Manga03No enredo criado pelo carnavalesco da Mangueira, o senso crítico tem dado o norte da proposta estética que aos poucos o artista tem revelado através de suas redes sociais. Leandro Vieira parece ter encontrado na comunidade da Estação Primeira a parceira ideal para vestir suas ideias. Ambos vivem uma sintonia mútua de cumplicidade: o carnavalesco parece ter sido moldado para conceber para o espírito daquela comunidade, e a comunidade verde e rosa parece ter nascido para personificar aquilo que o carnavalesco cria. Não à toa, o artista e a comunidade vivem uma lua de mel que já dura quatro anos.

Manga02Através das redes pessoais Leandro tem incentivado a comunidade a vestir-se com a gana e a força dos heróis que ele pretende revelar ao grande público. Nos últimos dias o artista tem exaltado a luta indígena e quilombola, revelando parte do projeto de figurinos que ele quase sempre guarda em segredo, para que a comunidade verde e rosa tome conhecimento daquilo que ele produz no barracão.

As imagens – sempre acompanhadas de textos explicativos – de um modo geral fazem com que os seguidores e a comunidade se questionem sobre o conhecimento dos nomes dos heróis e das lutas que de alguma forma não foram difundidas no imaginário coletivo. Para o artista, trata-se de uma oportunidade para difundir nomes exemplares num meio onde a representatividade é fundamental.

Manga01“Não quero que a comunidade vista apenas uma fantasia. Quero que eles personifiquem heróis de lutas nem tão distantes assim, tampouco, encerradas. Que ao findar o carnaval fique parte da fantasia que vestiram. Que ao tirar a fantasia, fique, como uma purpurina difícil de soltar da pele, a memória de Esperança García, Cunhambebe, Maria Felipa, Aqualtune, Sepé Tiaraju e tantos outros mais”.

Para explicar os figurinos divulgados, Leandro emitiu um breve comentário sobre a representação das roupas, em suas redes sociais.

“Você já ouviu falar nos nomes de Cunhambebe ou Sepé Tiaraju? Conhece a ‘Guerra de Açu’ ou a ‘Confederação dos índios Cariris’? Sabe das gotas de sangue derramadas por cada centímetro de terra indígena não demarcada? Sabe os nomes das etnias exterminadas em batalhas que resultaram em lutas inglórias?  Para criar o enredo ‘História pra ninar gente grande’ e parte das fantasias das alas da Mangueira de 2019, pensei muito nisso: Tanto sangue de índio derramado e a gente não sabe quem eles são. Suas dores, seus nomes, sua arte, sua resistência secular. São mortos ‘nossos’. Legiões de homens comuns. Heróis que os nomes não foram para os livros e a memória não se perpetuou. Guerreiros que não experimentaram a ‘indolência’. Os ‘primeiros’ a portarem aquilo que ‘resiste’ em cada um de nós. Arde e queima na fantasia que vestirá nossos corpos o sangue de cada índio abatido. Quando o calendário marcar os dias de folia, a Mangueira, ao vestir a ‘fantasia’, fará de todos nós – sem exceção – o ‘filho’ ou o ‘herdeiro’ de um índio cujo o espirito eles não conseguiram matar”

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