O Carnaval do Rio de Janeiro, conhecido mundialmente por sua grandiosidade e diversidade, foi palco de um momento histórico este ano. O Paraíso do Tuiuti trouxe para a avenida uma homenagem que celebrou a resistência e a luta de 28 mulheres trans e travestis que marcaram a história do Brasil e do mundo. O desfile, além de uma festa, foi uma aula de respeito, diversidade e visibilidade para a comunidade LGBTQIA+.
Em uma homenagem que une ancestralidade africana e luta contemporânea, a ala “NGangas Ancestravas” celebrou a ancestralidade da primeira travesti não originária do Brasil. Em um tributo à resistência, a fantasia homenageou 28 mulheres trans e travestis que fizeram de suas vidas uma bandeira de guerra. Figuras como Brenda Lee, Dandara Ketley e Gisberta Salce foram homenageadas pela suas lutas por igualdade e respeito no figurino que mesclou as cores da bandeira do movimento trans com os NGangas Africanos.
Wissone Landim, 20 anos, francês morando no Brasil, expressou seu orgulho em participar da homenagem. “É uma novidade e quero que essa novidade seja uma mensagem positiva para a sociedade. A mensagem da ala é de tolerância, algo que estamos precisando muito neste mundo que está de cabeça para baixo”, afirmou.
Wissone destacou a importância de trazer à tona histórias que muitas vezes são ignoradas. “Muitas dessas mulheres tiveram seus feitos apagados por não corresponderem ao padrão da sociedade. Precisamos mudar essa visão”, declarou.
Ralph Duccini, 32 anos, componente da ala, compartilhou sua emoção ao representar uma fantasia que homenageia essas mulheres. “Como pessoa transmasculina, me sinto honrado em representar essa parte da nossa história. É importante lembrar aquelas que vieram antes de nós e que foram assassinadas, mas que deixaram um legado de luta e resistência”, disse Ralph. Ele destacou a importância de figuras como Brenda Lee e Dandara, estampadas na fantasia da ala, que inspiram pela coragem e pela luta por direitos básicos.
Sayoan Príncipe, de 33 anos, ressaltou a importância da homenagem para sua existência como homem trans. “Essa homenagem significa minha existência. As mulheres trans sempre estiveram à frente na luta, e sem elas, não estaríamos onde estamos hoje. Esse desfile é um fato histórico”, afirmou. Sayoan destacou a importância de personalidades como Dani Balbi e Giovana Baby, que lutam pelos direitos da comunidade trans.
Aloísio Costa, de 31 anos, que desfilou pela primeira vez na Sapucaí, falou sobre a importância de dar voz a essas histórias. “Essas pessoas existem, têm nome, força e rosto. Passar pela avenida com esse tema é algo histórico, é dar voz a quem sempre foi silenciado”, disse ele. Aloísio acredita que a sociedade precisa ser mais empática e entender que as pessoas trans são seres humanos como qualquer outro, com necessidades e direitos.
Para Daniel Hassen, de 26 anos, o desfile do Tuiutí pede respeito à comunidade trans. “O Carnaval é uma festa conhecida mundialmente, e trazer esse tema para a avenida é uma forma de mostrar para o mundo que precisamos de mais respeito e compreensão”, afirmou Daniel. Ele ressaltou que a luta por direitos e visibilidade deve continuar além do Carnaval.
O desfile da Tuiuti foi mais do que uma celebração; foi um ato político e educativo. Ao homenagear mulheres trans e travestis que foram apagadas pela história, a escola de samba trouxe à tona a importância de reconhecer e valorizar a diversidade. Em um mundo onde a intolerância ainda é uma realidade, o Carnaval da Tuiuti mostrou que a luta por respeito e igualdade deve ser constante e coletiva.
A mensagem do desfile ecoou além da avenida: é preciso olhar para o passado para construir um futuro mais justo e inclusivo. As histórias dessas 28 mulheres, agora celebradas, servem de inspiração para continuar lutando por um mundo onde todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero, possam viver com dignidade e respeito.