Primeira escola a desfilar na abertura dos desfiles do Grupo Especial, a Imperatriz Leopoldinense apresentou o enredo “Meninos, eu vivi… Onde canta o sabiá, onde cantam Dalva e Lamartine”. A reportagem do CARNAVALESCO esteve disposta nos módulos de julgamento do Sambódromo e realizou uma análise da apresentação da agremiação em oito quesitos, exceto bateria.
Comissão de Frente
A comissão de frente, comandada pelo coreógrafo Thiago Soares, começou sua apresentação com 8 minutos de desfile, representando as memórias carnavalescas de Arlindo Rodrigues, com o pioneirismo da inserção de mulheres no carnaval. Contudo, em sua execução no primeiro módulo, alguns erros de sincronia foram observados. Durante a troca entre as primeiras bailarinas e as que saem de heroínas dos espelhos, uma das componentes se precipitou antecipando a virada do espelho, dentre outros pequenos deslizes de sincronia e de execução da própria. Nas demais cabines, o incidente não se repetiu.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O casal de mestre-sala e porta-bandeira Thiaguinho Mendonça e Rafaela Teodoro realizou a sua apresentação em todos os módulos de julgamento com forte presença, abrindo a noite com bastante vigor, empenho. Vestindo a Imperatriz, manequim dos sonhos de Arlindo, com influências do barroco, do estilo romântico e todas as influências históricas que são parte da história da escola, o casal fez uma belíssima apresentação, mesclando um bailado mais tradicional com interações com o ritmo da bateria. No momento em que o samba citava Xica e Zumbi, os dois erguiam o punho em sinal de resistência. A porta-bandeira girou com uma das mãos na cintura, esbanjando leveza, e os dois pararam sincronizadamente e se encontravam em um toque de mãos. Pavilhão muito bem conduzido e desfraldado, impecável do início ao fim.
Harmonia
A escola começou bem na avenida no assunto samba / canto, com destaque para a boa parceria entre os intérpretes, Arthur Franco e Bruno Ribas. Porém, no começo do desfile, a escola não manteve constância, oscilando o canto em diversos momentos. Enquanto algumas alas cantavam forte – exemplo a ala “Zumbi dos Palmares”, outras não demonstravam saber nem a letra do samba. Entretanto, em grande maioria a comunidade abraçou o samba e realizou um espetáculo ao longo do desfile na medida em que a Avenida esquentava.
Enredo
Didática, a escola dividiu o desfile em cinco setores: “Da Ribalta à Avenida” – À Luz do Destino, o Menino e o Dom”, “Canta, Salgueiro! – A Revolução Africana na Vermelho e Branco”, falando da passagem do carnavalesco pela escola coirmã, “Salve a Mocidade! – Onde Arlindo descobriu o Brasil”, “Reluzente como a luz do dia – O encontro romântico e barroco entre Arlindo Rodrigues e a Imperatriz”, e “Meninos, eu vivi … Onde canta o sabiá, onde cantam Dalva e Lamartine”. No geral, contudo, um didatismo e clareza bem grandes em alguns setores como o do Salgueiro bem maiores que de outros, não tão claros, ou não da mesma forma, como em “Meninos, eu vivi”, com uma ou outra ala com leitura menos claras. Ainda assim, no geral, a escola passou bem no quesito. No cortejo, foi possível identificar traços da personalidade criativa de Arlindo e o inevitável reencontro da escola consigo mesma.
Evolução
Em se tratando de evolução, a escola mostrou a importância de se pensar muito bem nas fantasias: alas com fantasias mais leves, mais confortáveis, como as do setor sobre o Salgueiro, ajudaram bastante aos componentes / desfilantes a passarem mais facilmente pela avenida. Também por isso, uma ou outra ala, especialmente das primeiras alas, passaram bem mais lentas. Ao longo da Avenida, a escola manteve um ritmo constante, mas em alguns momentos, um pouco travada.
Samba
Um destaque positivo do samba da Imperatriz foi a parceria entre Bruno Ribas e Arthur Franco. Funcionou muito bem essa dupla, conduzindo e empolgando bem a avenida. Conseguiram empolgar até aqueles componentes e arquibancadas que ainda não estava familiarizados com o samba, mas se sentiram inspirados ali, na hora, com o bom desempenho do canto da escola, além do destaque que foi a avenida toda ecoando o trecho “Amada Imperatriz” a capela. Belo e variado harmonicamente, o único adendo fica para o trecho em que ocorre a reverência à Mocidade, onde o “de” da última sílaba parecia subtraído nas passagens.
Fantasias
A Imperatriz mostrou que Rosa Magalhães realmente e uma professora quando o assunto e fantasia, trazendo o trabalho bem feito dela com a inspiração do estilo de Arlindo, com bastante rendas, babados, mas também um estilo mais barroco, histórico, tudo muito bem feito. Defeito a ser criticado foi o fato de algumas alas passarem mais “pesadas”, mais desconfortáveis com as fantasias, como a ala Zumbi de Palmares – ainda que a ala tenha cantado forte apesar disso. O mesmo com outras como “Africanidades”, por exemplo. Em frente ao segundo módulo, um dos laços da fantasia de baianas caiu e foi retirado pela equipe que conduziu a agremiação.
Alegorias
A Imperatriz estava extremamente imponente com suas alegorias, com carros grandes, muito bem acabados, de grande beleza. Um lindo abre-alas com detalhes que remetiam ao Teatro Municipal do Rio, luminárias majestosas, espelhos. No aspecto negativo, destaque para o segundo tripe, “Decorações de rua – o caminho enfeitado pelas mãos de Arlindo e Pamplona”, que passou apagado no primeiro módulo, prejudicando a parte estética, a beleza do elemento. Inclusive, na questão luz, a escola poderia ter abusado delas ainda mais. No terceiro carro, “Posludio”, um dos destaques estava perdendo suas penas enquanto passava. No segundo e terceiro módulo, essa mesma alegoria passou com a lateral apagada. Ocorreu também uma pequena falha de iluminação em uma das lâmpadas do primeiro tripé, mas nada que tirasse a beleza do elemento.
Participaram da cobertura: José Luiz Moreira, Yuri Neri e Dyego Terra