresentação nos módulos, Amanda apostou em fortes rodopios mas com graças e sutileza. Thiaguinho realizava passos bastante precisos e com bom nível de dificuldade, trazendo na mão um leque que dava um charme a mais na apresentação. A dupla apostou em não pontuar muito a letra do samba, mas em concentrar os passos na aproximação e na delicadeza que a própria fantasia sugeria. No segundo módulo, quando Amanda estendeu o pavilhão para que Thiaguinho pegasse, o mestre-sala teve uma imprecisão, passando um pouco do ponto de pegada, mas ainda assim segurando no minuto final. Outro ponto a se destacar foi uma discreta participação dos guardiões no trecho do samba que cantava “Portela”, quando os componentes erguiam seus estandartes como saudando a homenageada.

Harmonia

A comunidade insulana começou o desfile cantando a obra de uma forma bastante intensa, gerando uma interação com o público e dando a impressão de que seguiria com o nível alto de canto até o final. Mas a partir do meio do desfile e principalmente quando comissão e casal terminaram a apresentação no segundo módulo, o terceiro e quarto setor da agremiação tiveram um desempenho mais irregular. Algumas alas cantavam com mais firmeza, outras menos, ou se limitavam mais a cantar refrões do samba.

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No canto destaque para as alas “lendas e festas das Yabás”, “o encontro” e “foliões mascarados”. Neste quesito, Igor Vianna nada teve de ponto negativo, mostrando segurança, intensidade e correção musical, junto ao seu carro de som, tirando da obra tudo que era possível para o desfile. Na parte de cacos, o cantor também foi bastante sucinto, realizando nos momentos que o samba pedia e o incentivo ao canto dos componentes também não foi exagerado e não poluiu o canto do samba.

Enredo

O enredo “O encontro das águias no Templo de Momo” comemorou os 70 anos da União da Ilha recebendo a Madrinha Portela para festejar o Centenário da da mais antiga e vitoriosa Escola de Samba do Carnaval Carioca. O primeiro setor mostrou uma breve história do carnaval carioca e sua origem nos salões de Paris. Logo depois, a escola trouxe a sua própria origem, a relação da União da Ilha com o Cacuia e sua descendência do futebol. Em seguida, o desfile apresentou, com um pouco mais de nostalgia, um flash de como era o Carnaval Carioca nas ruas e nos salões. Por fim, o desfile encerrou rendendo homenagens ao Centenário da Portela, escola Madrinha. As fantasias apresentaram o enredo de forma satisfatória e a homenagem teve o clima nostálgico e alegre que o tema pedia.

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Evolução

A União da Ilha fez uma evolução sem maiores problemas durante os seus 53 minutos de apresentação, se permitindo a terminar com calma e brincando carnaval o seu desfile. Não houve a apresentação de buracos pela escola durante toda a passagem da pista, com a agremiação compacta, com as alas com bom volume de integrantes e os componentes brincando carnaval em sua maioria. Alas coreografadas só foram percebidas já no último setor como a ala ” águia altaneira” que representava o animal símbolo da Portela.

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Os componentes realizavam uma coreografia leve e tomada pela delicadeza de movimento se aproveitando das grandes, mas leves faixas de tecido que vinham em suas costas. A bateria entrou no recuo com 38 minutos e saiu com 45, em ambos os momentos sem causar prejuízo a evolução com fluência da escola que não teve grandes momentos parada e que no geral viu seus componentes se deslocarem com espontaneidade e alegria.

Samba-enredo

A obra de Noca de Portela e companhia tem uma característica mais doce, melodiosa, quase nostálgica. O refrão “Benção Dindinha” não procurou explodir mas estar na boca do componente de forma dolente, agradável. A letra do samba em sua primeira estrofe fazia alusão a algumas obras famosas da Ilha, também homenageada no enredo, como nos trechos ” a união vem brincar”, “o amanhã”, “domingo” e “o rei mandou festejar”.

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A obra teve um bom rendimento na Avenida, muito pelo andamento agradável colocado pela bateria, mas sem ser tão explosiva e sem contagiar tanto o público que estava do lado de fora da pista. No canto o destaque ficou principalmente para o refrão principal “Benção Dindinha hoje eu quero sambar” e na segunda do samba o trecho que cita a Portela. A segunda do samba parecia ter um rendimento menor em termo de canto, preparando para o refrão principal que era o mais cantado como citado acima.

Fantasias

A União da Ilha apresentou um conjunto de fantasias que apostou inicialmente nas cores da escola insulana, vermelho, branco e azul, em alguns momentos trazendo um pouco do dourado para contrastar e produzir um bonito efeito, como na primeira ala “o grande baile”, que fazia referência aos bailes mascarados. Em um outro momento, no terceiro setor que lembrava os antigos carnavais, a aposta foi no colorido e na utilização de mais cores diferentes dos tons da Tricolor Insulana. No último setor, em uma homenagem mais explícita a Portela, o azul brilhou na paleta de cores, contrastando com cores mais claras como branco e o prata.

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No geral, os figurinos apresentavam um volume expressivo mas sem tornar a roupa pesada para o componente. Os materiais eram de boa qualidade e faziam referência principalmente ao universo dos personagens da folia carnavalesca. Como ponto negativo, é importante citar a ala número 09, “bufões anunciadores” que passou pela Sapucaí sem chapéu. Destaque em termos de apuro visual para a ala de passistas “os grandes bailes” e a ala “foliões mascarados” pelo bonito contratos entre o azul e o rosa em tons mais claros.

Alegorias

O principal calcanhar da Ilha nesse desfile, não pelo apuro visual, que estava de muito bom gosto e com bom acabamento, mas pelo Abre-Alas “O Salão das Águias” que passou apagado pelo segundo e terceiro módulo de julgamento, o que deve gerar a perda de décimos preciosos. A alegoria representou o palco principal da festa para o encontro de Águias guardiãs que defendem os brasões das duas homenageadas e que viram seus ninhos na Avenida. Lindas máscaras aladas completaram a decoração do nobre salão, mas o problema com a iluminação tirou o efeito do olho na cor vermelha que passou bem no primeiro módulo quando a alegoria ainda estava acesa. O carro trouxe as cores da Ilha contrastado com o dourado.

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Destaque também para o tripé “Bar dos Poetas” que fez um tributo a Aroldo Melodia, Aurinho, Franco, entre outros. O elemento era bastante alto e trazia um interessante azul claro. A segunda alegoria ” O carnaval de nossas vidas” , no formato de um casarão secular com arlequins, pierrôs e colombinas, era o carro mais colorido e volumoso em relação a apresentar componentes em diferentes fantasias. As esculturas remetem a personagens do carnaval com facetas hilárias e irreverentes. O ponto alto foi a última alegoria “Obrigado, Madrinha Portela” que trouxe uma grande homenagem a Portela com a Águia mascarada, fantasiada para o grande baile relembrando o carnaval de 1995 da Azul e Branca de Madureira. O animal estava muito bonito, e a iluminação deu um brilho a mais na alegoria que trazia baluartes importantes da Portela.

Outros destaques

A bateria, outro grande destaque da noite insulana, veio de “arlequinados”, representando o personagem carnavalesco e sua roupa tradicional mas com as cores da escola . Mestre Nilo Sérgio, com um terno azul claro, veio ao lado do comandante da Baterilha, mestre Marcelo Santos. A rainha Juliana Souza fez em sua fantasia um tributo a Deise Nunes, que estava no Abre-alas, um dos ícones da beleza do carnaval carioca na década de 1990 que esteve à frente da bateria da União da Ilha.

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O figurino nas cores da escola tinha luzes de led. A ex- porta-bandeira Wilma Nascimento veio no último carro. Elymar Santos veio no segundo carro. No esquenta da União da Ilha, Igor Vianna cantou o samba de 1996, além do aclamadíssimo “Fatumbi”. A velha guarda em um bonito terno de risca de giz na cor azul que representou garbosamente os sambistas que cultivaram as primeiras sementes desta árvore frondosa, a Portela. O carnavalesco Cahê Rodrigues veio no final do desfile cumprimentando o público e com um sorriso no rosto.