Por Philipe Rabelo
O Camarote do King começou os trabalhos na Sapucaí na sexta-feira de carnaval com um baile de máscaras que animou os convidados. A presença do Cordão da Bola Preta chamou a atenção do público, que se divertia com as apresentações.
As maiores novidades deste ano são a área de buffet e boate, que está com 200m² e fica no primeiro piso, além de ostentar um palco amplo para receber os shows. Já o buffet ocupa praticamente todo o terceiro andar, que tem uma vista panorâmica da Marquês de Sapucaí. Sem dúvida, uma noite memorável para todo mundo, mas você já parou parar pensar quem cabe nessa definição de “todo mundo”?
O carnaval tradicionalmente é conhecido por ser uma festa de inclusão, de inversão dos valores, um local onde o preconceito não tem vez. Mas como fica a questão do acesso para as pessoas que tem uma mobilidade diferenciada? O Camarote do King recebeu uma convidada ilustre que pode desfrutar de todas as mordomias oferecidas para o público, justamente por ter pensando nas questões de acessibilidade.
No mundo do samba, Lúcia Mello sempre foi muito conhecida pela simpatia e pelas belíssimas fotos. No ano de 2017 ela viu a vida ser transformada em função do acidente que sofreu, no setor 1, ao ser atropelada pelo carro alegórico desgovernado do Paraíso do Tuiuti.
Lúcia ficou meses internada, passou por várias cirurgias e continua em tratamento no hospital Miguel Couto. De acordo com ela, os osso da perna estão na fase de calcificação. Por isso, a fotógrafa vive com auxílio da cadeira de rodas. O Carnaval de 2019 marca a volta da Lúcia para a Sapucaí e foi justamente no camarote do King que ela aproveitou a primeira noite.
No ano passado, a fotógrafa também veio à Avenida, mas apenas conseguiu ficar por 20 minutos, pois foi colocada no setor 1, local do acidente. “Infelizmente me colocaram no setor 1 e eu não consegui ficar. Esse ano eu vim na lavagem e na hora que eu entrei ali, fiquei muito nervosa e veio tudo na minha cabeça, me veio uma sensação ruim e eu não gosto”, revelou.
A fotógrafa também falou sobre o medo de ver o carro alegórico no desfile da sexta-feira de carnaval, mas disse se sentir segura, afinal, estava na varanda do terceiro andar do camarote, que a deixava mais alta que o carro. Lúcia trouxe a câmera a tira colo e aproveitou o espaço amplo para fazer fotos dos desfiles.
“Fiquei preocupada quando recebi o convite, porque todos os camarotes que eu conheço são com escadas, mas esse tem elevador. Elevador é tudo de maravilhoso. As pessoas não têm noção do que é uma pessoa na cadeira de rodas. A gente que nunca viveu isso não pensa, é complicado para tudo. A pessoa que tem essa sacada está saindo mil vezes na frente. Eu acredito que devam ter milhões de pessoas que queiram vir para cá, porque a arquibancada é impossível, frisa também, por conta dos níveis de degraus e os cadeirantes também têm o direito de não quererem ficar no espaço reservado pegando chuva. As pessoas querem um lugar confortável, com boa comida e bebida. O King oferecer isso é maravilhosos, eles tiveram a sensibilidade de perceber que existem pessoas diferentes, que têm outras limitações e precisam de alguns cuidados especiais”, relatou.
O camarote do King se preparou para ser acessível. A boate tem um pequeno degrau na entrada e lá existe uma rampa. Também tem os banheiros especiais no primeiro e no terceiro andar com portas amplas e barras de apoio. Lúcia aproveitou para citar a questão dos banheiros das áreas comuns do Sambódromo.
“Não adianta ter no Sambódromo um banheiro para deficientes, onde só o vaso sanitário é diferenciado. O mais importante não tem, que é a barra de apoio”, queixou-se.
A diretora executiva do Camarote do King, Lilian Martins, falou sobre a preparação para o público com mobilidade reduzida. “Eu acho que todos os camarotes deveriam estar adaptados para isso. Eu passei quase três meses com dificuldade para andar em função de uma cirurgia na coluna e as pessoas não imaginam como é difícil a questão da mobilidade. Aqui no Brasil, parece que quem não passou por uma situação assim, não entende as questões dos outros”, afirmou.
Lúcia se divertiu durante a noite, encontrou vários amigos e se disse radiante com a estrutura do King. “Não sabia que existia algo assim na Sapucaí”.