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Beija-Flor exalta Neguinho em ensaio de quadra emocionante rumo ao Carnaval 2025

Comunidade de Nilópolis celebra o ícone da escola com samba, emoção e homenagem à trajetória do intérprete

Na quadra da Beija-Flor de Nilópolis, na última quinta-feira, o tempo parecia suspenso. A bateria “Soberana” dava o tom da emoção, que ecoava como batida de saudade. Não era apenas um ensaio de quadra como tantos outros. Tinha um gosto especial. Era a despedida de um rei. O último ensaio de Neguinho da Beija-Flor como intérprete oficial da azul e branca de Nilópolis.

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Fotos: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO

A multidão se espremia na quadra. Eram componentes da escola, sambistas de todas as partes, crianças que cresceram ouvindo sua voz inconfundível e os mais velhos que testemunharam seus primeiros passos no microfone principal. No rosto de cada um, um misto de alegria e saudade. Afinal, Neguinho não é só uma voz, é a alma sonora da Beija-Flor.

“Neguinho só vai deixar saudade porque ele é ícone, é vida, é a alma da Beija-flor, ele é tudo. A gente fica sem palavras e sem saber o que dizer, vai fazer muita falta para gente e para o nosso Carnaval em geral”, diz Roberto, integrante da harmonia que desfila na escola desde 1997.

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Quando os primeiros versos ecoaram, uma onda de emoção percorreu a casa da azul e branca nilopolitana. “Olha a Beija-Flor aí, gente!” nunca soou tão forte, tão definitivo. O carro de som era seu trono, e a comunidade, seus fiéis súditos. As baianas giravam em êxtase, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Claudinho e Selminha Sorriso, dançava como se dançasse para um deus. Os olhos marejados do presidente da escola, Almir Reis, entregavam a noite de grandes emoções.

“É muita emoção! Ao mesmo tempo o sentimento de felicidade porque isso é o mínimo que a gente tem à proporcionar para ele, e ao mesmo tempo de perda porque parece que a gente está perdendo um pedaço da gente. O Neguinho faz parte dessa história e isso nunca vai ser esquecido. Perder o Neguinho, para gente, é uma perda muito triste, mas faz parte. É uma escolha que ele fez e cabe a nós, respeitar. Mas, eu nunca vou deixar ele ficar longe da gente”, declarou visivelmente emocionado o presidente da Beija-Flor, Almir Reis.

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Entre os presentes na homenagem, destacavam-se figuras emblemáticas da escola e do carnaval do Rio de Janeiro. O patrono da Beija-Flor, Anísio Abraão David, que observava tudo com olhar atento, parecia ciente do legado que ajudou a construir. Ao seu lado, Gabriel David, presidente da Liesa, que fez um discurso carregado de emoção simbolizando a continuidade de uma grandiosa trajetória. Juntos, representavam a força e a tradição da agremiação, aplaudindo de pé o intérprete que se tornou símbolo da escola.

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Além dos membros da Beija-Flor, intérpretes de outras escolas de samba marcaram presença na homenagem. Grandes vozes do carnaval carioca como Tinga, da Unidos de Vila Isabel, Zé Paulo Sierra, da Mocidade Independente de Padre Miguel, Pixulé, do Paraíso do Tuiuti, Marquinho Art’Samba, da Mangueira, Pitty de Menezes, da Imperatriz Leopoldinense, entre outros, subiram ao palco para cantar sambas icônicos da Beija-Flor, relembrando momentos inesquecíveis da trajetória de Neguinho. Era como se toda a Marquês de Sapucaí se reunisse ali, em um coro de respeito e admiração, reafirmando a grandiosidade de um dos maiores intérpretes do samba.

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Legado e continuidade

Uma das vozes mais icônicas do carnaval brasileiro. Como intérprete oficial da Beija-Flor de Nilópolis desde 1976, sua trajetória se difunde com a da escola, ajudando a consolidar seu prestígio e acumulando inúmeras vitórias no Grupo Especial do Rio de Janeiro. Seu legado vai muito além das vitórias, sua voz inconfundível, carisma e talento ajudaram a elevar o papel dos puxadores de samba, tornando-os verdadeiras estrelas do carnaval.

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Ao longo de cinco décadas, Neguinho não apenas imortalizou sambas históricos como “A Deusa da Passarela” (1989) e “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia” (1989), mas também se tornou uma referência da cultura brasileira, influenciando novas gerações de intérpretes. Seu estilo inconfundível, sua capacidade de emocionar e sua presença marcante nos desfiles fazem dele um dos maiores nomes do gênero.

“Só pelo fato de você estar cinquenta anos sem enjoar, porque muitos casamentos acabam com menos de dez, e eu fiquei cinquenta anos, então eu só tenho a agradecer à essa comunidade por ter me aceito esse tempo todo”, declara Neguinho da Beija-flor, esboçando o seu sorriso marcante e inconfundível.

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Responsável por levar o nome de Nilópolis, município da Baixada Fluminense, e da escola, para o Brasil todo e para o Mundo, o intérprete ressalta que o vínculo com a comunidade nilopolitana será eterno. “Eu estou deixando o carnaval, mas não vou deixar de levar a Beija-Flor, a nossa Nilópolis para o mundo. Vou continuar minhas viagens cantando os sambas da Beija-Flor, menos na avenida, mas pelo mundo afora, para onde a gente for. Vou ficar junho, julho e agosto na Europa cantando Beija-Flor. Vou continuar Beija-Flor, só estou aposentando o canto. No ano que vem até empurrando carro se precisarem, eu estou dentro”, brinca o intérprete.

Sua carreira se deu início quando ainda era bem jovem, aos 25 anos, uma oportunidade recebida com muita gratidão por Neguinho que hoje, aos 75 anos, destaca a importância de dar lugar para quem está chegando agora: “A gente também tem que deixar para os mais novos”.

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A Beija-Flor seguirá sua trajetória, novos intérpretes virão, mas o canto de Neguinho será eterno. Como uma estrela, sua voz jamais se apagará. E, no desfile de 2025, quando ele soltar o primeiro grito no microfone, Nilópolis inteira saberá que não é uma despedida, é apenas um novo capítulo de um amor imortal.

Família Beija-flor te ama

A emoção era visível nos rostos dos componentes mais famosos da escola. Mestre Rodney, Selminha Sorriso, Claudinho e outros ícones da Beija-Flor se deixaram levar pelas lágrimas e pelos sorrisos de gratidão. A comunidade, unida em um só coração, cantava e vibrava com cada verso, cada batida, cada lembrança. O amor por Neguinho era estampado em cada olhar, em cada abraço apertado, em cada lágrima furtiva que escorria pelos rostos daqueles que fizeram da Beija-Flor um verdadeiro lar.

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“Não está sendo fácil acreditar que esse dia é real. O nosso intérprete Neguinho da Beija-Flor subindo ao palco pela última vez, de forma oficial ele não vai estar entre nós, no chão sagrado toda quinta-feira e tem sido difícil, eu prometi que não ia chorar mas é uma mistura de sentimentos. Mas é muito bem o ver tão valorizado em todos os cantos do mundo, isso é tão lindo, tão mágico e é isso que vou levar no meu coração. O Neguinho é um grande representante da nossa gente, do povo preto”, afirmou Selminha Sorriso, porta-bandeira da escola.

E se há algo que define essa sintonia, é o entrosamento perfeito entre a voz de Neguinho e a Bateria Soberana. Durante décadas, os ritmistas e o intérprete se comunicaram de forma quase telepática, criando momentos mágicos na avenida. Cada paradinha, cada convenção parecia desenhada sob medida para que a voz potente de Neguinho brilhasse ainda mais. O canto e a batida eram um só, como se tivessem nascido juntos, traduzindo a essência da Beija-Flor em som e emoção.

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“É o encaixe perfeito! A voz do neguinho com a harmonia da escola e a ficha ainda não caiu, eu acho que a ficha só vai cair depois do desfile das Campeãs. Na adversidade ele sempre esteve comigo, me dando conselhos, um verdadeiro paizão. Titio, gratidão imensa por tudo o que o senhor fez pela bateria soberana, pelo samba e pelo carnaval, o senhor é um divisor de águas, obrigada por tudo, nós te amamos”, comentou carinhosamente o mestre da bateria da Beija-Flor, Rodney.

Mais que uma escola de samba, uma família. A Beija-Flor valoriza o vinculo que se fortalece a cada geração, uma casa onde cada componente encontra seu lugar, seu ritmo, sua voz. Neguinho não estava apenas se despedindo de um posto, mas reafirmando seu pertencimento e o seu entrosamento com a família azul e branca nilopolitana.

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“A gente tem o Neguinho como um ícone do carnaval, mas sobretudo, é uma pessoa super humilde, um chefe de família, um paizão para gente. A gente fica feliz porque a gente sabe que ele vai estar bem, mas ao mesmo tempo fica um pouco triste porque a gente não vai ouvir mais o grito de guerra dele que identifica a nossa Beija-Flor de Nilópolis para todo o mundo. O Neguinho é família! Aonde a gente se encontra é beijo no rosto, abraço, ele sempre pergunta como a gente está, não é só na quadra, não é só na avenida, em qualquer lugar a gente se fala o tempo todo, a gente ri o tempo todo. Neguinho, a família Beija-Flor te ama e essa falta que você vai fazer, esse teu ecoar, esse teu ‘Olha a Beija-Flor aí gente!’, ele nunca vai morrer, será sempre guardado no coração de todo aquele que se torna Beija-Flor de Nilópolis”, finaliza bastante emocionado o mestre-sala, Claudinho.

Sentimento é de saudade

No auge do ensaio, a escola fez uma grande homenagem: uma parada estratégica para que toda a comunidade entrasse em um único refrão do samba-enredo 2025. Ele, bastante emocionado, parou de cantar por alguns instantes para deixar que a sua voz fosse multiplicada em centenas.

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“Ele vai parar em boa hora, mas vai deixar muita saudade aqui pra gente, principalmente para a comunidade porque nós somos crias da casa junto com ele e só de falar, já me da vontade de chorar. É triste, mas temos que aceitar. Vai deixar muita saudade”, finalizou Marisa dos Santos, de 65 anos e componentes da escola há 30 anos.

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Neguinho da Beija-Flor não é apenas um intérprete, mas uma lenda viva do samba, cuja voz ecoa na história do carnaval, celebrando a alegria, a tradição e a resistência da cultura popular brasileira.

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