Por Vinicius Vasconcelos. Fotos: Toninho Ribeiro
Sonhando em conquistar o campeonato que não vem desde 1986, a Unidos da Piedade vai retratar a história dos felinos em seu desfile. O enredo “Felis Catus, Sagrados e Mal Ditos” propõe uma reflexão a história do gato na humanidade desde quando ainda era uma divindade, passando pela marginalização do bichano imposta pela igreja católica até chegar nos dias atuais em que o gato é personagem de diversos desenhos infantis.
Paulo Balbino, o carnavalesco da escola, conversou com nossa equipe e confidenciou que o enredo está guardado há alguns, quando ele ainda tinha um certo preconceito com os gatos.
“Minha filha havia comprado um gato, quando cheguei em casa vi uma bolinha de pelo no canto e perguntei o que era. Eu tinha um preconceito sobre ele e não queria que ficasse na minha casa, perguntei até porque minha filha não quis um cachorro. Esse ano ela engravidou e por causa do bebê o gato ficou um tempo comigo e simplesmente me adotou como dono. A gatinha Mel é a responsável por esse enredo. Ela é a motivação disso tudo pois transformou a minha vida e me libertou do preconceito sobre o animal. Fiz então uma pesquisa e vi que não era nada daquilo que eu achava. Achei inúmeras qualidades inclusive cientificamente comprovadas de que o afeto do gato diminui a pressão arterial, por exemplo. Além de ser um excelente companheiro para crianças e idosos devido a troca de afeto”.
Após as descobertas positivas a respeito do animal, coube a Paulo colocar tudo no papel e criar uma linha de raciocínio para resumir a história milenar em alas e alegorias. E segundo ele, o resultado está sendo bastante positivo.
“Descobri que o primeiro registro do gato é no Egito. E como tudo por lá sempre foi misterioso desde a criação das piramides, a história dele também não é diferente. Ele vem carregando isso consigo. Acreditava-se que ele é a personificação da deusa da fecundidade. Lá o animal era tratado como realeza. Não podia ser comercializado, não podia ser morto, caso contrário haveria punições severas. Com as guerras territoriais e a vitória do império romano, as caravanas saem levando essa devoção a deusa Bastet. Gregos e persas também adotam o culto a essa divindade. Toda parteira pedia proteção a ela. Chegando a idade média a igreja católica com o intuito de dominar, não queria nenhum outro tipo de culto. Com isso, o papa Gregório Nono começa a se incomodar com o panteão de deuses e persegue o povo local. Institui então a inquisição onde toda mulher que tivesse gato de cor preta seria perseguida queimada na fogueira como bruxa. Mas, com a lógica da cadeia alimentar, onde se matando os gatos aumenta-se a população de ratos, a peste negra devastou 1/3 da população europeia. Passou-se o tempo e perceberam que o gato era o predador do rato e a partir daí os filósofos e intelectuais se apaixonaram pelos felinos, assim como Shakespeare. Também existem várias lendas de que os gatos eram elementos de sorte nas embarcações. Mais a frente vieram as histórias como “O gato de botas” popularizando ainda mais o animal. Ney Matogrosso, já contemporâneo, imortalizou em canções. Marisa Monte e outros mais. As pessoas passaram a ver o bicho como um excelente companheiro para se ter em casa. A TV tem um grande papel nisso”, contou o artista.
Considerado por muitos um dos carnavalescos mais exigentes e perfeccionista de Vitória, Paulo explica que com a crise que afeta todos os setores do país, esse ano está sendo ainda mais trabalhoso.
“Eu nunca passei por uma crise tão grave. Não pela falta de material mas também de mão-de-obra qualificada. As pessoas querem receber mas não procuram se profissionalizar. Querem acabar o serviço rápido mas não se atualizam. Os profissionais de Vitória estão escassos. Sou muito perfeccionista, tenho dificuldade muito grande em confiar nas pessoas para executarem meu projeto. Esse ano estou com a comissão de frente e mais duas alas de passo marcado. Além da coreografia as roupas também são confeccionadas por mim. Participo de tudo. Não sou aquele que idealiza o projeto e entrega pra outro, não fico passivo na construção do carnaval. É complicado porque preciso me desdobrar”.
Entenda o desfile:
Setor 1: Egito onde o gato era divindade
Setor 2: Outras civilizações que passaram a cultuar como deus
Setor 3: Idade média quando o gato foi perseguido
Setor 4: Passa a se aproximar novamente do homem
Setor 5: O gato famoso
Ficha técnica:
Enredo: Felis Catus, Sagrados e Mal Ditos
Presidente: Edvaldo Teixeira da Silveira
Carnavalesco: Paulo Balbino
Diretor de harmonia: Wesley Denadai
Intérprete: Danilo Cezar
Compositores do samba-enredo: Alan Rabelo, Djalma Junior, Fernando Britho, Igor Cabral, Leandro Bonaza, Leandro Corrêa, Rafael Mikaiá e Roberth Melodia
Mestre de bateria: Sapo
Rainha de bateria: Rose de Oliveira
Coreógrafo comissão de frente: Paulo Balbino
Alas: 22
Alegorias: 4
Tripés: 2
Componentes: 1800
Baianas: Bruxas da inquisição
Bateria: Vikings
Casal de mestre-sala e porta-bandeira: Deus sol no e deusa Bastet