A Unidos de Bangu levou para a Sapucaí em 2023 o enredo “Aganjú: a visão do fogo, a voz do trovão no Reino de Oyó”. O desfile contou a história de uma qualidade de Xangô, apresentando os festejos de Aganju, o Xangô menino, na cultura afro-brasileira. Para quem não o conhece é o orixá ainda criança, diferente da sua qualidade mais conhecida, até sua data de comemoração é diferente, no sincretismo religioso Aganjú é São João e não São Jerônimo
A bateria Caldeirão da Zona Oeste comandada pelo estreante mestre Laion virá com um figurino representando uma parte que além de ser importante para o enredo faz referência a religiosidade que os ritmistas ancestralmente derivam. A fantasia “O toque de Alujá” representa como citado no nome o alujá, que é o toque dos atabaques, que invoca Xangô nos terreiros de candomblé. O modelito era bastante leve permitindo que os ritmistas pudessem desempenhar bem o seu papel, sendo predominante o branco, mas com traços em vermelho com detalhes em signos das religiões de matriz africana.
O site CARNAVALESCO conversou com alguns dos integrantes da “Caldeirão Vermelho e Branco” para saber mais sobre a relação que tiveram com a roupa e como está conectada também com o ritmo que produziram. Bruno Bangu, que toca surdo de segunda na bateria, além de ser intérprete da Vila Carioca que desfila na Intendente, falou da importância da bateria retratar uma parte tão importante para o enredo e para a musicalidade de Xangô em geral.
” A gente se enquadra no que o enredo está falando, tanto na batida afro, na batida de Xangô e também a caipira, porque veio falando também das linhas de Xangô e também vai no Santo Antônio da caipira, a gente vai representando toda essa característica da batida. Quando a Bangu se reencontra com esses temas afros é uma facilidade a mais para bateria que também se junta a religião com o carnaval, na batida afro, e fica impossível não colocar aquele valor legal da batida afro. Sempre se enquadra junto”, explicou o ritmista.
Na linha de Bruno, Gustavo Oliveira, que toca surdo de primeira na Unidos de Bangu comentou a importância de a escola principalmente retomar a apresentação de um tema afro, o que em sua opinião facilita o trabalho dos ritmistas.
” A bateria toda a vez que traz um tema afro, consegue desenvolver melhor o trabalho, a gente consegue fazer umas bossas um pouco mais complexas, soa melhor. Acho que essa é a vantagem de estar fazendo um enredo sobre o Aganjú, Pai Xangô da justiça”, entende o ritmista.
Gustavo, nascido e criado na umbanda, também ressalta que a temática escolhida pela escola é importante para que a cultura possa ser grande artifício para vencer a intolerância contra as religiões de matriz africana.
” A gente nasceu em um país que seria laico, mas na verdade ele pé cristão, então a gente cresce com intolerância desde sempre, desde que o Brasil se tornou Brasil. Mas, é extremamente importante a gente fazer um enredo sobre isso, porque cada vez mais vai batendo nesta tecla e as pessoas vão entendendo que não é qualquer coisa, é uma religião extremamente importante, extremamente brasileira que traz a nossa cultura e mistura a nossa cultura”, afirmou o músico.
Da ala de cuíca, Ralf Dias e Jairo Carvalho, falaram um pouco sobre como a energia de trazer um toque importante não só para o ritmo, mas para a religiosidade, interferiu até mesmo no astral da agremiação.
” Foi muito importante trazer uma fantasia completamente ligada ao enredo. E a nossa fantasia trouxe um toque de religiosidade, uma energia positiva não só para gente, mas para escola, ainda mais porque a bateria é o coração da escola. Não tenha dúvida. Fizemos alguns toques na parte da bateria que faz alusão ao Machado de Xangô”, explicou Jairo.
” Acho que o tema trouxe uma energia que é sempre positiva para escola, uma fantasia leve, boa para tocar, e Xangô ajudou para que o desempenho fosse satisfatório. E o alujá que é um toque importante para Xangô não podia faltar no desfile”, ressaltou Ralf.
A Unidos de Bangu foi a terceira escola a desfilar na segunda noite de desfiles da Série Ouro 2023.