O carnavalesco Alexandre Louzada, hoje na Beija-Flor, revelou em uma mesa de debates promovida pelo Observatório de Carnaval da UFRJ (OBCAR), que a azul e branca nilopolitana assumiu um terço da dívida que a Mocidade tem com ele depois de sua última passagem na agremiação. Em um depoimento duro e sincero, Louzada falou que a maioria das escolas são mal geridas e elogiou sua atual escola nesse aspecto. (Fotos de Amanda Alves)
“As escolas passaram a existir como empresas. E tem aquelas que são bem ou mal administradas. O Carnaval não está em crise por responsabilidade dos artistas. O projeto administrativo que deu errado. Hoje estou em uma escola que prima pela organização administrativa. Uma agremiação que honra R$ 4 milhões de folha de pagamento independente de patrocínio, subvenção. Quando acertei com a Beija-Flor, Anísio se comprometeu com um terço da dívida que eles têm comigo. A parte do combinado era essa. A torcida da Mocidade é exigente, reclama muito, mas muita gente não sabe o que se passa ali dentro. Eu jamais desisti, pois eu tenho um nome no carnaval”, criticou.
O ciclo de debates promovido pelo OBCAR recebeu outros carnavalescos que falaram sobre o empreendedorismo na festa mais popular do planeta. João Vítor Araújo, atualmente no Paraíso do Tuiuti, relembrou seus tempos de Rocinha e também deu um forte relato sobre a gestão da escola.
“Quando fechei com a Rocinha em 2017, muitas pessoas me falavam que eu não conseguiria, não por mim mas pela situação da escola. Fazer aquele carnaval foi a minha reinvenção, minha transformação. Era um recomeço, recebi pouco. Tinha acabado de fazer a Portela com o Paulo Barros. Tínhamos R$ 1,4 milhão para fazer o carnaval. Eu mesmo tracei um orçamento com a metade desse valor. Isso fez com que eu conseguisse. Na reta final do desfile eu estava sem receber. Terminou o carnaval eu recusei a renovação mesmo com a promessa de pagamento. Eu não sou sozinho, existe uma equipe”, disse.
Também convidado a participar do debate, Jorge Silveira da São Clemente usou a sua fala para fazer críticas à Liesa. Na opinião de Jorge, a entidade máxima do carnaval ignora os carnavalescos e os artistas que fazem a festa ficam distantes do poder de decisão.
“Os carnavalescos têm uma relação muito distanciada das decisões do carnaval. A gente não tem oportunidade de ir na Liesa debater os desfiles. As cabeças que criam o carnaval precisam conversar com aquelas que decidem. E só fomos chamados para debater iluminação. Uma falsa democracia. Fomos apenas comunicados de uma possibilidade. De concreto nada aconteceu”, reclama.