Na última segunda-feira, 1º de setembro, o Museu do Samba, localizado na Rua Visconde de Niterói, em Mangueira, recebeu o primeiro encontro do ciclo de debates promovido em parceria com o CARNAVALESCO, em comemoração aos 18 anos do portal. O evento marcou o início de uma série de mesas-redondas que seguirá até dezembro, reunindo sambistas, jornalistas, pesquisadores, dirigentes e apaixonados pela festa para refletir sobre memória, patrimônio e os desafios do futuro do carnaval.
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Além da participação de representantes do mundo do samba, o encontro contou com veículos de comunicação que cobrem o carnaval durante todo o ano, convidados pelo CARNAVALESCO para fortalecer o diálogo e ampliar a pluralidade de vozes nesse debate tão necessário.
A presidente do Museu do Samba, Nilcemar Nogueira, destacou que a parceria com o CARNAVALESCO nasce da necessidade de unir forças para proteger tradições e promover uma reflexão coletiva sobre o atual cenário da maior manifestação cultural do país:
“Alberto é um amigo de longa data, e a ideia de unir esforços vem do que temos em comum: chamar o público e os envolvidos na construção do carnaval para a reflexão. Já em 2007, quando conduzimos o processo de patrimonialização do samba, todas as ameaças estavam listadas. Hoje, o carnaval está sob forte risco. Esta casa existe para proteger nossos corpos, saberes e tradições e para manter viva a memória de quem carrega essa cultura”, afirmou.
Nilcemar ressaltou que o samba, enquanto patrimônio imaterial do Brasil, precisa ser tratado com mais cuidado e valorização:
“O samba é um grande aquilombamento, uma forma de expressão e de afirmação do povo preto, historicamente excluído. Quando o samba se torna excludente ou não compartilhado com quem é o esteio dele, corremos um risco enorme. Quem sustenta o tronco é a raiz. Se começarmos a cortar essa raiz, a árvore tomba. A parceria com o CARNAVALESCO presta um serviço essencial ao patrimônio nacional, levando essa discussão para um público mais amplo.”
Outro ponto debatido foi a importância de pluralizar narrativas sobre o carnaval. Nilcemar alertou para os perigos de uma única versão da história, principalmente diante do crescimento dos canais de transmissão próprios das escolas e da Liga:
“Quando uma escola ou a própria Liga cria o seu canal, corremos o risco de termos apenas uma forma de contar a história. Já vimos isso antes, com a narrativa do nosso país sendo moldada por um único olhar. Isso ameaça a democracia. A imprensa, como o CARNAVALESCO, cumpre um papel fundamental para que o samba seja contado de forma plural e sensível”.
A presidente também destacou que os encontros oferecem um espaço de acolhimento e escuta para quem dedica a vida ao samba:
“Aqui estão reunidas pessoas que amam o samba, mas também especialistas que acompanham sua evolução há décadas. É essencial que sejam ouvidos e que os debates sejam feitos com sensibilidade. Hoje, por exemplo, ouvimos críticas sobre como o carnaval vem sendo transmitido ‘como se estivéssemos no vestiário’, o que revela uma falta de cuidado e valorização do sambista. Precisamos rever essa relação para envolver mais gente na preservação e no respeito à festa”.
Para Nilcemar, além de ampliar o debate, a parceria tem um papel importante para o próprio Museu do Samba:
“Queremos que mais pessoas conheçam o museu e entendam nossa missão de contar a história social do samba e preservar suas práticas tradicionais. Essa parceria abre espaço para mesas pensantes que discutem não só a memória, mas também as mudanças necessárias para garantir o futuro do carnaval. O samba é patrimônio imaterial do Brasil, e isso exige pensar desenvolvimento humano e social, não apenas o viés econômico ou o uso dos corpos dos guardiões dessa cultura”.
O ciclo de encontros seguirá até dezembro, sempre no Museu do Samba, com mesas que abordarão temas como patrimônio cultural, sustentabilidade do carnaval, preservação da memória e valorização dos sambistas. A proposta é fortalecer o elo entre quem faz a festa e quem a consome, garantindo que o carnaval seja discutido, compreendido e vivido como um bem coletivo.