Desde 2019 no principal grupo de acesso do carnaval carioca, quando ainda era chamada Série A, a Unidos da Ponte teve como melhor colocação um décimo lugar, justamente no ano da volta, quando reeditou “Oferendas” de 1984. De lá para cá, a agremiação ainda teve um 12º, e dois 11º, já como Série Ouro. Buscando começar a vislumbrar as primeiras colocações, além de sofrer menos com o perigo de voltar às demais divisões do carnaval, que atualmente desfilam fora da Sapucaí, a Ponte tem procurado melhorar os processos para que em um futuro próximo possa colher melhores resultados. É o que garantiu Tião Pinheiro, atual presidente da Azul e Branca da Baixada Fluminense, em entrevista ao site CARNAVALESCO, durante as gravações do álbum da Liga Rj, em Marechal Hermes.
“A Ponte está vivendo um momento completamente diferente, nós estamos tentando resgatar essa escola de tal maneira que muito em breve ela se qualifique, se capacite para estar brigando pelas primeiras posições. Eu vou fazer em 2024 dez anos trabalhando na Ponte, ocupei a vice presidência durante boa parte deste período, é meu primeiro comando efetivo da escola, então a gente resolveu remodelar diretoria, dar continuidade ao que funcionava, resgatar alguns nomes que contribuíram muito em algum momento com a escola”, explica o novo mandatário.
Uma das medidas foi manter a dupla que deu certo no desfile de 2023: o intérprete Kleber Sorriso, uma aposta do carnaval de Vitória, e o mestre Branco Ribeiro, que vai para o terceiro desfile à frente do “Ritmo Meritiense”. Branco revelou que, passado dois desfiles comandando os ritmistas da agremiação de São João de Meriti, já consegue dar uma cara à bateria e sobre a gravação no M&C Studio, trouxe uma parte do que vai levar para a Sapucaí.
“Neste terceiro ano acredito que a gente consegue de forma mais efetiva implementar a nossa identidade, consegue fazer o que a gente entende como a nossa cara, como a cara de São João de Meriti, dentro de todas as circunstâncias em que a escola se encontra. Iniciamos nossos ensaios de bateria no início de outubro, já passamos para os ritmistas as ideias que tínhamos desenvolvido em cima do samba, já havíamos desenvolvido muita coisa no período de disputa, então já nesse processo implementamos todas as nossas ideias, só ficamos aguardando mesmo esse período final para saber se haveria alguma alteração na obra ou alguma outra novidade. Evidentemente, para a faixa vamos trazer apenas uma parte do que planejamos, até para preservar a questão musical, não infringir tanto na obra para as pessoas poderem aprender de forma legal a letra. Mas com esses arranjos que colocamos já vamos apresentar um pouquinho do que a Ponte vai levar para a Sapucaí”, avalia o jovem mestre.
A Unidos da Ponte levará para a Avenida o enredo “Tendendém – O axé do epô pupá”, que contará a saga do dendê desde a sua origem mítica em terras africanas, chegando no Brasil através da diáspora. O tema está sendo desenvolvido pelo carnavalesco Renato Esteves. Adepto de impressionar o público, não só com a batida, mas com surpresas e, muitas vezes, com movimentações diferentes da bateria pela pista, mestre Branco Ribeiro pensou para o carnaval 2024 em focar mais no ritmo, na parte musical que o enredo oferece para o “Ritmo Meritiense”.
“Esse ano a gente deve abrir um pouco mão desses artifícios, até mesmo pela temática que o enredo oferece, muitas vezes nos dá o contexto cênico, e a gente não encontrou nenhum recurso que a gente pudesse fazer, porque a gente sempre faz algo quando o enredo abre essa possibilidade. Enredos abstratos abrem a possibilidade de ter algum tipo de interação neste sentido, esse enredo com a temática mais afro, a gente pensou em focar mais na questão musical do que estes movimentos, mas sempre tem uma surpresinha”, confessa o diretor de bateria.
Manutenção da aposta no talento que veio do Espírito Santo
“Epo pupá/ derrama no candeal, o axé do bambuzal, afefé de eruexim”, são os versos da cabeça do samba da Unidos da Ponte para o carnaval 2024, e quem ouvir, tanto na gravação do álbum da Liga RJ, quanto na Sapucaí, ou em ensaios, vai perceber uma forma bem singular no canto. Isso porque, neste trecho e no samba em geral, o intérprete Kleber Sorriso tem colocado toda a sua personalidade e a sua expressiva forma de cantar. Kleber foi uma aposta da agremiação para o carnaval passado, chegando às vésperas da gravação da faixa para o desfile de 2023, e agradando a diretoria pelo trabalho realizado. Vindo do carnaval de Vitória, o cantor tem dividido a atenção entre o trabalho no Espírito Santo e a Unidos da Ponte, mas compensando com muita dedicação, diálogo nesse bate e volta, Rio-Vitória.
“Eu moro em Vitória (Espírito Santo), e esse processo é altamente delicado, porque ele não envolve só duas pessoas, eu, o presidente e o mestre, nós estamos tratando de um samba que vai para a comunidade toda, e a ideia não é ser somente da comunidade, que também já é bastante importante, a ideia é expandir a obra, que seja ouvido em todas as agremiações e reverbere no mundo do samba, recebendo elogios. A gente conversa muito, foca nos detalhes, mexe na obra, é tipo o dendê, é o tempero”, compara o profissional.
A obra desenvolvida para o Carnaval 2024 foi composta pelos poetas Júnior Fionda, Tem-Tem Jr, Carlos Kind, Léo Freire, Vitor Hugo, Léo Berê, Marcelinho Santos, Jefferson Oliveira, Alexandre Araújo e Valtinho Botafogo. Para Kleber Sorriso essa parte de gravação da faixa é muito gostosa e muito importante para colocar na obra tudo o que for pensado pela coletividade da agremiação.
“Agora nós estamos nesta parte que é a execução do samba, fazendo as gravações em Marechal Hermes, trabalhando com a bateria que vai dar aquele molho, e nascer. É uma parte gostosa, a gente grava e depois todo mundo vai para a casa achando que podia fazer de novo, é uma coisa constante, vão surgindo ideias, e é uma obra que permite, é um samba com muito movimento, a gente quer o tempo todo mais coisas. É muita felicidade de estar participando mais um ano na Unidos da Ponte, ano passado eu tive esse prazer de cantar na Sapucaí, agora em 2024, com o enredo do dendê, agradeço o presidente Tião Pinheiro pelo convite e a confiança de poder participar, com o mestre Branco Ribeiro, e a nossa equipe musical, nós estamos montando tudo para fazer um grande espetáculo. A última escola da sexta-feira, podem esperar que será um grande desfile”, promete o cantor.
Ponte busca novos processos e cuidado mais rigoroso com componentes
Como apresentado logo no início da matéria, a Unidos da Ponte tem buscado melhorar os seus processos para tentar conseguir colocações mais acima na disputa do carnaval e a partir daí no futuro poder sonhar com um acesso. Agora como presidente da escola, Tião Pinheiro tem afirmado que a agremiação está dando qualidades às etapas e a estrutura da Ponte, através de parcerias.
“Tem uma Ponte diferente. Nós fizemos um trabalho de protótipos das fantasias, que estão sendo confeccionadas, foi um trabalho muito árduo, a escola não fazia protótipos. Sabemos o que vai ser produzido, dimensionamos tecido, temos poucas perdas e estamos levando a gestão da Ponte como a administração, com a condução do processo e pensamento de uma empresa multinacional, com indicador de performance, com objetivos e metas, para tudo funcionar. Fizemos até um processo seletivo de ateliês na hora da escolha. Hoje temos um barracão padrão em razão de uma parceria que fizemos com a União de Maricá, uma escola que hoje já chega com recursos, até por onde está localizada. A Maricá precisava de um espaço porque subiu, e a gente fez uma concessão de utilização do espaço físico, com o nosso ambiente de barracão na contrapartida de uma reforma completa. Claro que nós fizemos o esforço do nosso bolso, mas a Maricá nos ajudou no sentido de reformas. Isso é mais do que natural. É um espaço moderno. Isso tudo cuidado nos fez pensar que a gente realmente está conduzindo as coisas por um caminho legal”, acredita o presidente.
Tião também revelou que a agremiação tem procurado cuidar de seus componentes oferecendo acompanhamento de saúde, principalmente para ter foliões mais preparados para o desafio que é passar pela Sapucaí com as fantasias, além de dar dignidade à comunidade que reside ao redor da escola.
“Temos uma questão social muito importante que é a visão humanística da escola. São João de Meriti é um município muito desassistido, poder público muito ausente, é o lugar onde mais mora gente por metro quadrado, e portanto, as pessoas padecem muito de tudo. Na Ponte, eu criei um departamento de saúde, e estamos começando um trabalho, sobretudo, com baianas e velha guarda, outros segmentos com mais de 60 anos, para passar por infecto e endócrino, cárdio, dermato, para uma inspeção clínica simples, mas para saber como estão de saúde estas pessoas que muitas vezes carregam uma fantasia pesada. E vamos ajudar nesse acompanhamento”, promete o dirigente.
Com essas mudanças e iniciativas desenvolvidas ou prometidas para essa gestão, mestre Branco Ribeiro, que já possui uma história interessante na agremiação, que advém do cargo de diretor de bateria, mostra confiança para que a Ponte possa buscar objetivos maiores.
“Nestes meus oito anos de Ponte, eu posso dizer que eu vejo uma organização fora do comum da escola, acredito que o carnaval da Ponte, desde quando a Unidos da Ponte iniciou, com todo o respeito a história da escola, desde quando ela pisou a Marquês de Sapucaí, esse vai ser o maior carnaval da escola. Então, o pessoal que curte a Ponte, que tem um carinho pela agremiação, independente de toda a circunstância, pode esperar um grande carnaval da Unidos da Ponte, e se Deus permitir mais um grande desfile do Ritmo Meritiense”, espera o comandante do “Ritmo Meritiense”.
Em 2024, a Unidos da Ponte será a oitava escola a desfilar pela Série Ouro da folia carioca no dia 9 de fevereiro, sexta-feira de carnaval.