Por Luan Costa e Marielli Patrocínio
A Beija-Flor de Nilópolis celebrou com muita emoção, na noite da última quarta-feira, seu 15º título no carnaval carioca. A conquista foi ainda mais especial por homenagear Laíla, um dos maiores nomes da história da escola e do samba. Após uma apuração tensa, em que a azul e branca assumiu a liderança e confirmou o campeonato no último quesito, a quadra se encheu de alegria. O festejo reuniu componentes, torcedores e figuras importantes da agremiação, como Neguinho da Beija-Flor, que se despediu do microfone principal, os filhos de Laíla, que viram o legado do pai ser eternizado com mais um campeonato, e Gabriel David, presidente da Liesa, que tem uma forte ligação com a escola, sendo torcedor declarado da azul e branca da Baixada.

Presidente destaca importância de Laíla
Almir Reis, presidente da Beija-Flor celebrou a conquista do título com emoção, ele destacou todo o trabalho realizado pela escola desde o pré-carnaval. Para ele, independentemente do resultado, a escola já havia honrado Laíla com um desfile à altura de sua história. “Claro, sem preço. Desde quando lançamos a proposta, essa comunidade ficou hiper feliz. Você via que eles ensaiavam com muito vigor, acreditando no projeto”, disse Almir.
O presidente também exaltou a dedicação do carnavalesco João Victor Araújo e reforçou que o título foi um reconhecimento merecido para todos que fizeram parte desse momento. “Graças a Deus, a gente encontrou um caminho, e esse menino João foi incansável. E deu certo. O Laíla merecia, ele merecia isso.” disse Almir. Além disso, ele fez questão de mencionar a importância de Neguinho da Beija-Flor, que se despediu da escola campeã. “O Neguinho merecia ter uma saída digna para o campeão. É isso, essa comunidade aí. Você está vendo a felicidade deles”, completou.
Gabriel David comemora título
Gabriel David, atual presidente da Liesa, comemorou a vitória da Beija-Flor destacando a força do desfile da escola e a emoção que tomou conta da Sapucaí. Com uma ligação profunda com a agremiação por ser filho de Anísio Abraão David, patrono da escola, ele ressaltou que o título foi merecido e coerente com o que se viu na avenida. “Se você pegar o resultado do Carnaval como um todo, vai ver muita coerência entre as notas, muita coerência dentro daquilo que a gente imaginava que poderia acontecer após os desfiles. E a Beija-Flor merece o título, a comunidade nilopolitana merece o título. Faz sentido ter sido o desfile que mais empolgou a Sapucaí. Acho que foi, de longe, o desfile mais emotivo que teve no Sambódromo. E isso ganha Carnaval, isso sempre ganhou Carnaval e continua a ganhar Carnaval”, disse Gabriel.
Ele também elogiou a diretoria da escola, reconhecendo o trabalho do presidente Almir Reis e da comunidade. “Tem que ser valorizado. A diretoria tem que ser aplaudida, o presidente Almir tem que ser aplaudido, a comunidade nilopolitana tem que ser reverenciada.” disse Gabriel. Além disso, como presidente da Liesa, destacou o alto nível da competição deste ano e celebrou o planejamento das escolas. “Fico feliz de poder participar de um Carnaval onde todas as escolas tiveram um ciclo de bom planejamento e um nível de competitividade altíssimo, porque esse é o meu trabalho dentro da Liga: garantir que todas apresentem o melhor espetáculo possível na avenida e compitam no mais alto nível que eu já vi no Carnaval. Não tenho dúvidas de que foi o Carnaval de mais alto nível possível. E, mais uma vez, parabéns para a Beija-Flor, parabéns para toda a comunidade nilopolitana”, completou.
Neguinho se emociona durante despedida
Neguinho da Beija-Flor se despediu do microfone principal da escola após uma vida inteira dedicada ao samba e à comunidade nilopolitana. Ícone da azul e branca, ele acompanhou gerações de desfilantes, embalou vitórias históricas e construiu uma trajetória inigualável no Carnaval. Seu ciclo como intérprete oficial se encerrou da melhor forma possível: com a escola campeã, em um enredo que homenageou um dos maiores nomes da sua história, Laíla. Para ele, essa despedida coroada com mais um título teve um significado especial. “Eu entrei sendo campeão e estou entregando o microfone como campeão, em uma homenagem ao nosso grande mestre Laíla, o maior de todos os tempos, diretor de Carnaval e Harmonia. Isso não tem preço”. disse Neguinho, emocionado.
Carnavalesco dedica vitória à Rosa Magalhães
João Victor Araújo viveu a emoção de conquistar seu primeiro título como carnavalesco, um momento ainda mais especial por ser na Beija-Flor e em um desfile que homenageou Laíla. João viveu um ano desafiador após a colocação da azul e branca no carnaval passado. Como carnavalesco da escola, sentiu na pele as cobranças constantes e precisou encontrar forças para seguir em frente. “Eu fui cobrado o tempo todo por conta da colocação da escola no ano passado, fui muito cobrado. A minha cura foi o silêncio e a disciplina, para poder fazer um trabalho tão bom quanto o anterior. Mas isso deixa marcas na gente.” disse João.
Além desse desafio profissional, João também viveu um momento de grande perda pessoal com o falecimento de Rosa Magalhães, uma referência em sua trajetória. Ele fez questão de dedicar a vitória à artista, que sempre acreditou em seu talento. “Tenho certeza de que ela estaria muito feliz, muito orgulhosa de mim, porque torceu muito por mim no ano passado. Ela não está aqui fisicamente, mas espiritualmente, junto com o Laíla, junto com o João, certamente está vibrando.” disse João. Para ele, a coincidência de o troféu deste ano ser uma homenagem a Rosa tornou tudo ainda mais especial. “Olha que alegria: o troféu deste ano é uma homenagem à Rosa Magalhães! Olha que momento, gente! Que momento terno. Que momento, senhores!” disse o carnavalesco.
Comissão de frente decreta vitória
O quesito Comissão de Frente foi o último a ser lido na apuração, e, naquele momento, a escola já ocupava a liderança, restando apenas a confirmação do título. A tensão tomou conta da equipe, mas a confiança no trabalho apresentado na avenida era grande. Após meses de estudo e dedicação, o grupo sabia que havia entregado uma apresentação marcante, alinhada com a proposta do desfile. Cada nota anunciada aumentava a expectativa, e, quando o resultado se concretizou, a emoção tomou conta, selando uma conquista construída com esforço e paixão.
Saulo Finelon, um dos coreógrafos, descreveu a sensação no momento decisivo: “Foi realmente muito emocionante, porque a gente já tem a responsabilidade de entregar uma nota, e, neste ano, essa responsabilidade era tripla. Falar do Laíla, viver esse momento histórico da escola e, ainda, deixar por último uma nota que decidiria o título… Nossa, nem sei mensurar”, disse Saulo.
Já Jorge Teixeira destacou toda a preparação por trás da performance: “Foram meses de estudo, pesquisando sobre a vida do Laíla, principalmente por todo o lado espiritual dele. E aprendemos muito, foi um grande ensinamento. Durante o desfile, passamos muito tensos, mas, conforme cada jurado dava a nota e o público reagia, saímos de lá muito felizes, muito realizados. Hoje foi um dia muito emocionante, mas também muito tenso. Ser o último quesito, com a escola já em primeiro lugar, foi de tirar o fôlego. Mas agora é só felicidade”, explicou Jorge.
Ruan Montes, que representou Xangô na comissão de frente, não escondeu a emoção ao ver a Beija-Flor campeã. Para ele, viver esse papel em um enredo sobre Laíla e sair vitorioso foi algo inimaginável. “Nem nos melhores sonhos, eu ia imaginar que ia vir representando Xangô no enredo sobre Laíla e ainda ia ser campeão. Eu estou aqui, eu vim para a quadra confiante na minha escola, só que quando eu vi as notas, quando eu vi o resultado se revelando na nossa frente, chorei muito, vou chorar mais ainda. Eu estou radiante, estou feliz da vida. Muito feliz mesmo. Sem acreditar até agora”, disse Ruan, ainda emocionado.
Porta-bandeira com mais títulos
Selminha Sorriso viveu uma noite especial ao conquistar mais um título pela Beija-Flor, escola onde construiu sua trajetória sob a liderança de Laíla. Para ela, a vitória teve um significado ainda maior por ser uma homenagem ao diretor de Carnaval, que foi responsável por levá-la para Nilópolis e moldar sua história na azul e branca. “O sentimento é de gratidão por tudo que ele fez por nós, pelos ensinamentos, pelo que ele representou em vida. Passou um filme na minha cabeça, lembrando que ele foi o responsável por nos trazer para a Beija-Flor, onde estamos há quase três décadas. Ele respirava Beija-Flor e, onde quer que esteja, sei que está muito feliz agora”, disse Selminha.
Ela também destacou que, mesmo com o passar dos anos, sente-se plena para continuar exercendo sua função, mandando uma mensagem contra o etarismo. “Exercer essa função há 36 anos, num país que muitas vezes acha que as pessoas não têm mais condições, é uma luta diária. Mas eu sou da escola do mestre Laíla e vou provar que não existem regras para isso. O que existe é amor, trabalho, dedicação e respeito”, disse Selminha, reafirmando seu compromisso com a Beija-Flor.
Com mais essa vitória, Selminha entrou para a história ao se igualar a Dodô da Portela como a porta-bandeira com mais títulos no Grupo Especial. “Agora, acho que empatamos com a Tia Dodô, que era a porta-bandeira com mais títulos. Então, é mais uma conquista coletiva. Nada se faz sozinho. Hoje é dia de comemorar e agradecer ao terreiro de Laíla”, disse Selminha, emocionada com mais uma marca histórica em sua carreira.
Família emocionada
Os filhos de Laíla, Luiz Cláudio e Laísa, viveram uma noite de grande emoção com o título da Beija-Flor, que homenageou o legado do diretor de Carnaval. Para Luiz Cláudio, a conquista reafirmou a grandiosidade do pai e sua contribuição para a cultura brasileira. “Essa vitória representa a realidade do grande sambista, do sambista de raiz, que vem desde criança para uma comunidade inteira. Para a família, representa uma pessoa que trabalhou em prol do Carnaval desde os 18 anos de idade, em prol da cultura do Brasil, porque nós somos uma cultura. E ele promoveu essa cultura.” disse ele.
Ele fez questão de destacar que Laíla era maior do que qualquer escola, sendo uma peça fundamental para o Carnaval e o samba como um todo. “Laíla não era só Beija-Flor, Laíla era o Carnaval, era o samba.” completou Luiz Cláudio. Por fim, emocionado, falou sobre a forte conexão espiritual sentida durante o desfile e a apuração. “Hoje essa comunidade abraçou um lado espiritual muito grande, porque todos sentiram a presença dele. Isso representa o amor e carinho que ele deu para todos nós”.
Já Laísa, diretora de bateria da escola, reforçou sua paixão pelo samba e pela Beija-Flor, destacando a honra de ver sua escola escolhendo homenagear seu pai e voltando ao topo. “Acima de tudo, acima de qualquer coisa, eu sou muito sambista. Eu desfilo em outras escolas, meus amigos ritmistas, meus amigos mestres, eu sei a importância do samba, a importância do Carnaval para cada um de nós, eu trabalho com isso. Para minha agremiação, para minha escola, de onde eu vim, não poderia ser o enredo de outra escola. Eu tive a honra da Beija-Flor o escolher novamente e ver minha escola de novo no topo, minha comunidade feliz, minha comunidade sorrindo, não tem preço”, disse Laísa.
Ela também falou sobre a emoção de sentir a presença do pai nessa conquista. “Estou radiante e parece que a ficha não caiu. Nem nos meus melhores sonhos imaginei isso, é como se meu pai estivesse aqui de novo, impulsionando a gente, falando ‘vamos ganhar, vamos vencer’. A sensação que eu tenho é essa nostalgia, essa saudade gostosa que estou tendo, e a ficha não caiu ainda, a realidade é essa. Eu estou muito feliz. Eu sou muito Beija-Flor, eu sou muito Laíla”, finalizou, emocionada.
Sem vencer desde 2018, a escola voltou ao topo justamente com o desfile que a fez se reencontrar com sua identidade, reafirmando sua força e se consolidando, com folga, como a maior campeã da era Sambódromo.
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