Por Vinicius Vasconcelos
No desfile 2019 a Mocidade Unida da Glória mostrou na avenida que seu pré-carnaval altamente positivo poderia novamente consagrá-la ao título. Saiu da avenida ovacionada aos gritos de “É campeã!” que ecoavam da dispersão a concentração, passando pelos camarotes e mesas de pista. Mas quiseram os jurados consagrar a Boa Vista como campeã, deixando a escola de Vila Velha na segunda colocação, ao lado da Novo Império, ganhando no quesito de desempate. Se por um lado o vice-campeonato num ano é negativo, para a vermelho e branco no outro pode ser de alegrias. De 2011 a 2019 a escola levou cinco campeonatos e quando não foi campeã ficou em segundo lugar. Historicamente ficar em segundo num ano, significa ser campeã no ano seguinte para a MUG.
Tentando manter o saldo positivo, a escola levará para 2020 o enredo “Oby: O Imaculado Santuário das Lendas”. Desenvolvido pelo carnavalesco Osvaldo Garcia, que assina pela terceira vez o carnaval da agremiação. Para o site CARNAVALESCO, quem explicou o desfile foi Patrick Rocha. Que além de diretor administrativo é um dos revisores do enredo.
“O enredo surgiu de um pedido da diretoria executiva em buscar uma história que retratasse a raiz capixaba. Olhando para o passado da MUG observamos que na nossa história não havia temática indígena. O que mais se aproximava era “Amazonas, Lendas e cobiças”, de 1987. Vimos que era hora de falar do tema e aprofundar no índio capixaba. A pesquisa de “OBY” foi feita e identificamos várias lendas do ES que não são conhecidas pelo grande público. A mais famosa é a do pássaro de fogo que conta história do Mestre Álvaro e Moxuara. Bebendo na bibliografia de Maria Estela de Novaes (folclorista que se especializou no Espírito Santo), encontramos manuscritos com lendas indígenas. Descobrimos a lenda da tribo cintilante, que ficava em cima de uma mina de ouro. Da suposta mina de esmeralda de Hidrolândia, na região do Caparaó. Passamos também na história da antropofagia. Porque muito é vendido que o índio capixaba canibal, selvagem e que fazia isso fora de um contexto. Sendo que o canibalismo no ES era feito dentro de um ritual dos índios botocudos que consumiam a carne humana com o intuito de se tornarem mais forte. Iremos desvendar o canibalismo. A proposta é poética e não tem cunho histórico. Seguimos na linha fantasiosa de passear pelos personagens das lendas. O enredo vai narrar um náufrago holandês que chega nesse cerco verde e encontra os personagens. Os indígenas tem várias explicações para fenômenos da natureza, vamos explicar como eles entendiam esses movimentos. É uma ode a cultura indígena, queremos exaltar esse povo que foi dizimado com a chegada do homem branco”.
Questionado sobre a trajetória de sucesso da MUG ao longo dos anos, Patrick garantiu que o modelo de gestão da agremiação se aproxima ao de escolas do Rio e São Paulo. E confidenciou que hoje apenas 1/4 do que é gasto nos desfiles vêm de dinheiro público.
“Nossa fórmula de sucesso parte de uma administração continuada. No planejamento que fizemos em 2010, pensamos até 2030. Revisamos de 2015 para chegar até 2020. E na nova revisão traçamos até 2030. Onde estamos e até onde queremos chegar. O reflexo disso vem na avenida. Nós uniformizamos nossa linguagem e isso traz a comunidade para perto. Muito se engana quem diz que não temos comunidade. Abrangemos toda região 1, que territorialmente inclui Centro, Itapuã, Praia da Costa, Aribiri, Soteco e um pedaço de Santa Ines. Nosso alcance é grande. Um trabalho sério que fazemos o ano inteiro. Nosso barracão ficou pronto na última terça-feira. A cada dia durante o ano havia um cronograma e ele precisava ser executado. O carnaval da MUG hoje gira em torno de 1 milhão e 200 mil reais e apenas 1/4 disso vem de financiamento público. A maior parte nós já desenvolvemos e caminhamos para auto sustentabilidade. Quando afirmarmos que não dependemos mais de subvenção, é porque chegamos onde planejávamos. Queremos ser independentes”.
Assim como no Rio de Janeiro, os famosos “sambas encomendados” também criam polêmicas no Espírito Santo. A MUG é uma das escolas que abriu mão da disputa e cabe a aos compositores Diego Nicolau e Dudu Nobre escreverem o samba. Sobre esse assunto Patrick afirmou que sempre existirão dois lados numa disputa, mas cabe a gestão da escola tomar a atitude certa.
“É uma faca de dois gumes a disputa de samba enredo. Nós temos primeiro que entender quem faz parte da MUG. Na disputa de samba-enredo acaba fragmentando a escola. A direção vê como um todo, mas alguns compositores e torcidas não encaram isso de maneira madura. É uma pena porque não conseguimos fomentar a nossa ala. Em contra partida, fomentamos a escola por inteira. Infelizmente abrimos mão de uma coisa para ter outra. O bom é que as pessoas que se sentem insatisfeitas acabam comprando a ideia e cantando o samba-enredo. Não compensa ter uma comunidade enfraquecida por causa de uma disputa. Fora que tecnicamente com um samba encomendado temos quase que a certeza do 10”, declarou Patrick.
Setor 1
“Pindó-rama – o delírio antropofágico”.
Setor 2
“Cúmplice feitiço – o pássaro de fogo”.
Setor 3
“Sumé – o espírito conciliador”.
Setor 4
“Reluz a tribo cintilante”
Setor 5
“O derradeiro paraíso – as águas cor de esmeralda”