Segunda escola a desfilar no último dia de desfiles do Grupo Especial, a Portela apresentou o enredo “Igi Osè Baobá”. A reportagem do CARNAVALESCO esteve disposta nos módulos de julgamento do Sambódromo e realizou uma análise da apresentação da agremiação em oito quesitos, exceto bateria.
Comissão de Frente
A comissão de frente da Portela abriu os trabalhos da escola deixando a desejar em relação ao que se viu no resto da escola. Coreografada por Leo Senna e Kely Siqueira, o grupo um encontro entre as origens dos povos africanos com a origem da própria Portela, mas foi uma apresentação fraca e que teve ainda o tombo de um dos componentes ao descer pela rampa do elemento que acompanhava a comissão no primeiro módulo de julgamento. Nos demais, tal erro não se repetiu. Em geral, foi confusa e de difícil leitura, deixando quem estava acompanhando das arquibancadas com dúvidas em relação ao conceito.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Um dos melhores casais de mestre-sala e porta-bandeira da noite foi o casal da Portela. Marlon Lamar e Lucinha Nobre vieram para mostrar que têm um “casamento” perfeito, com muita sincronia e parceria. A ousadia foi um dos pontos altos do casal, com Lucinha ousando e muito na forma como conduziu, balançou, girou o pavilhão, além de elementos próprios das danças afro presentes na coreografia. Foi uma apresentação de encher os olhos ao longo de toda a Avenida.
Harmonia
Difícil expressar em palavras o que foi visto na avenida com o canto da Portela: força, muita força, com o canto ecoando na avenida e empolgando a avenida. Se tinha gente cansada ou com sono, espantou ele com a Portela e seu canto, fortemente cantado por toda a escola. Um destaque ficou pelo próprio casal de mestre-sala e porta-bandeira e para as baianas da escola, que cantaram o samba talvez com mais força até que o restante, e o resultado foi uma avenida completamente contagiada pelo samba e pelo desfile da escola. Destaque para a ala 23 “Iaôs – Iniciação Ketu no Candomblé” no final do desfile, que apesar de ser a última a passar carregou o canto lá no alto.
Enredo
A Portela trouxe para a avenida a história dos Baobás, árvores que nos levam a refletir sobre o princípio, o momento da criação. A forma como foi contado o enredo foi impecável, com a exaltação da arte iorubana, a presença de Oxalá, as manifestações culturais afro-brasileiras e toda a efervescência da cultura negra como o começo de tudo. Enredo bem conectado, bem claro e bem contado.
Evolução
Nem mesmo a Portela, que fez um desfile maravilhoso, escapou dos problemas em evolução. Talvez por um intervalo de cerca de 2 anos sem passar pela avenida, as escolas pareciam ter desaprendido a passar pela avenida de forma harmônica. Os problemas para conseguir colocar os carros na avenida se refletiram no quesito. A escola não segurou as alas da frente e simplesmente deixou que ela fosse embora, abrindo um buraco que pegou o primeiro módulo de julgadores. Problemas também no quarto carro fizeram a escola parar um tempo até o meio da avenida. Essa oscilação entre parar e correr se repetiram muitas vezes ao longo do desfile. No final, na altura das alas 19 e 20 “Jongo” e “Tambor de Crioula”, respectivamente, apertaram o passo por um momento, mas rapidamente foi normalizado na passagem da ala 21 “Caboclo de Lança”.
Samba
O samba foi excelente na avenida. Um desempenho louvável, que teve excelente rendimento e claro, sagrou mais ainda o já consagrado Gilsinho, que conduziu bem demais esse som em parceria com mestre Nilo Sergio. O desempenho de Gilsinho inclusive foi muito responsável pela empolgação de componentes e arquibancadas, refletido num canto muito forte, com a avenida cantando em uníssono o trecho “Meu povo é resistência feito um nó na madeira do Cajado de Oxalá”, além do refrão principal. Entretanto, alguns trechos são de difícil entendimento em primeiro momento, familiarizando-se após algumas repetições, como “Nessa mironga de mão de ofá, põe aluá no coité e dandá”.
Fantasias
Apesar da enorme beleza visual, da exuberância da Portela, com um conjunto estético incrível. Destaque para a ala das baianas, representando Nanã, simplesmente divinas, e a ala seguinte, Omulu, lindíssima. A parte estética da Portela fui uma das coisas mais impressionantes do desfile da escola. Porém, houve erros: um componente da ala 18, “Resistência”, perdeu uma boa parte de sua fantasia, de forma mega perceptível, bem em frente a cabine de julgadores do primeiro módulo, a ponto de um membro da harmonia da escola ter que ir lá pegar as partes no chão da avenida. No último carnaval, a Portela perdeu pontos em fantasia por repetição de costeiros. Esse ano, muitas alas também apresentaram o costeiro semelhante, mas isso não apaga o brilho da escola que trouxe um belo conjunto.
Alegorias
As alegorias da escola impressionaram por tanta beleza e incrivelmente bem acabados, com exceção do terceiro carro, que destoou justamente por problemas de acabamento. O globo terrestre da Savana bastante danificado e outros problemas de acabamento e danos neste carro. No geral, contudo, um trabalho estético lindo da azul e branco de Madureira. A quinta destoou das demais no quesito plástico. O chão de carpete azul estava embolado. Porém, o ponto alto foi trazer foto de baluartes como Dona Sther, Candeia, Dona Dodô, Argemiro, entre outros. As composições estavam de roupa, como vestido, camisa e chapéu.
Participaram da cobertura: José Luiz Moreira, Yuri Neri e Dyego Terra