O concurso para definir a Corte do Carnaval do Rio de Janeiro passou por uma profunda reformulação na edição deste ano. Além do formato mais extenso e com um número maior de candidatas, a disputa ganhou dois novos apresentadores. Tratam-se de Bianca Monteiro e Wilson Neto, ambos com uma história pregressa na competição. A atual rainha de bateria da Portela ocupou o posto de primeira Princesa da folia carioca nos anos de 2015 e de 2016. Já o passista da Vila Isabel foi o Rei Momo da capital fluminense em cinco oportunidades, sendo elas em 2014, 2015, 2016, 2019 e 2022. Em entrevista a reportagem do site CARNAVALESCO, a dupla relatou o simbolismo de retornarem ao concurso em uma nova função, além de fazerem uma análise da experiência até o momento.
“Passa um filme na nossa cabeça. É uma mistura de todos os sentimentos possíveis, porque nós vivemos isso intensamente. O Wilson já foi Rei Momo várias vezes, se bobear tem até carteirinha na Riotur, e eu fui duas vezes consecutivas Princesa do Carnaval. Então, apresentar o concurso é algo que nos emociona. Tudo que acontece, que realizamos na nossa vida, nos faz crescer. E esse desafio mostra também que a gente serve para fazer outras coisas no mundo do samba. A Riotur está nos dando essa oportunidade, que nos engrandece muito como artista. É uma experiência única, um aprendizado maravilhoso, que vamos levar para toda a nossa vida”, garantiu Bianca.
“É uma relação de empatia muito forte, porque eu já estive do outro lado e dessa vez eu entendo o nervosismo, toda a energia que paira antes de subir no palco… Energia essa que não mudou, já que eu e a Bianca participamos, estamos no dia a dia com as candidatas, então a gente acaba se apegando, sentido o mesmo que elas. E estou muito feliz, muito lisonjeado por esse convite, pela lembrança. Através das meninas conheci inúmeras localidades, vivências, e acho que é esse o grande barato deste concurso. O fascinante é elas estarem conosco, contarem a sua história e nós podermos participar disso. Costumo dizer que esse palco é um local de oportunidades, para gente que está enfrentando algo novo, mas sobretudo para elas. Essa divisão é que faz o fascínio deste concurso”, avaliou Wilson.
Na entrevista concedida ao site CARNAVALESCO, Bianca Monteiro relembrou como foi feito o convite da Riotur para apresentar o concurso. Ela afirmou estar contente com a chance de comandar a competição e garantiu estar sendo uma fonte de aprendizado a cada etapa da competição.
“Foi tudo muito rápido. Quando eu vi, eu já estava sentada em uma reunião, o Wilson chegou e eu pensei: ‘Meu Deus, o que está acontecendo?’. A gente acabou recebendo esse convite juntos e acho que a nossa dupla deu super certo. Imagino que o intuito da Riotur aos nos convidar era de que a gente fosse nós mesmos, a galera estava sentido falta do sambista representado. Claro que passamos por um aprendizado diário, porque ao contrário do que as pessoas imaginam, a gente não nasceu fazendo isso. Nós não somos entrevistadores. Fomos dançarinos a vida toda e hoje a gente está fazendo outro papel. Eu falo muito que no samba a gente aprende na marra, então os primeiros dias são sempre mais difíceis, mas ao longo do tempo a gente vai se sentindo um pouquinho mais acolhido também e até com as meninas é um pouco assim. Elas falam que olham para mim e para o Wilson e se sentem mais confortáveis, porque somos pessoas que elas conhecem a história, que são sambistas. Acho que é um dia de cada vez, realmente, para gente aprender. Se Deus quiser, ano que vem, vamos estar aqui e com certeza fazer melhor, mais ligados e preparados”, assegurou.
Wilson Neto também falou quais são os principais desafios em apresentar o concurso da Corte do Carnaval do Rio. O ex-Rei Momo assegurou que ele e Bianca Monteiro contam com amplo apoio da Riotur. Segundo ele, as instruções e o suporte que recebem por porte da organização são cruciais para conseguir lidar com as críticas.
“A gente todos os dias recebe uma orientação, até porque o concurso tem uma direção. Mesmo assim, outro dia, eu me peguei quase discutindo com uma moça na internet, porque ela reclamou que eu interrompi uma candidata. Quando eu li o comentário, eu cheguei a parar para pensar e refletir, ia responder, mas achei melhor não. As pessoas precisam entender que o tempo tem que ser igual para todas as candidatas. Julgar é muito simples, participar é o que é difícil, executar pior ainda. Então, as pessoas têm que ter essa imagem, essa reflexão de que não é tão fácil assim estar na nossa posição. Afinal, para gente é novo. Estamos também no lugar de aprender”, ponderou.
Relação com as participantes
Veterano quando o assunto em questão se trata da Corte do Carnaval do Rio, Wilson Neto declarou que essa experiência o ajuda na hora de lidar com as candidatas. Na conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, ele declarou ser importante acalentar essas jovens nos momentos de interação com elas no palco, justamente para deixá-las à vontade para que se saiam melhor.
“É tudo muito novo para essas meninas, boa parte nunca participou de um concurso da grandiosidade desse. Por isso, acho importante a gente acalmar elas, deixá-las confortáveis neste momento de tensão. E não pensem que nós não nos emocionamos, que nós não vimos as dificuldades que elas tiveram, que nós não ficamos com pena quando uma candidata está doente. Nós passamos aquilo junto com elas. Isso está no nosso sangue. Os rostinhos de cada uma ficam na nossa mente. Quando a gente vai falar, já temos mais ou menos uma noção da história daquela pessoa. Se tiver uma peculiaridade então, melhor ainda, porque a gente já toca naquilo, não negativo, sempre positivo. Então, elas mesmas já vão repetindo com mais vontade, com mais determinação e isso faz parte do nosso aprendizado. Portanto, é por essas coisas que afirmo que a experiência está sendo muito enriquecedora para mim, para Bianca e tenho certeza que para as candidatas também”, mensurou.
Assim como o parceiro de palco, Bianca Monteiro enalteceu o apoio dado por eles para as candidatas. A rainha de bateria da Portela declarou que tenta aconselhá-las a não se deixarem afetar por todos comentários que recebem ou leem na internet. De acordo com a beldade, os ataques e opiniões depreciativas não podem ser levados em consideração.
“Quando é uma crítica construtiva tudo bem, mas quando é um simples ataque é muito ruim, porque isso acaba desanimando as meninas. A gente tem que ajudar, estamos aqui para somar. É lindo, é emocionante cada momento, cada olhada, cada contato que a gente tem com elas naquele palco. Já me peguei sentindo falta das candidatas quando a gente chama. Várias vezes já virei para o Wilson e comentei: ‘Ué, a fulana não conseguiu, não passou?’. Isso é muito interessante. Acho que estar do outro lado faz com que a gente tenha as respostas de todas as dúvidas que tínhamos quando a gente subia nesse palco. Por que eu não consegui? Por que eu fiz uma coisa e não fiz outra? Quando você está do outro lado, você consegue analisar um pouquinho melhor. Então, toda vez antes de entrar, a gente faz uma entrevista com as candidatas, para saber se está tudo certo, e fala com elas: ‘Olha, evita fazer isso, evita fazer aquilo’. A gente dá esses conselhos, porque sabemos que o nervosismo é muito grande. Nosso trabalho aqui é facilitar a vida delas e dificultar a vida dos jurados”, pontuou.
Maior disputa e representatividade
Entre as diferentes alterações promovidas pela Riotur, o concurso que irá eleger a Corte do Carnaval do Rio de 2024 foi antecipado para agosto e um novo modelo de disputa implementado. Nele, cada escola de samba e bloco carnavalesco pode indicar uma representante. Ao todo, mais de 100 mulheres se inscreveram e participaram da primeira eliminatória, realizada entre os dias 01º e 04 deste mês. Dessas, 64 se classificaram para uma segunda etapa. Em seguida, 40 meninas passaram para uma terceira fase, na qual 20 foram selecionadas e irão disputar a semifinal nesta sexta-feira, dia 18 de agosto. Ao comentar sobre o formato atual, Wilson Neto destacou que apesar do número elevado de candidatas e do páreo acirrado, a competitividade está restrita ao palco.
“No nosso tempo, meu e da Bianca, o clima era muito mais competitivo, era muito mais difícil o relacionamento entre as candidatas do que é hoje. Atualmente, eu vejo que uma acalentando a outra, dizendo para não desistir, coisa que antigamente era difícil de se ver. Desejo que as pessoas que já tenham concorrido e retornem ao concurso tenham essa outra expectativa, vejam essa diferença e entendam que não há necessidade de um ambiente de rivalidade nos bastidores, afinal a competição se ganha no palco. É isso que a gente está deixando para elas de mensagem e pelo visto está entrando no sangue delas”, considerou.
Bianca Monteiro falou também sobre o novo formato do concurso e exaltou a oportunidade que ele representa para as meninas oriundas das comunidades das agremiações, especialmente aquelas que fazem parte da ala de passistas. De acordo com a avaliação feita pela beldade, a tendência gerada por esse modelo de disputa é que a partir dos próximos anos as escolas passem a investir mais neste segmento e dêem maior atenção para as chamadas pratas da casa.
“Durante muito tempo as pessoas esqueceram que o concurso existia. Toda essa mudança no formato promovida pela Riotur, especialmente pelo Luís Gustavo Mostof [diretor de operações e presidente interino da Riotur], trouxe algo novo na história do Carnaval, que são as escolas estarem indicando as meninas. Acho que já tinha que ter acontecido há muito tempo, pois isso reflete positivamente na comunidade dessas agremiações e nas mulheres que ali estão. Elas, ao serem escolhidas para essa missão, se sentem acalentadas pela sua escola. É muito bom quando a gente representa algo, eu sou rainha de bateria e posso falar isso. Quando você representa o seu pavilhão, que a sua escola está te apoiando, como vejo que está acontecendo, isso fortalece cada vez mais elas. Independente de quem vai ganhar ou não, essas meninas vão querer entrar muito mais no Carnaval, vão querer aprender muito mais sobre a festa, porque isso é muito grandioso. As escolas de samba tem essa questão do segmentos, em que cada um está sempre dividido, no seu lugar, e quando acontece um concurso desses gera uma união. As próprias candidatas entendem que precisam também fazer parte de outros segmentos para poder aprender a vivência, a história da escola, do Carnaval. Como esse ano também foi uma coisa meio surpresa para todo mundo e teve muito pouco tempo para as meninas se prepararem, acredito que ano que vem isso vai ser ainda mais forte. As escolas de samba tem essa obrigação social, cultural, de ensinar mais essas meninas. Além da parte prática, é fundamental elas terem a didática. Na hora da gente falar, tentar expressar um pouquinho da história da nossa escola, a gente fica limitada muitas vezes. Então, acho que o novo modelo do concurso deu uma catucada na galera da escola, na direção, para valorizar mais as passistas, os projetos sociais, para que isso possa mudar. Uma coisa que me emociona muito é olhar no palco e ver todas elas sambando, cada uma da sua maneira, com seus trejeitos, movimentos, com a sua cultura. Isso é maravilhoso. É muito bom alimentar sonhos e mostrar para essas meninas de periferia, de comunidade, que elas são capazes também de chegar em qualquer lugar”, defendeu.
Ainda sobre a questão da representatividade no novo formato do concurso, Bianca Monteiro comemorou a presença dela e de Wilson Neto como apresentadores da competição. Ela também festejou o fato de Alex Coutinho e Mayara Lima, diretor da ala de passistas e rainha de bateria da Paraíso do Tuiuti respectivamente, estarem à frente da parte artística da apresentação das candidatas.
“A gente representa a imagem, a figura do samba. Somos nascidos e criados dentro das nossas respectivas escolas, então acho que a Riotur queria essa identidade ao nos escolher como apresentadores. E além de mim e do Wilson, temos no palco também a presença Mayara e do Alex. Ou seja, são quatro pessoas que representam o Carnaval, em épocas diferentes. Mayara e Alex são um pouquinho mais novos, de uma outra geração, e estão fazendo um trabalho com essas meninas que é extremamente digno. Então, tudo que fazemos aqui é colocar o nosso amor, nossa energia, nosso aprendizado, nossa raiz nesse chão e fincar a nossa história para que essa porta nunca se feche. Que amanhã, sejam outras passistas, outros Reis Momos, representando o samba e o Carnaval no concurso. Assim como eu falo de rainha de bateria da minha escola, que o dia que eu não estiver mais, que outras meninas da comunidade possam assumir esse posto que é tão importante e que mudou a minha vida”, afirmou.
Carreira como apresentadores
Também no bate-papo com a reportagem do site CARNAVALESCO, Bianca Monteiro e Wilson Neto falaram sobre o futuro. Os dois responderam se possuem o interesse em investir na carreira de apresentadores, visto as experiências recentes que ambos tiveram, não só no concurso da Corte do Carnaval do Rio de Janeiro de 2024.
“Sou uma pessoa muito espiritualizada. Acredito que Exu não abra nossos caminhos à toa. Tudo que ele coloca na nossa vida é para movimentar. Se vai ser dessa maneira, sendo apresentadora ou não daqui para frente, não deixa de ser uma forma de fazer aprender aquilo que a gente precisa. Eu tenho muito bloqueio em falar, por exemplo. É muito engraçado, às vezes eu travo. Mesma coisa com leitura. Então, estou perdendo total medo, enfrentando as minhas dificuldades. Elas fazem parte da vida, a gente tem que ter a humildade de querer aprender e superar. Todos os conselhos que a gente está recebendo, estamos tentando ao máximo colocar em prática, corrigir os nossos erros, para tentar ser pessoas melhores. Eu comecei na Portela apresentando as live, o Wilson também já apresentou outros eventos e prêmios, e a cada desafio vamos nos aperfeiçoando. É uma oportunidade de aprendizagem, mesmo se não formos usar isso como uma carreira, vamos usar essa experiência como apresentadores em outras coisas na nossa vida. O sagrado faz isso na nossa vida. Então, ele botou a gente aqui na marra, nesse palco imenso, com essa estrutura, para que a gente possa ir além”, refletiu Bianca.
“Sempre gostei de saber do porquê das coisas. Agora isso está latente da minha pessoa. Eu não posso encontrar alguém diferente que eu quero buscar fundamento e eu acho que daqui pra frente é só vitória. Eu digo para a Bianca que a gente não pode dar margem a nenhuma energia que não seja positiva. De resto, a gente sempre gostou de saber o porquê e não ia ser diferente com essas meninas. A gente precisa saber o que as trouxeram aqui. Então, acho que isso está bem presente na gente e nelas também”, declarou Wilson.
Final do concurso acontece em setembro
A grande final do concurso para eleger a Corte do Carnaval do Rio de Janeiro de 2024 irá ocorrer no dia 01º de setembro, na Cidade do Samba, que assim como nas outras etapas terá entrada totalmente gratuita. No caso das mulheres, as 10 participantes classificadas na semifinal irão disputar o título de Rainha. A vencedora será coroada e irá levar para casa um prêmio de R$ 45.500. A segunda e terceira colocadas escolhidas pelo júri e por meio do voto popular são nomeadas Princesas e faturam a quantia de R$ 32.500 cada. Em relação aos homens, os 25 candidatos inscritos irão disputar cinco vagas na final. Destes selecionados sairá o próximo Rei Momo e único. O vitorioso ganha a faixa e a coroa, além do prêmio de R$ 45.500. O segundo colocado vira Vice-Rei e recebe o valor de R$ 8 mil.