Na tarde do último sábado, a Camisa 12 promoveu um grande evento para lançar seu enredo rumo ao Carnaval 2026. A festa começou no horário do almoço, com a tradicional feijoada, e contou com diversas atrações até a revelação do tema, já à noite. Em clima de suspense, tudo foi mostrado em um vídeo exibido em telão na quadra, coordenado pelo diretor de carnaval Demis Roberto.

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Diretor de carnaval Demis Roberto e presidente Giovanni Bargi

O enredo, segundo a escola, integra uma trilogia afro. Em 2024, a agremiação levou à avenida a história de Chico Rei e, no último carnaval, conquistou o acesso com um desfile que abordou a justiça sob os olhos do candomblé. Para 2026, a Camisa 12 irá contar a história das três princesas nagô: Iyá Nassô, Iyá Detá e Iyá Akalá, além de prestar homenagem aos terreiros Casa Branca do Engenho Velho, Ilê Axé Opô Afonjá e Ilê Iyá Omin Axé Iyamassê (Gantois). No encerramento da festa, a Acadêmicos do Tatuapé, com toda a sua equipe, liderada pelo intérprete Celsinho Mody, animou o público presente na sede da entidade, localizada no Belenzinho.

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Com o contrato renovado e pelo segundo ano consecutivo na Camisa 12, o carnavalesco Delmo de Moraes explicou brevemente o tema que a escola levará para a avenida.

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Carnavalesco Delmo de Moraes

“Nós vamos trazer essa ancestralidade que muita gente desconhece. Há pessoas do próprio candomblé que não sabem sobre essas princesas que vieram para o Brasil como escravizadas. Algumas conseguiram retornar à África e depois voltaram ao Brasil, fundando os três terreiros do candomblé: a Casa Branca do Engenho Velho, Gantois e Opô Afonjá. A ideia surgiu de mim e do Demis Roberto, nosso diretor de carnaval. Somos da religião e começamos a buscar profundamente nossas origens para poder mostrar às pessoas que isso é cultura. A cada ano em que uma escola aborda uma religião afro-brasileira ou totalmente afro, está ensinando algo sobre os caminhos da nossa ancestralidade”, afirmou.

Abrir o domingo do Grupo de Acesso 1 é sempre um desafio. O artista demonstrou confiança e acredita que a escola pode conquistar um título inédito para chegar à elite do carnaval.

“A responsabilidade é maior, mas estamos aqui para nos testar e provar. Nunca houve uma escola que saiu do Acesso 2, subiu e já foi campeã. Quem sabe não será a Camisa 12? Nosso trabalho é árduo, e vamos nos dedicar com a mesma força com que trabalhamos no Acesso 2. Vamos em busca dessa vitória”, completou.

Enredo necessário dentro de uma trilogia

O diretor de carnaval Demis Roberto contou que a proposta da Camisa 12 é apresentar uma trilogia. Em 2024, a escola desfilou com o enredo sobre Chico Rei e, em 2025, com “Edun Ará”, uma reflexão sobre força e justiça sob a ótica do candomblé. Agora, para o próximo carnaval, a agremiação irá retratar a história das princesas negras que fundaram o primeiro terreiro de candomblé do Brasil.

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Diretor de carnaval Demis Roberto

“A Camisa 12 já vem falando de temas provocativos. Quando falamos de Chico Rei, não falamos exclusivamente dele, e sim do empoderamento do homem preto. Estamos falando de um homem escravizado que veio para o Brasil e, por meio do seu trabalho e de sua expertise, comprou sua alforria e passou a ser dono da mina onde foi escravizado. Em 2025, com ‘Edun Ará’, demos um grito de clamor à sociedade, porque ela é extremamente injusta”, declarou.

Aprofundando a narrativa, Demis destacou a importância e grandiosidade do tema, que exalta as mulheres negras e as religiões de matriz africana. Caso o desfile mantenha o tom crítico apresentado no último carnaval, é possível afirmar que os alvinegros da Zona Leste vêm consolidando sua identidade.

“Estamos falando de três princesas que vieram para o Brasil e criaram tudo o que hoje conhecemos em termos de religiosidade afro-brasileira. Poucas pessoas sabem que o primeiro orixá a ser assentado no Brasil foi Oxóssi. A partir disso, em 1900, essas três mulheres conseguiram comprar três mil pedaços de terra e fundaram o primeiro terreiro voltado ao culto da ancestralidade do povo preto. A Camisa 12 vem com um enredo necessário, valorizando essas mulheres, as princesas africanas que fundaram o Gantois, Opô Afonjá e a Casa Branca do Engenho Velho, casas que deram origem a toda essa religiosidade”, comentou.

Sobre a concepção do enredo, o diretor explicou que há sempre uma comissão responsável pelas decisões do carnaval. Ele também elogiou o profissionalismo do carnavalesco Delmo de Moraes e relatou que buscou autorização junto às três casas religiosas homenageadas.

“Os enredos da Camisa 12 não surgem apenas de mim ou do presidente. Existe uma comissão de carnaval. Muitas vezes, inclusive, sou voto vencido — e é assim que funciona uma escola de samba. O Delmo é um grande parceiro, amigo e conselheiro. Discutimos bastante esse enredo, e fiquei muito entusiasmado. Depois, tive a oportunidade de ligar para as três casas e, graças a Deus, obtivemos a autorização”, finalizou.

Acesso da escola, trabalho árduo e tema rico

O presidente Giovanni Bargi, mais conhecido como Madimbu, falou sobre o acesso da escola e o intenso trabalho que será realizado para o Carnaval 2026.

“Para nós, é uma batalha longa. Já havíamos batido na trave algumas vezes, com grandes carnavais. Graças a Deus, fui abençoado. No meu primeiro dia como presidente, conseguimos alcançar esse objetivo. Agora, o trabalho se intensifica. O Acesso 1 é desafiador para todas as escolas — é mais difícil, mais trabalhoso e vai exigir muito de cada um de nós. Mas acredito que estamos no caminho certo. O time está formado, e estamos nos fortalecendo com os ajustes necessários. Se Deus quiser, faremos um grande espetáculo”, afirmou.

O dirigente comemorou o sucesso do evento e destacou a aproximação da comunidade com a escola, o que, segundo ele, tende a crescer ainda mais com a participação popular.

“Acredito que o resultado está no evento de hoje. A comunidade abraçou a festa, tivemos a quadra cheia, e isso é o mais importante. Quando o povo está do lado, as coisas acontecem. Não adianta remar contra a maré. Acho que, neste ano, tudo foi positivo por conta disso. Com o acesso, conseguimos trazer o povo mais para perto, inclusive integrantes antigos. Alguns não acreditavam, mas, graças a Deus, conseguimos”, declarou.

Apoiando o enredo escolhido, Giovanni ressaltou a riqueza temática.

“Tudo foi muito conversado com a diretoria, com o Demis e com o carnavalesco Delmo. Optamos por seguir essa linha de temas afro. Esperamos apresentar um belo espetáculo, com um enredo rico, que oferece diversas possibilidades. Teremos uma caminhada muito intensa — e que os orixás nos abençoem”, concluiu.

Veja imagens do evento

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