Por Allan Duffes e Luisa Alves
Mais um sábado de Mirandela (estrada onde a “Deusa da Passarela” faz seus ensaios de rua) e neste foi noite da Beija-Flor receber a Mangueira. Em reta final de preparação para o desfile, daqui a praticamente duas semanas, as escolas já dão sinais de que suas comunidades estão em últimos ajustes. Com dois ensaios potentes, o público viu a junção do rolo compressor nilopolitano com o axé exuberante da Verde e Rosa. * VEJA AQUI FOTOS
Hoje foi a faixa bônus do “Encontro de Quilombos”. O evento que, anteriormente havia sido programado para receber Tuitui, Portela e Império Serrano, deu tão certo que, felizmente, a anfitriã decidiu encontrar mais gente. E fez nada menos que o encontro do beija-flor das multidões com a nação mangueirense. A noite, que era quente por causa da temperatura, teve altas pressões nos dois ensaios. No da Beija, ainda rolou um temporal expresso. Parecia um balde derramado que não mingou os soberanos. Muito pelo contrário, esse é um povo acostumado com a chuva.
Compacta, a Estação Primeira levou 500 componentes, dispostos a se divertirem e deixar o clima de ensaio para valer de lado. Eles tinham um evento mais tarde e ainda terão ensaio de rua neste domingo. Mesmo com contingente menor que as outras três escolas que participaram do evento (Tuiuti, Império Serrano e Portela), que levaram cerca de 1500 desfilantes, a comunidade de Dona Zica e Cartola se fez ouvir, impulsionados com um público que cantava o samba sem parar. O enredo da escola é “As Áfricas que a Bahia canta”, desenvolvido pelos carnavalescos Guilherme Estevão e Annik Salmon. A Manga está feliz, leve, renovada, cheia de axé e com um casal que dança arrancando o fôlego dos espectadores.
Sobre a visita a co-irmã da baixada, o diretor de harmonia da Mangueira, Helton Dias, falou sobre a importância de eventos como esse: “Isso é de uma relevância enorme para o mundo do samba porque é o encontro de duas comunidades de peso. Essa iniciativa do presidente Almir Reis só tem a agregar para os sambistas, e a Mangueira recebeu o convite com muita alegria. Viemos aqui ensaiar, cantar nosso samba e divertir o povo de Nilópolis”, falou Helton.
Depois, foi a vez da Deusa da Passarela que estava se despedindo de Nilópolis, fazendo o último ensaio de rua na Estrada Mirandela. O clima era de festa total; os componentes estão prontos para desfilar e ainda vão fazer o ensaio técnico no sambódromo, no dia 12. Para realizar o treino final, foram 40 minutos de esquenta, muitos fogos e público em êxtase. Selminha Sorriso, com um vestido reluzente e prateado, ao lado de Claudinho, brilhou mais uma vez. Tanto que a lua cheia se escondeu e chorou forte. E foram menos de 10 minutos de uma chuva que inflou a alegria dos nilopolitanos.
“Estamos nos preparando para fazer um grande ensaio técnico, e em um caminho forte. Quase o nível máximo de canto. A presença de outra escola aqui com a gente, faz a comunidade ficar mais alegre e solta para desfilar. Acaba rolando aquela comparação também, e isso motiva o pessoal”.
A fala do diretor de carnaval da Beija-Flor, Dudu Azevedo acima, explica o que quem acompanha o CARNAVALESCO já sabe: o “Encontro de Quilombos” é bem legal, mas ele é condição perfeita para a soberana alcançar a excelência, sempre ensaiando para superar a apresentação da visitante. Aproveitaram a deixa com maestria e, em ensaios, alcançaram a excelência. Nos quesitos de chão, Nilópolis é um rolo compressor que agrada bastante assistir.
Harmonia
Foram 500 mangueirenses e muita gente na calçada para cantar. Um dos sambas mais badalados do carnaval é sempre gritado com muito vigor. Do início ao fim da apresentação, a verde e rosa entregou tudo na voz.
Já a Beija-Flor está pronta. As alas vão passando e uma cantando mais que a outra. Um show do quesito harmonia.
Mestre-sala e Porta-bandeira
E lá vinham eles. O casal furacão. Cintya Santos é um fenômeno do quesito e deu a Matheus Silvério a carga perfeita para que ficassem sintonizados. Quando a porta-bandeira segura a ponta do pavilhão, ela toma uma velocidade absurda que impressiona. Os giros são impecáveis alinhados a passos sobre o samba. Quanto ao mestre-sala, cravava seus movimentos com um grito. Deu giro no ar, praticamente uma pirueta; dançou com força. Mais uma apresentação incrível que só teve um pecado grave nesta noite: a hora que acabou.
Cintya falou sobre a recepção que teve em Nilópolis: “Tivemos uma recepção maravilhosa, um calor humano… Fomos recebidos de forma incrível, e estou muito feliz. Mesmo estando cansada, não senti nada durante o ensaio. O povo de Nilópolis está de parabéns pelo carinho que demonstram pela Mangueira”, contou a porta-bandeira.
Já Matheus, fez questão de falar da importância do evento: “Enaltecer a cultura popular brasileira. O que aconteceu aqui hoje foi uma celebração contagiante, um engrandecimento necessário no cenário carioca e nacional. Esse encontro não é apenas de quilombos, mas também de senzalas e pretos. É de um povo que defende Iansã, as lutas da independência… É muito importante, e o carnaval segue mostrando a sua força com uma rua lotada assim”.
E no outro ensaio da noite, molhados mas não desalinhados, Claudinho e Selminha Sorriso fizeram mais uma bela apresentação na Mirandela. A bandeira pesada pela água não foi problema para uma experiente em tempestades. Claudinho não temeu derrapar e dançou sem mudar o rumo da apresentação. No final, a tietagem de sempre por parte do público.
Samba-Enredo
O enérgico samba da Estação Primeira é convidativo. Fácil de aprender a letra e com a melodia envolvente, ele cai bem em qualquer terreno. E fora de casa, não foi diferente: o samba foi morar em Nilópolis também. Excelente desempenho na boca do povo da Baixada e da comunidade verde e rosa que ama cantar o axé da Mangueira.
Eis o povo no poder quando tem o samba da Beija-Flor para cantar. Sem cair em nenhum momento, a escola deve pulsar durante os quase 70 minutos de desfile no Sambódromo. A cada ensaio de rua, o andamento se mostra mais seguro.
Evolução
Com 500 pessoas e povo livre, tiveram buracos na Mangueira. Um entre o casal e a velha-guarda e outro entre a bateria e a ala que estava em sua frente. Mas, tudo bem. Lá não apresentaram problemas graves de evolução no ensaio técnico no Sambódromo.
Já a “Soberana” é só encaixar as alegorias e seguir o andamento. Escola compacta e brincando na pista, basta repetir a receita dos ensaios no desfile.
Bateria
As baterias de Beija-Flor e Mangueira ajudaram a levantar o público em suas apresentações. Bossas, coreografias e o samba jogado para o público, foram ingredientes de apresentações contagiantes.
Outros destaques
Um destaque. Para ela, vale a menção no último dia. O “Encontro de Quilombos” aconteceu em três datas, muitas personalidades passaram pela Mirandela, mas uma merece atenção agora. Ela tem 15 anos, mas samba como gente grande. Chegou agora, mas parece que é dona da bateria há anos. Lorena Raíssa deu o nome e fez jus a escolha por ela no cargo de rainha. Sambou com a badalada Mayara Lima, desfilou com a consagrada Quitéria Chagas, quebrou tudo com a majestade Bianca Monteiro e estava solta ao lado da fantástica Evelyn Bastos. O tempo todo Lorena estava sambando, rebolando, sorrindo e atendendo ao público. Uma energia empolgante que enche os olhos de quem a vê à frente da bateria nilopolitana.
Pois bem. No ponto final do “Encontro de Quilombos”, a Beija-Flor também deixou o seu local de ensaios de rua para se entregar aos ajustes finais do desfile. O evento que leva outra escola para Nilópolis termina com gosto de saudade e na expectativa de que ano que vem aconteça de novo. Já a Deusa da Passarela, deixa a Mirandela e vai em busca do décimo quinto título com o enredo “Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da independência”, desenvolvido por Alexandre Louzada, André Rodrigues e Mauro Cordeiro, e será a quinta escola a desfilar na segunda de carnaval.