No dia 07 de outubro, o Rosas de Ouro, sete vezes campeão do carnaval paulistano, gravou a faixa da agremiação para o álbum dos sambas-enredo do Carnaval 2025. Defendendo o enredo “Rosas de Ouro Em Uma Grande Jogada”, a obra, composta por Aquiles da Vila, Fabiano Sorriso, Salgado Luz, Leandro Flecha, Fábio Gonçalves, Fabian Juarez, Marcos Vinicius, Daniel, Wagner Forte e Biel será a sexta a ser executada na sexta-feira de carnaval (28 de fevereiro) pelo intérprete Carlos Jr. No estúdio, ficou evidente a força da “Bateria Com Identidade”, comandada por mestre Rafa. O CARNAVALESCO esteve presente na gravação e conversou com personagens importantes da Roseira sobre o momento tão aguardado.
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Em diversos momentos da faixa, foi percebido o um alto volume de diversos segmentos da agremiação. Além da já citada bateria, o coral da escola também cumpria muito bem o papel – sobretudo na passagem com todos à vista. Vale destacar que os presentes carregavam pompons azuis e rosas, cores da instituição – e que, por sinal, também foram exibidos por Ana Beatriz Godói, rainha dos ritmistas.
Tal característica da Roseira foi destacado por alguns personagens do Rosas. Dante Baptista, um dos diretor de Harmonia, juntamente com Fernando Rosa e Bruno Amaral, foi um deles: “Eu acho que, o que temos de especial e único, é a força que essa comunidade tem na hora de cantar. Pelo tempo que eu tenho de escola e nas minhas duas passagens, é uma escola que a gente vê muita força de canto, muita alegria. Eu acho que a gente consegue trazer um nível de entretenimento alto. Os últimos desfiles que todo mundo vê, independentemente até dos nossos últimos resultados, eles sempre são desfiles que as pessoas se empolgam em assistir. A gente quer, de novo, passar essa energia. A gente vai ter algumas ações, desenhos de mão pra que as pessoas vejam e tudo mais – não vou abrir muito, que é para todo mundo esperar gravação e para a gente não dar spoiler, mas a gente vai ter alguns adereços de mão pra brincar. A gente se organizou bastante para essa gravação. A força do nosso canto é a alegria que cada componente tem de ser Rosas de Ouro. A gente está muito empolgado com esse desfile, a gente está muito empolgado com todas as possibilidades que esse desfile pode trazer. É um refrão que já diz: o jogo vai virar. A gente está realmente empolgado e querendo muito que esse jogo vire – e que a gente seja parte dessa virada de jogo para o Rosas de Ouro”, comentou.
Mais sucinto, Evandro Souza concordou: “A gravação tem os seus próprios padrões; mas, pensando no Rosas, o que vai ter de mais especial é o canto da nossa comunidade. É uma coisa que a gente vem trabalhando há um bom tempo, é um ponto forte da escola. A gente vai berrar o samba lá”, revelou.
Aproveitando para falar do trabalho em relação à obra, Carlos Junior, o Carlão, aproveitou para relembrar um episódio do carnaval de 2024 e, também, para elogiar a obra: “Eu, particularmente, acho que é um baita samba. Tenho, na minha consciência, que preciso trabalhar muito mais com esse samba porque quem gravou o samba na eliminatória foi o Bruno Ribas, no tom dele. No ano passado, o Rosas perdeu um décimo em samba-enredo, segundo o jurado, porque eu cantava alto pela canção, me preocupou o samba ser alto: não é se o samba é bom ou ruim, é se o samba cabe para ser cantado por todos. Não esperávamos por isso. Gosto, cada um tem o seu, mas nós vamos trabalhar triplicado. Vou fazer o meu trabalho: vou me afogar no samba, ouvir o povo, se tiver que mexer no tom eu vou mexer”, prometeu.
Elogiados celebram a ‘Bateria com Identidade’
Os responsáveis pela bem quista obra fizeram questão de realçar o quanto os ritmistas são importantes para o resultado final. Aquiles da Vila, um dos compositores da obra, foi um deles: “Quando a gente fala de Rosas de Ouro, temos uma identidade com a escola há muitos anos – e acho que uma das marcas da escola é a identidade da bateria. A bateria bem pra frente, cheia de recursos… a gente sempre pensa nisso na hora de fazer um samba. Muitas pessoas imaginam mais uma reflexão sobre o jogo, mas é algo que vai muito além, vai nas relações humanas. É um samba que tem bastante energia para o horário que vai desfilar a escola, é um samba com bastante força e vai levar a comunidade que já canta demais para mais um grande desfile”, comentou.
Ricardo Rigolon, o Chanel, arranjador da canção, aproveitou para destacar que também é integrante da comunidade: “Eu também destilo no Rosas há alguns anos. Acho que o diferencial é que, aqui, a gente tem um pouco mais de liberdade para solar junto com a parte rítmica. Dobrando caixa, dobrando tamborim, dobrando surdo, essas coisas. Dá bem mais trabalho, mas acho que fica uma faixa diferente. Pelo menos em relação as que eu estou colaborando, acaba ficando uma faixa diferente das demais por causa dessa relação, dessa conversa entre cordas e a percussão, essa distribuição toda especial. Não é que as outras não tem, mas é uma característica do Rosas umas bossas mais extensas, mais longas. É algo mais difícil. Você acaba tendo que pensar diferente ou toca: ou faz junto ou tira a mão. Nas demais a gente ataca junto, faz junto. Essa é a ideia”, frisou.
Elogiado traz lembranças
Comandante da “Bateria com identidade”, mestre Rafael Oliveira, o Rafa, aproveitou para destacar que há uma grande mudança nos comandados para 2025: “Nós, da ‘Bateria Com Identidade’, tivemos uma proposta diferente nesse ano. Colocamos a bola no chão, revimos algumas coisas e estamos trabalhando mais tranquilo referente às bossas: elas estão com menos compasso e menos difíceis, mais fácil para as pessoas assimilarem. Para a gente está sendo um desafio porque estávamos desde 2015 fazendo muita bossa complexa, mas chegou a hora de colocarmos a bola no chão e pensar mais no componente que cante e evolui, no cantor e na ala musical. Deixamos um campo bem livre e um solo bem tranquilo para o Carlão cantar. Tem bastante bossa, mas é tudo muito tranquilo, dentro da melodia. Não tem nada muito quebrado, não tem um pelinho ou centavo quebrado. Já temos três bossas, queremos mais uma ou duas para, quando começarmos a largar, abrilhantar e dar aquele espetáculo que gostamos de fazer, para tirar uma onda. O samba foi feito para o Carlão, pensado para a bateria tocar. Estamos trabalhando”, afirmou, depois de dizer que o andamento da bateria estará entre 144 e 146 BPM (batidas por minuto).
Novamente, trazendo recordações de outros carnavais, Rafa escancara o processo de autocrítica pelo qual toda a agremiação passa: “É um trabalho desafiador desde 2019. A escola não tem conquistado uma posição satisfatória, uma que almejamos. Já começa por aí: temos que trabalhar isso, correr atrás de uma colocação melhor. Esse é o primeiro desafio. O trabalho está sendo diferente esse ano porque está todo mundo junto e envolvido, em todos os setores, para alcançarmos um melhor resultado. Trocamos carnavalesco, diretrizes… o modo de trabalhar está sendo mudado. Estamos empenhados em sair da zona de rebaixamento já tem algum tempo, isso não é legal para a história da nossa escola. Isso também não condiz com alguns resultados que a gente teve. Não concordamos, mas continuamos trabalhando e não somos uma escola que fica culpando jurado A, B ou C. Se eles anotam, tentamos melhor nesse sentido. Estamos trabalhando e nosso intuito maior é tirar a escola dessa zona de rebaixamento. A voz do povo é a voz de Deus e muitas pessoas falam que não esperam as colocações do Rosas de Ouro. Não sei o que está acontecendo, os jurados veem assim… enfim. Não concordamos com muitas coisas, trabalhamos em cima das justificativas. A cara da escola já está sendo mudada, com uma plástica muito bacana de fantasias cheias de luxo e que há anos não tínhamos, alegorias muito legais. Vamos continuar trabalhando e lutar para obterum bom resultado. Não falo de campeonato. Pés no chão, para que a gente volte a estar lá em cima, no topo, brigando com as grandonas”, vislumbrou.
Mais referências, mais autocrítica
Quem também fez uma viagem ao passado para falar do carnaval 2025 do Rosas foi Aquiles da Vila, histórico compositor da instituição: “Eu venci sete vezes no Rosas de Ouro, é a escola que eu concorri sete vezes e venci sete vezes. Começou em 2009, na ‘era Jorge Freitas’, vamos chamar assim. Fomos campeões lá em 2010 com o cacau, o último título da escola. E, depois pegamos os carnavais do André Machado – em 2017, 2018 e 2020. E, agora, esse, com a nova proposta da escola. As pessoas sempre ligam o nosso nome com a escola, mas a gente tem esses intervalos, esses hiatos grandes. Sempre a volta para a escola, o último samba que a gente fez, foi lá em 2020. Estamos falando em cinco carnavais. É sempre uma volta, é sempre um retorno. É uma volta triunfal. A gente conseguiu atender a expectativa da nossa comunidade, que cobra mais da gente pelo histórico. É uma volta espetacular e vamos junto até a última linha amarela”, prometeu.
Já Carlos Juniors enveredou pela linha da autocrítica: “Em uma gravação, a técnica é mais importante. Mas isso não quer dizer que eu tenha essa técnica, que eu consiga controlar o meu emocional ao ponto de deixar a gravação perfeita tecnicamente. Você nunca sabe se você, cantando tecnicamente, vai agradar a todos – ou vice-versa”, refletiu.
Preferências
Alguns entrevistados foram instigados a falar sobre o que mais gostam na canção. Carlão destacou um dos momentos de maior explosão na faixa: “Principalmente na parte de letra, o samba tem muitos momentos motivacionais. O refrão, por exemplo, fala que ‘o medo de perder não pode superar a gana de vencer’… isso é muito motivador”, comentou.
Já para Chanel, a bateria brilha na gravação: “O mais especial da faixa é a construção dos arranjos da batucada, que sempre vem com essa proposta e que já é a identidade da escola. Pode esperar que a batucada sempre vai vir danada bem cheia de bossas. A rapaziada vai gostar”, afirmou.
Destacando a participação de muitos na comunidade, Dante falou da empatia que o Rosas trará ao torcedor: “A gente procurou trazer o máximo permitido pela Liga-SP. Com a rotação entre coral e ritmistas, a gente está realmente no limite aqui. O nosso critério foi ser o mais democrático possível. A gente procurou trazer representação de todas as alas, todos os segmentos da escola. Cada ala tem um representante, cada segmento da escola tem um representante. A gente quis que toda a nossa escola estivesse representado nessa gravação. Quem for assistir vai encontrar o chefe da ala um, da ala dois, da ala três, da ala quatro… vai encontrar o diretor de Harmonia, o diretor de Alegoria, o diretor de Carnaval, o pessoal do projeto social – que é uma marca muito forte nossa. A gente procurou, realmente, ter essa representatividade da escola como um todo dentro desse coral, dentro da nossa gravação para que cada componente da Rosas de Ouro se veja e se sinta representado na faixa”, buscou.
Evandro falou como gestor: “A gente vem dentro do que a Liga-SP pediu em relação ao coral e tudo mais. A gente está trazendo as pessoas que estão trabalhando com a gente desde o lançamento do enredo. Optamos pelas lideranças da escola para a gente não, de repente, favorecer algum componente ou outro, para ficar uma coisa igual para todo mundo. Todo mundo tem a oportunidade de vir aqui e contribuir com a escola”, ponderou.
Por fim, Carlão elogiou ao modelo proposto pela Liga-SP: “Desde os primórdios da música, tem que ter o ensaio: é necessário ensaiar para fazer uma gravação – que, nesse caso, seria ao vivo. No estúdio, você monta o time com profissionais habilidosos e vai fazendo as coberturas, com as guias e o maestro direcionando tudo. Em uma escola de samba, é tudo muito diferente. Esse formato não é uma novidade, e os intérpretes têm que se virar em relação às bossas, para que elas encaixem certinho nas métricas. Um projeto audiovisual não é um CD ao vivo: é um conceito moderno, com cantor aparecendo, roupagem, entrosamento de canto e ritmo, alinhamento visual com o áudio. A diferença é essa”, finalizou.