Enquanto Eloise Matos lia as notas do último jurado do carnaval de 2024, a comunidade da Mocidade Alegre já comemorava seu décimo segundo título na elite da folia paulistana. Os três 10 do quesito Harmonia já estavam garantidos assim como os 280 pontos totais, o máximo aos quais uma escola de samba de São Paulo pode chegar na apuração fora os descartes.

jorge silveira mocidade alegre
Foto: Felipe Araujo/Divulgação Liga-SP

O enredo “Brasiléia Desvairada: A busca de Mário de Andrade por um país”, que garantiu o bicampeonato consecutivo da Morada do Samba, também representou o segundo título da carreira do carnavalesco Jorge Silveira, campeão em 2023 ao assinar “Yasuke”, desfile que tirou a comunidade do Limão de uma espera de nove anos sem ganhar o carnaval. O artista conversou com o site CARNAVALESCO e falou sobre o que representa para si essa conquista.

“Acho que representa, sobretudo, o fruto de um trabalho coletivo muito intenso, muito bem planejado e muito organizado de uma comunidade muito guerreira. A Morada do Samba estava há nove anos batendo na trave, acho que o meu trabalho veio a somar a energia maravilhosa da escola e a gente acabou alcançando esse resultado pelo coletivo. Eu deposito muito desse resultado no empenho coletivo dos nossos departamentos. Nosso barracão, nossa equipe, nossa comunidade e o projeto apresentado para a escola por mim. Eu acho que isso tudo levou a esses dois resultados. É uma emoção indescritível. Eu acho que é o máximo que um profissional pode querer nesse universo profissional. Poder alcançar a vitória e repeti-la é algo assim, é mais do que eu pedi a Papai do Céu. Eu estou muito feliz, muito agradecido e com um coração farto de felicidade”, declarou.

Se ganhar o carnaval uma vez já é um desafio árduo, duas conquistas consecutivas requerem um esforço ainda maior. Jorge afirmou que em 2024 a Mocidade Alegre precisou ir além de superar as outras 13 coirmãs do Grupo Especial para garantir novamente o troféu de campeã.

“Eu acho que o maior desafio era, sem dúvida, ter que superar o próprio resultado da Mocidade Alegre porque a gente entrou na pista e conseguiu o campeonato. Superar é uma coisa que há alguns anos já não acontecia no Carnaval de São Paulo, então o grande desafio era conseguir fazer uma Mocidade maior que a própria Mocidade de 2023 e acho que, graças a Deus, com muito planejamento, a gente conseguiu fazer um desfile sistematicamente igual ao que foi planejado. Não saiu nada fora do lugar, correu tudo conforme a gente foi planejando na prancheta, no desenho, na idealização, na sequência dos acontecimentos e, graças a Deus, a gente chegou ao resultado”, disse.

Os dias se passaram e com eles chegou um convite para uma grande oportunidade na carreira de Jorge Silveira. A escola de samba carioca Acadêmicos do Salgueiro viu no talento do artista de Niterói uma oportunidade e fez uma proposta a qual o carnavalesco aceitou e falou sobre o sentimento a respeito.

“É muita informação ao mesmo tempo. São os dois campeonatos seguidos, e ter que me desligar de uma cidade, abraçar uma nova jornada. Estou com os nervos à flor da pele, mas muito feliz com esse convite porque eu acho que é o reconhecimento do trabalho feito e é, sem dúvida, uma janela de oportunidade incrível que se abre para a minha carreira. Eu sei do tamanho do Acadêmicos do Salgueiro e do que essa escola representa na história do Carnaval Carioca, na história do Carnaval Brasileiro. Uma escola que foi de Pamplona, que foi de Arlindo, que foi de Rosa, que foi de João, que foi de Renato Laje, todos eles meus ídolos, e agora vou ter a oportunidade de escrever um capítulo nessa história, na linda história da Academia. E foi o trabalho na Morada do Samba que me deu a possibilidade de chegar até a Academia do Samba, então eu tenho uma enorme gratidão à Mocidade Alegre e pode ter certeza de que eu vou me dedicar ao máximo. Ao Rio de Janeiro, eu estou de volta. Me esperem aí que estou chegando”, afirmou.

Enquanto a Mocidade Alegre se preparava para passar novamente pelo Sambódromo do Anhembi, agora no Desfile das Campeãs, Jorge Silveira ficou à frente da escola observando em silêncio. As lágrimas, que já corriam de seus olhos abundantemente, ganharam ainda mais força com o caloroso discurso da presidente Solange Cruz, reconhecendo e agradecendo a dedicação à Morada do Samba. O carnavalesco falou sobre o que esteva pensando naqueles momentos.

“É clichê, mas passa um filme porque a gente lembra de todas as vezes que a gente teve que fazer sacrifícios. Tem aquela máxima que a galera fala hoje em dia: quem vê o close, não vê o corre, não sabe o quanto que a gente trabalha, de verdade, todo santo dia para poder colocar isso aí na Avenida. É muito sacrifício, a gente abre mão de muita coisa da vida pessoal. Abre mão de descanso, abre mão de projetos pessoais, para que a gente coloque o nosso tempo à disposição da instituição, em nome do projeto. Tudo isso passou pela minha cabeça. Passa meu pai, que foi carnavalesco, minha família, o meu começo como carnavalesco, os ‘nãos’ que eu recebi, os chutes na bunda que eu recebi, as glórias e as derrotas que eu passei nessa Avenida. Tudo isso passou na minha cabeça, e eu senti que era o momento de agradecer. Meu coração estava agradecido, por isso que eu estava desmontado, chorando naquele momento”, revelou.

Em 2025, Jorge Silveira se dedicará exclusivamente à Academia do Samba. Seu atual ciclo vencedor com a Morada se encerrou, mas o carnavalesco acredita que a Mocidade Alegre estará preparada para defender a hegemonia que tem atualmente na elite da folia paulistana.

“Preparadíssima, porque a Mocidade já é desde sempre uma escola muito preparada. O meu trabalho veio para somar a uma rotina que já existia. Com certeza virá um novo profissional que vai dar prosseguimento, e a escola tem total capacidade de brigar pelo tricampeonato e seguir adiante no seu sonho”, garantiu.

Os dois anos trabalhando para a Mocidade Alegre deixam em Jorge Silveira aprendizados para toda a carreira. O carnavalesco fez questão de exaltar a presidente Solange Cruz ao falar sobre o legado que pretende levar para seu trabalho no Salgueiro.

“Solange é uma mestra, uma professora, uma autoridade. Solange me ensinou a enxergar a perspectiva do carnaval de uma forma ainda mais profissional do que eu já via. Me ensinou a enxergar efetivamente a função de cada coisa e como as coisas podem funcionar melhor. Eu devo isso a ela e vou carregar isso para sempre comigo nos futuros carnavais”, concluiu.