Por Gustavo Lima e Fábio Martins
Na madrugada deste domingo, o Camisa Verde e Branco definiu o seu samba para o Carnaval 2024. O dia estava amanhecendo na Fábrica do Samba quando a presidente Érica Ferro discursou já com as palavras na letra da obra. Não era novidade que o samba de número 3 estava nos braços da comunidade e era o total favorito no mundo carnavalesco. É uma letra em que nos primeiros versos a melodia remete aos anos áureos da agremiação. O refrão principal é ‘chiclete’ e tem bastante significado. Faz menção a promessa do tema ao orixá Oxóssi, onde caso a escola um dia voltasse ao Especial, viraria enredo. Também tem-se a frase “Que Deus perdoe quem não é Camisa”. Isso diz bastante do que é a comunidade da Barra Funda, além de fazer uma alusão à regata “Que Deus perdoe essas pessoas ruins”, usada por Adriano Imperador em um jogo de futebol. A parceria vencedora é composta por: Fabiano Sorriso, Marcos Vinicius, Márcio André, Diogo Corso, Aquiles da Vila, Salgado Luz, Chanel Rigolon, André Cabeça, Tomageski e Biel. De Oxóssi a Adriano Imperador, o enredo é intitulado como “Adenla – O Imperador nas terras do rei”.
Hino da comunidade
A presidente da agremiação, Érica Ferro, elogiou significativamente a safra de obras recebidas e, também, ouviu o favoritismo soberano da comunidade que foi citado antes. “Graças a Deus foi um processo tranquilo, o Camisa teve sambas muito bons, foi difícil escolher, mas a comunidade abraçou esse samba do Fabiano Sorriso de uma tal maneira que não tinha como escolher outro samba. Esse hino que vamos levar para a avenida 2024 é perfeito”, disse.
Além disso, a mandatária disse que o Camisa Verde e Branco nunca deixará de fazer eliminatórias, visto que a comunidade gosta do sistema de escolha. “A nossa comunidade está acostumada com as eliminatórias né? Nosso povo gosta das eliminatórias, então o Camisa nunca vai deixar de fazer eliminatórias”, completou.
Declaração dos compositores
O renomado compositor paulistano, Aquiles da Vila, que já compôs em inúmeras escolas, fez o samba pela primeira vez no Camisa Verde e Branco e saiu vitorioso. O escritor descreveu a sensação. “Eu vi o Camisa pela primeira vez na Avenida Tiradentes. Meu pai falou para mim assim: ‘agora vem uma escola diferente, preste atenção’. Dali para frente tudo mudou na minha vida. Todo mundo tem essa escola no coração. Uma honra ser um dos compositores para zelar por esse manto onde nunca deveria ter saído. Obrigado por tudo”, comentou.
É fato que a figura de Adriano Imperador foi bastante criticada dentro de um enredo misturado com orixá, mas Aquiles foi na contramão. O compositor amenizou e, na opinião do próprio, é um grande tema. “Foram momentos maravilhosos. Foi o carro chefe do ano. Eu fiz um texto em maio falando que seria um ‘enredaço’ e todo mundo falou ‘poxa, mas o Adriano Imperador’. Eu falei para não julgarem. Reservamos isso para grandes momentos e assim foi. Refletir tudo isso na música é muito feliz”, declarou.
O ‘Trevo da Barra Funda’ subiu para o Grupo Especial após ficar 10 anos no Grupo de Acesso. Aquiles disse que é uma honra ter a sua obra representando essa volta. “Eu jamais imaginei uma coisa dessa. A gente acompanhou essa situação difícil do Camisa no Acesso. Vamos até o fim com a escola agora. É o primeiro ano que ganho agora. Que momento. Axé, Barra Funda.”, finalizou.
Outro compositor que compõe a parceria, Tomageski descreveu a emoção de vencer. “É uma sensação maravilhosa vencer um samba em uma escola tão gigante. Um quilombo do samba paulistano. Nessa retomada do Camisa para o Grupo Especial, nada melhor do que ganhar um samba. É um prazer enorme. Espero que o Camisa fique muitos anos no Especial, que é o seu primeiro lugar. “A gente teve tanto encontros presenciais como na internet até a obra ficar pronta e fazer a gravação no estúdio. É a segunda vez que eu participo do concurso e é a primeira vitória”, contou.
Bateria afinada
O mestre de bateria da “Furiosa”, Jeyson Ferro, brincou de ser cantor no anúncio. O diretor falou sobre o feito e, também, da escolha da obra. “Cantei o samba no palco lá, dei uma de intérprete. Mas eu sabia cantar todos os sambas, gravei o samba 7, samba 8, precisamos estudar os sambas antes que dá. O samba que der a gente sobe no palco e canta, tira uma onda, graças a Deus, então cantamos. Em cima do que você falou, deu esse samba do Fabiano, bom para a escola, chegamos em um acordo que era esse samba, agora vamos trabalhar duro, com força, encaixar as bossas no samba, para que tudo dê certo na avenida”, declarou.
Jeyson disse que na próxima quarta-feira já tem ensaio e algumas coisas prontas nas questões de bossas e arranjos. “Já estamos pensando um monte de coisa, foi o que falei, qualquer um dos quatro que desse, já temos as coisas prontas, não que seja tudo pronto. Geralmente colocamos uma ou duas coisas no decorrer do trabalho até o carnaval, sempre tiramos uma coisinha, colocamos outra aqui. Mas já tem coisa para quarta-feira que vem estar ensaiando”, completou.
Entendimento do enredo e importância das eliminatórias
Responsável pelo enredo, o carnavalesco Renan Ribeiro, falou da repercussão negativa do tema, mas elogiou o entendimento dos compositores. “Foi satisfatório pelo simples fato de que a gente teve grandes sambas, uma safra excelente, e é satisfatório saber que o enredo foi bem entendido, compreendido, apesar do lançamento ter sido muito hostilizado, o enredo. Os compositores entenderam realmente o que significava. E o Camisa Verde e Branco cumpriu a lição de casa, a obrigação de uma escola tradicional, que é fazer um grande samba. Tínhamos pelo menos três ou quatro sambas favoritos que dividiam a escola, até hoje, na final, estava muito dividido. Então para mim como carnavalesco, o processo foi prazeroso, é duro por um lado de você, no nosso caso hoje, escolhemos o samba que vai ser o hino de 2024, mas tivemos que deixar aqui na final, três sambas para trás também de uma qualidade absurda. Então, tendo uma safra deste tamanho, nesta proporção que o Camisa teve, torna o processo de eliminatórias prazeroso, pelo nível de qualidade, dolorido por deixar as outras obras de fora”, afirmou.
O artista, que é bastante ativo dentro da escola, falou da importância que tem um sistema de eliminatórias. “Eliminatórias tem dois pontos muito importante, o primeiro ponto é manter vivo a tradição da escola de samba, é manter vivo a tradição dos compositores, a prática da composição na escola. E o processo eliminatório é importante para que a gente veja a escola cantar, escutar ao vivo dentro da escola, o povo reagindo, a bateria tocar o samba, isso diferencia muito o processo, e torna mais próximo do que iremos ver no desfile. E aí acaba talvez, deixando, nossa escolha mais assertiva”, completou.
Volta com ‘sambaço’
O intérprete oficial, Igor Vianna, foi outro que elogiou a safra recebida. O cantor também enalteceu o retorno para o Trevo. “É um samba forte que o Camisa precisava. Uma final difícil com quatros sambas grandiosos que condiz com a altura do Camisa. A diretoria fez a escolha certa. Se a diretoria falasse para eu cantar o ‘atirei o pau no gato’, eu cantaria. Mas foi o samba que a comunidade escolheu. O meu retorno para o Camisa foi simplesmente maravilhoso, e ainda com uma obra dessa, não tem explicação”, contou.
Vianna falou sobre a qualidade da sua ala musical e, além disso, o intérprete contou como vai se dividir entre Unidos do Bangu e Camisa Verde e Branco. “A minha ala musical, primeiramente, é de amigos. Já tenho há muito tempo aqui em São Paulo e eles resolveram aceitar o convite para trabalhar comigo, aceitaram a conversa que tivemos com a presidente e a gente está muito feliz com o nosso trabalho. O Camisa hoje é um dos meus privilégios. A Bangu eu também faço disso, mas o Camisa é a escola onde eu resolvi fazer o meu trabalho no Carnaval 2024 e a gente está muito feliz”, completou.