A Beija-Flor reuniu na última quarta-feira diversos veículos de imprensa em seu barracão na Cidade do Samba para apresentar a sinopse do enredo “Laíla de todos os santos, Laíla de todos os sambas”, lançada na última segunda-feira. Com o carnavalesco João Vitor Araújo, o diretor de carnaval Marquinho Marino, e os pesquisadores Bianca Behrends, Vivian Pereira e Guilherme Niegro, a tarde se dedicou a explorar detalhes da sinopse e da construção do enredo da Deusa da Passarela para o Carnaval de 2025.

Foto: Matheus Morais/CARNAVALESCO

Após a leitura da sinopse, o quinteto fez algumas explanações e respondeu as perguntas sobre alguns pontos do texto. Bianca comentou que alguns pontos que não podiam faltar no enredo eram a fé sincrética de Laíla, bradando por respeito e tolerância religiosa, as bandeiras que ele defendeu durante muitos anos através dos enredos, como o protagonismo do povo preto em sua festa, e a exposição de diversas mazelas sociais, em enredos como “Ratos e Urubus”, “Saco Vazio não para em pé”, “Monstro é aquele que não sabe amar”, e que são abordados em outros desfiles apresentados, assim como seu último carnaval na União da Ilha, “Nas encruzilhadas da vida, entre becos, ruas e vielas, a sorte está lançada: salve-se quem puder”.

Guilherme falou sobre a necessidade que Laíla teve de se impor no meio do carnaval, justamente em meio a chegada dos acadêmicos para a folia na década de 1960, em contrapartida dele preto, pobre e favelado, mas muito entendido do próprio carnaval. Além disso, ressaltou como a música clássica era fundamental para o homenageado, relembrado também pelo seu ouvido absoluto, capaz de distinguir plenamente os sons, mesmo em meio a uma bateria, pois Laíla saberia onde estaria exatamente um instrumento desafinado ou um ritmista descompassado. Ele falou também sobre como a construção partiu não só de entrevistas feitas com nomes como Rosa Magalhães, Milton Cunha, Maria Augusta, Mário Jorge Bruno, Plínio e Rodney, entre outros, mas também de como eles reagiam aos textos que era construidos da sinopse, com a pergunta: “Você está vendo o Laíla aqui?” ou dando informações como “O que não pode faltar do Laíla?”.

Sinopse da Beija-Flor de Nilópolis para o Carnaval 2025

Ressaltando a fé do homenageado, Marino aprofundou um pouco sobre a questão religiosa de Laila, sendo ela um marco de um sincretismo que só poderia ocorrer no Brasil. E como para ele cada guia, cada colar, tinha um sentido e significado para ele: “Ele tinha de tudo naquele peito, santinhos católicos, Cosme e Damião, São Jorge, terço, colares indígenas, patuás, ele conheceu uma cigana, ela leu o destino dele, gostou, e colocou mais um cordão no peito. Acaba que, mesmo com o estigma macumbeiro, é evidente que ele era isso mesmo, é evidente que ele era um católico apostólico baiano, pois ele acreditava em tudo, confiava em tudo, desde que ele gostasse de você”, ressaltando que Laíla conhecia muitos locais sagrados por intermédios de pessoas que ele gostava e tinha confiança.

Em seguida, Marino contou que foi João Vitor quem decidiu o título do enredo por conta dessa pluralidade religiosa que ele trazia e acreditava fielmente, além de ter desenhado a logo do enredo. E que o título casou com a proposta imaginada de começar com parte mais espiritual para depois chegar no trabalho musical e relacionado com o carnaval.

Marino e Vivian também comentaram sobre a importância de tentar construir um texto e enredo concisos, principalmente, para que a maioria das pessoas compreendam aquilo que a Beija-Flor deseja mostrar de Laíla. Vivian falou como a história dele é uma história recente, por ele ter falecido há pouco tempo, em contraste aos seus 70 anos dedicados à folia, e existirem poucos registros mais distantes de forma física, porém muito tendo se preservado de forma oral:

“O carnaval das escolas de samba preserva a oralidade. A gente está começando agora essa questão de gravar, registrar em imagem, vídeo e áudio. Mas isso foi gostoso porque estamos indo para um caminho onde ele gostava, das histórias orais, da oralidade, e isso é uma característica que tinha nos enredos dele, que ele desenvolvia”.

A comissão teve uma preocupação, em seu trabalho conjunto, de fazer uma sinopse didática em relação a Laíla, em busca de ajudar desde aquele que não conhece a história, até os compositores que irão se debruçar nela para construir os sambas que disputarão nas eliminatórias. Marino também adiantou que fará uma prévia inicial antes dos sambas disputarem na quadra, chamando as parcerias no barracão para ouvir os sambas, num local mais tranquilo, um ambiente controlado musicalmente falando, para entendê-lo, sendo esta uma das formas que o próprio Laíla conduzia a disputa.