Por Gustavo Lima e Will Ferreira
A Unidos de Vila Maria realizou na noite de sábado o seu primeiro ensaio técnico para o carnaval de 2023. Serão três treinos que a agremiação irá fazer na passarela. A ‘Vila mais famosa’ é a primeira agremiação do Grupo Especial a ensaiar no espaço neste ano, que terá uma longa temporada. Sobre o ensaio, há pontos positivos e negativos. Destaque para a comissão de frente que remeteu a um espetáculo infantil e danças circenses. Além disso, a bateria de mestre Moleza, novamente, foi destaque na agremiação, embalando a comunidade com seu leque de bossas. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Edgar Carobina e Laís Moreira também teve grande desempenho, dando o tom da Vila Maria no ensaio. A agremiação irá levar para a avenida o enredo “Vila Maria, Minha Origem, Minha Essência, Minha História! Fonte de Amor Muito Além do Carnaval”, onde contará a história do seu bairro e da própria escola. * VEJA AQUI FOTOS DO ENSAIO
Comissão de frente
Foi um dos pontos positivos da escola. A ala dançava aparentando estar na infância. Dava para ver cambalhotas, sorrisos, abraços e danças dos componentes de um lado para o outro ocupando todo o espaço possível da pista. Os integrantes usavam uma fantasia colorida com azul predominante, rostos pintados e nariz de palhaço. Esse tipo de comissão de frente interpreta-se que é uma representação da população do bairro da Vila Maria na infância. Ou seja, as lembranças carinhosas dos primeiros momentos no local.
Harmonia
A escola optou por um samba diferente, mas o ritmo intenso que ele pede, ainda precisa ser melhor treinado. Houve desencontro de canto entre as alas. A obra pegou na comunidade, mas ela precisa ser trabalhada. O volume do canto deu para ouvir a partir do segundo setor, pois o primeiro foi praticamente nulo. A entonação foi evoluindo gradativamente, mas mesmo assim a irregularidade continuou. O departamento de harmonia caminhava pela pista e voltava para corrigir os versos. Destaque positivo para a Ala Narita, que não parou por um segundo.
“Pelo primeiro ensaio, confesso que a gente estava esperando um número de componentes menor, até em razão do tempo. Frio, chuva, virada de ano e não fizemos nenhum ensaio geral de quadra para esquentar o povo. Fizemos um ensaio rapidinho com algumas alas para não chegar tão gelado aqui, mas confesso que surpreendeu bastante a gente. O recuo de bateria que normalmente tem sempre um problema para acertar, hoje nós acertamos. Precisamos corrigir uma parte da evolução ainda. Principalmente no retorno da bateria, onde a escola dá uma ‘aceleradinha’. É só fazer um breve ajuste no quesito evolução”, disse Cesinha, diretor de harmonia.
Sobre a irregularidade no canto entre as alas, o diretor revelou que é a falta de componentes. “Isso é a falta de componentes que não chega na escola. Hoje mesmo chegaram pessoas de outras regiões e é a primeira vez que eu estou vendo na escola que não participaram de nenhum ensaio de quadra, não pegaram o samba e só vieram. Então vamos participar. Estamos com uma logística com essas pessoas que estão vindo pela primeira vez porque o carnaval já está aí. Dia 17 de fevereiro está chegando e eu tenho pouco mais de 30 dias para trabalhar isso e eu tenho certeza que o quesito harmonia vai ser um dos pontos cruciais na hora do desempate para definir a campeã do carnaval”, completou.
Mestre-sala e porta-bandeira
O casal Edgar Carobina e Lais Moreira enfrentou um forte vento, porém não se deixaram levar. A porta-bandeira, principalmente, deslizou no solo do Anhembi. A energia que ela tem com seu pavilhão é muito grande. O mestre-sala é um grande protetor. A sincronia entre os dois no treino foi muito satisfatória. Executaram os protocolares giros horários e anti-horários, coreografia dentro do samba e, o mais importante de se notar, sorriram bastante e interagiram com o público, principalmente, em frente ao setor B. Edgar até fez ‘coraçõezinhos’ para a arquibancada. Eles mostraram o pavilhão com muita garra e arrancaram aplausos da torcida e das pessoas presentes na arquibancada.
Lais avaliou o seu ensaio e a emoção de ostentar o pavilhão da Vila Maria. “Foi tudo muito bom… ou melhor, bom. Por ser o primeiro, foi bom. Ainda temos que consertar muitas coisas. Hoje ainda teve muito vento, porém foi um bom ensaio para sentir o clima. Era um ensaio realmente técnico, para sentirmos a pista e ver o que precisamos corrigir dentro do nosso trabalho. Treino é treino e jogo é jogo. A gente poderia ter feito melhor, mas foi muito bom. Nós dois trabalhamos muito e somos muito perfeccionistas. Nunca vai estar excelente e maravilhoso. Quando acharmos que está suficiente, não chegaremos no objetivo que queremos. A energia estava agradável, o público compareceu, a escola está lindíssima. Isso tudo fortalece, anima e contribui muito para o resultado do ensaio. Carregar o pavilhão é uma responsabilidade tão grande… A cada dia podemos entregar mais para essas pessoas que lutaram por essa história. A gente pode mais, não podemos nos contentar com o que nós apresentarmos. As nossas, não a das pessoas”, declarou.
Edgar falou sobre os acertos que se deve fazer. “Tem alguns pontos no Sambódromo do Anhembi que o vento é muito forte. Esses ensaios são para tentar consertar para que, no dia, se acontecer uma eventualidade dessas, a gente saiba como reagir na hora. Nesse momento o vento é bem-vindo, para podermos praticar. É um pouco desconfortável principalmente para a Laís, que carrega o pavilhão, porque força muito o braço dela. Para mim, quando a bandeira fica aberta e faz uma corrente de vento, pode me prejudicar. A cada dia, a cada ensaio, quando ouvimos esse samba, é muito impactante. O ‘respeite a nossa história’ é sensacional. No decorrer do samba, letra por letra, palavra por palavra, você vê que é um samba muito bonito e dá um combustível muito forte para gente. Representa muito bem a nossa comunidade, o nosso povo, a nossa escola. É uma coisa surreal, só quem é Vila Maria sabe e pode dizer”, afirmou.
Evolução
O desempenho neste quesito foi mediano. Entra na mesma questão da harmonia. Algumas alas se destacam muito e outras nem tanto. Não houve regularidade. Podemos notar componentes durante o ensaio evoluindo de forma lenta e outros quase andando. Ficar ‘parado’ é um erro grave. Entretanto, teve componente que demonstrou tamanha alegria o tempo todo. Pulou e sambou do início ao fim. Destaque para o alinhamento das alas que foi feito corretamente em todos os setores, não deixando buracos ou espaços visíveis na pista. Vale ressaltar o ótimo movimento feito para a bateria entrar no recuo. Ala de passistas e rainha de bateria preencheram o espaço.
Samba-enredo
É um samba diferente do habitual para a Vila Maria. Tem uma melodia para frente e andamento com um gás lá em cima. Nos anos anteriores, a aposta era em um samba mais ‘lento’. Essa mudança pode ser positiva, pois permite o componente brincar e evoluir de forma leve. O intérprete Wander Pires se adaptou prontamente à obra e vem colocando a comunidade da ‘Vila mais famosa’ para frente. As partes mais cantadas são os versos: ‘Bem mais que um caso de amor, muito mais que um caso de amor’, ‘A fé nos guia, Senhora Maria’ e os refrões principal e do meio.
Wander Pires avaliou o ensaio e seu trabalho com o mestre Moleza. “Nossa, foi maravilhoso. Eu fiquei surpreso. No primeiro ensaio foi maravilhoso! O samba é uma coisa muito linda, uma escolha do samba certa pelo presidente Adílson José. O mestre Moleza, com a Cadência da Vila, está maravilhoso. A escola está cantando o samba… gente, foi um ensaio emocionante. O segundo será melhor, o terceiro será melhor ainda. E o desfile será algo divino, para todo mundo chorar. A parte do samba que eu mais gosto eu acho que é a ‘bem mais que um caso de amor’. Também acho muito forte a ‘respeite a nossa história, são anos de glórias. O mestre Moleza, com a Cadência da Vila, é uma pessoa maravilhosa e muito fácil de se conversar e trabalhar. Ele sabe que o meu negócio é cantar, eu não me meto em nada. A minha praia é cantar. Eu, com a bateria, jamais terei alguma objeção. Só tenho a agradecer o que ele faz. É uma coisa maravilhosa cada bossa que ele faz, são coisas de outro mundo. Acho que ele está conectado em outra coisa quando ele cria essas bossas. A Cadência foi um dos setores que me trouxeram, junto com a presidência. Eles têm muito a ver com a minha estada na Vila Maria”, declarou.
Outros destaques
A rainha de bateria, Savia David, esbanjou simpatia e samba no pé frente à Cadência da Vila. A sambista estava usando uma roupa na cor azul clara. A bateria Cadência da Vila, sob regência de mestre Moleza, mostrou que não vem para brincadeira. Novamente, mostrando um grande repertório de bossas. É a característica principal da batucada. Destaque também para afinação e desenho de tamborim.
O diretor de bateria da agremiação, mestre Moleza, falou sobre o desempenho de sua bateria. “A gente tinha uma preocupação grande por ser um ensaio logo após as festas de fim de ano, até em termos de contingente, por termos uma bateria muito jovem. Graças a Deus, aos nossos projetos sociais, a nossa bateria mirim e a escolinha de bateria, nós temos um apelo muito forte e uma identidade muito forte com a Unidos de Vila Maria e a Cadência da Vila. O pessoal responde ao nosso chamado. Fizemos uma mobilização, chamando um por um, e o resultado foi esse daqui, com a bateria praticamente completa, com a galera que vai desfilar na sexta-feira de Carnaval. Tudo que a gente ensaiou, fizemos aqui. Conseguimos fazer de forma limpa e clara. Uma proposta muito ousada de bateria, de frases, rítmicas, bossas, e também trazendo uma homenagem a todos os mestres que deixaram esse legado para conseguirmos fazer esse trabalho”, comentou.
O diretor também falou dos pontos que devem ser aprimorados. “Acho que essa questão do preparo físico. A gente fica um tempo parado nas festas, e a gente vem pra cá e sente essa coisa de tocar a bateria toda junta, fazer um esquenta grande e tocar 65 minutos. Com essa carga de ensaios de janeiro, principalmente ensaios de rua e os próximos ensaios técnicos, a gente vai chegar melhor preparados fisicamente. A partir do momento em que chegarmos melhor preparados fisicamente, você executa melhor a sua proposta com mais tranquilidade, você não chega abrindo o bico. Como em qualquer esporte. A bateria também, sejam as alas ou a parte de evolução, precisa desse condicionamento físico. A gente vai trabalhar bastante para deixar a nossa proposta ainda mais limpa e mais clara”, completou.
Moleza enalteceu uma bossa específica que se localiza no refrão do meio. “A gente tem umas coisas bem legais, como o nosso refrão do meio por exemplo. Ele fala “No meu lugar toca samba de primeira, é a cadência que faz a Vila sambar”. Nessa hora, os surdos de primeira fazem um solo e fazem sambar. A gente vem com umas frases com influência de axé, de repique de anel do pagode e do samba, característicos da antiguidade. Essa bossa é a que promete ter um impacto maior aqui com as arquibancadas lotadas. Fiquem ligados nela, que a gente vai ouvir aquele frisson que a gente está acostumado a ouvir no dia de desfile”, finalizou.