O carnavalesco Flávio Campello, da Tom Maior, prepara para o Carnaval 2024 o enredo “Aysú – Uma história de amor”, inspirado no mito grego de Orfeu e Eurídice com uma caracterização indígena. Ao longo da explanação do enredo, o artista e as demais lideranças da escola presentes na mesa principal demonstravam grande comoção, com destaque para o normalmente sério e focado presidente Carlão, que estava especialmente emocionado. Campello conversou com a equipe do site CARNAVALESCO e falou sobre o enredo e o sentimento de fazer parte da comunidade da Tom Maior.
“Essa família me acolheu de uma forma muito forte na minha vida. O que eu vivenciei em todo esse período que nós vivemos na pandemia, e a escola não saindo do meu lado nesse momento tão difícil, Carlão sempre me ajudando, dando aquela força que a gente precisa, porque nós também ficávamos preocupados com o que seria da gente naquele ano sem Carnaval. Falando como um trabalhador do Carnaval, um profissional do Carnaval. E a escola sempre me deu suporte, sempre me apoiou. Eu acho que isso vai muito além de um contrato de carnavalesco com escola. Acho que isso sintetiza um elo entre a gente de amizade. O Carlão para mim é um parceiro, que desde o primeiro momento sempre esteve comigo do meu lado. Acho que a maneira que tenho de retribuir isso é trazendo esse título para a Tom Maior que ainda não tem, que ainda não chegou aqui. Estamos batalhando e muito para conquistar essa estrela”, declarou o carnavalesco.
Flávio explicou que a ideia do enredo foi proposta por ele, mas o desenvolvimento do tema contou com a ajuda fundamental de dois artistas para ganhar as características que serão retratadas no desfile.
“A ideia do enredo surgiu de mim. Eu me deparei com essa possibilidade, de fazermos o enredo com essa roupagem. Só que tem a participação de pessoas que estão sendo muito importantes na construção. Temos o Erick Nakanome do Boi Caprichoso, que é um cara que tem me dado todo um suporte e aparato para que não cometamos nenhum equívoco de mitos ou de divindades. Ele vem traduzindo a minha proposta de uma forma muito legal. E o Felipe Diniz que é um cara que todos os anos sempre me presenteou com textos finalizados por ele. É um cara que consegue dar sensibilidade à minha pesquisa que talvez seja fria. Sou um cara acadêmico, historiador, e gosto de fazer mais densas. E o Carnaval precisa de que? De lirismo, poesia e leveza. Ele, há 15 anos, é responsável por dar essa leveza aos meus trabalhos”, destacou.
Questionado se, ao propor o enredo, seria uma forma de retribuição à escola pelo carinho relatado, Flávio Campello exaltou o amor como uma linguagem universal, explicando a importância que o sentimento teve ao longo dos últimos anos.
“Essa mensagem que vamos levar para a Avenida é de uma linguagem universal. Independente do nosso Orfeu esse ano ganhar um cocar indígena, a história do mito transmite uma essência muito forte. É a essência daquele elo que o amor tem que nunca vai se quebrar. Essa é a ideia nossa, mostrar para as pessoas que o mesmo Orfeu que já se vestiu de grego, que já ganhou roupas de malandro, ele estará vestido esse ano com fantasias indígenas, coroado com o cocar indígena. É um enredo que pra mim é um presente, assim como foi em 2023 e 2022. Estou em uma fase de enredos na Tom Maior muito feliz. É muito bom quando a gente entra nesse ano novo da forma como estamos entrando. A felicidade que está estampada no meu rosto é a felicidade estampada no rosto de todo mundo quando se deparou com a nossa proposta de enredo. Espero que todos gostem, a nossa ideia é levar para o público um desfile inesquecível. É sempre bom ser lembrado por algo que se tornou inesquecível naqueles quinhentos metros de Avenida que é o que a gente trabalha todos os anos para poder apresentar”.
Mitologia misturada às lendas indígenas
A história a ser contada será a de Abaeté e Anahí, personagens fictícios criados para encarnar seus equivalentes mitológicos. Abaeté recebe de Akuanduba, Deus da Flauta, e Anhum, Deus da Música, a missão de manter o equilíbrio e a harmonia na Terra dos Mil Povos. Anahí é perseguida pela divindade que representa a noite até ser atacada pela Boiuna, lendária cobra da floresta amazônica. A partir daí começa a jornada de Abaeté para trazer Anahí de volta à vida, tal qual no conto que inspirou o enredo.
Flávio Campello explicou que a ideia é dar à versão indígena do mito de Orfeu um final feliz, com uma mensagem exaltando o amor. “Um final feliz com uma mensagem de renascimento, de esperança. Uma mensagem de podermos ver o nosso irmão como um igual, sem discriminação, sem distinção de cor, de credo. Essa é a mensagem que queremos levar, que é simplesmente, puramente, o amor. Acho que só o amor é capaz de salvar esse mundo, explicou.
Durante a explanação, Flávio relembrou a grande ala única que separou duas alegorias no carnaval de 2023, e que se destacou no desfile pelo impacto visual causado. O artista garante que para 2024 a Tom Maior seguirá investindo em segmentos impactantes.
“Nós estamos trabalhando com a possibilidade de alas mais cênicas e coreografadas, com nuances de teatralização que é uma das coisas que acho que precisamos ter no Carnaval para tornar o desfile mais atrativo. Acho que quem faz o espetáculo somos nós”, ressaltou.
Flávio Campello exala a vontade da Tom Maior de conquistar seu inédito título no ano de seu cinquentenário, olhando para os céus e pedindo as bençãos de um dos maiores nomes da história do carnaval brasileiro.
“Peço para que Fernando Pinto, que é o cara que representa para mim esse tropicalismo, que para mim é um dos maiores indigenistas que já tivemos no Brasil através do Carnaval me inspire e possa me abençoar. Fernando Pinto, pelo amor de Deus!”, finalizou.