Por Vinicius Vasconcelos. Fotos: Toninho Ribeiro
Durante 1992 a 2001 o carnaval capixaba passou por um momento de reestruturação e não houve competição, apenas apresentação das escolas. Quando a competição voltou a valer a partir de 2002, uma escola despontou por quase toda a década: a Unidos de Jucutuquara. Campeã em 2002, 2004, vice em 2005 e campeã novamente em 2006, 2007, 2008 e 2009, com o espetacular desfile sobre o Convento da Penha. Que para muitos, foi o divisor de águas da maneira de pensar carnaval em Vitória.. Com esculturas gigantescas e fantasias luxuosas a Jucutuquara sobrou no Sambão do Povo e sagrou-se tetracampeã. Apesar de ainda ser uma gigante entre as escolas, seu protagonismo foi sendo substituído por desfiles que apenas passavam pela avenida e não brigavam por campeonato. Os motivos foram os de sempre. Dívidas se acumulando de administração para administração e com isso os carnavais eram os principais prejudicados.
Porém, em abril de 2018 uma diretoria já conhecida dos torcedores voltou a dar as ordens na coruja. Presidida por Rogério Sarmento e com o lema #TodosPorUmaNação os novos gestores prometem fazer novamente a Jucutuquara brigar por posições mais altas. E para isso, algumas movimentações foram feitas no quadro de profissionais. Orlando Júnior, três vezes campeão na própria agremiação foi contratado. O intérprete Kléber Simpatia que estava na Unidos da Piedade retornou. E Rafael Brito e Nay Nascimento assumiram o cargo de primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira.
O site CARNAVALESCO conversou com um dos integrantes da comissão de carnaval da escola, Armando Chafik, que explicou sobre o enredo e qual a forma de abordagem para contar a história do Bispo do Rosário.
“A Jucutuquara sempre teve uma tradição de fazer concursos de enredo. Nós abrimos para comunidade que escreve e apresenta as propostas. Dentre as diversas que tivemos uma delas era a do Bispo do Rosário que foi sugerida pelo próprio Orlando. Essa foi uma das mais interessantes e percebemos que daria para fazer um carnaval com materiais reciclados, diminuindo os custos e vislumbrando um desfile diferente. Vamos contar a história do bispo a partir do momento da anunciação, quando ele recebe a sua missão. Invertemos um pouco para não ficar um enredo cronológico, afinal o próprio personagem que é fio condutor afirmava ter simplesmente aparecido. E só se tornou bispo a partir dessa missão de criar o inventário e propagar pelo mundo. Começamos a partir daí e vamos contando de forma lúdica, principalmente para apresentar o bispo ao povo capixaba. A história dele é muito conhecida no Rio mas muitas pessoas em Vitória não conheciam suas obras, essa é nossa missão”.
Armando confidenciou que está sendo preciso arrecadar dinheiro para dois carnavais. Um para ser mostrado na avenida e outro para pagar dívidas deixadas por administrações passadas. Mas mesmo assim, as pretensões da Jucutuquara são grandes e o público já perceberá a diferença da nova gestão.
“Nosso grande desafio é resgatar a Jucutuquara. Queremos novamente mudar a cara do carnaval capixaba assim como foi em 2009. Passamos pela fase difícil e esse retorno vem com a reestruturação. A volta do Rogério que era presidente do tetra e a volta do Orlando faz parte de um movimento de união das pessoas que estavam afastadas. Estamos todos por uma nação e queremos colocar novamente nossa escola na briga por títulos. Nosso presidente ficou 10 anos a frente da Liga, hoje possui uma bagagem gigantesca, um amplo conhecimento de carnaval e se tornou um grande gestor. A organização financeira está fazendo dois carnavais. O para pagar as dívidas e outro para organizar a casa. A ideia é que o público sinta a diferença a longo prazo, mas 2019 já será diferente. Com outra cara. Não sei se já vamos conseguir dar o salto para o campeonato logo no primeiro ano mas estamos trabalhando para que a escola cresça novamente”.
Com uma proposta pré-estabelecida de utilizar materiais alternativos e que ainda assim mantivessem o efeito desejado na avenida, Armando afirmou ver no Bispo do Rosário o enredo certo na hora certa.
“O desfile do Bispo acabou não saindo muito caro por conta dos materiais alternativos. As alegorias tem um custo não muito alto por conta disso. Dependemos de patrocínios e estamos conseguindo construir o carnaval com a ajuda dessas verbas. Quem estiver nas arquibancadas e camarotes pode esperar uma nova Jucutuquara. Grandiosa e voltando a fazer grandes carros e vindo para brigar”, garantiu o diretor.
Entenda o desfile
Setor 1: É quando o Bispo recebe a missão divina em meio a sete anjos com sua anunciação. Sua missão é criar o seu próprio universo. Vai mostrar todos lugares que ele passou, incluindo as igrejas, e termina na sua prisão.
Setor 2: Momento em que ele está na colônia e fazemos um retorno. Traz toda a obra criada por ele durante a internação com diversas referências a infância dele e ao nordeste. Festas religiosas como catumbi e tudo que foi visto por ele que refletiu em suas obras.
Setor 3: Momento de criação. Uma homenagem as obras como tabuleiro de xadrez e manto da anunciação.
Setor 4: Subida do Bispo aos céus. Morte e a ida ao reino como ele imaginava com ouro e prata. Última alegoria é ele levando as pessoas que conviviam ao seu redor como loucos, marginais, mulheres e que mesmo assim mereciam subir para o lado dele.
Ficha técnica
Enredo: O Rosário do Bispo e o seu delirante inventário do universo.
Presidente: Rogério Sarmento
Vice-presidente: Maurinho Carnaval
Carnavalesco: Orlando Júnior
Diretor de carnaval: Armando Chafik, Anderson Ferreira e Bernadete Ladislau
Diretor de harmonia: Marinilce Pereira
Intérprete: Kléber Simpatia
Compositores do samba-enredo: Luiz Felipe, Kátia Maués, Leonardo Reis e Igor De Boni
Mestre de bateria: Junior Caprichosos
Rainha de bateria: Schyrley Moura
Coreógrafo comissão de frente: Mauro Marques
Alas: 20
Alegorias: 3
Tripés: –
Componentes: 1200
Baianas: Momento religioso da mensagem que o bispo recebeu dos céus para criar o inventário
Bateria: Marinheiros, uma das profissões do bispo