A Barroca Zona Sul esteve na Fábrica do Samba, em outubro, para registrar oficialmente seu samba-enredo para o Carnaval 2026. Com presença massiva da comunidade, forte união entre os segmentos e confiança absoluta na qualidade da obra, a Verde e Rosa da Zona Sul reafirmou seu compromisso em apresentar um desfile marcante, especialmente por ocupar a posição de encerramento da noite de sexta-feira. O mestre de bateria e compositor Fernando Negão, responsável direto pela pulsação rítmica da escola, explicou a construção musical que a Barroca levará para o disco e para a avenida.
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“O andamento da bateria do Barroca para a gravação vai ser de 144 BPM (batidas por minuto). Na avenida vão ser três bossas e, na gravação, a gente vai fazer duas e meia. Vamos pegar uma bossa pela metade e duas inteiras. É bastante desafiador comandar a bateria que vai sustentar um samba tão elogiado. Mais uma vez é um samba muito bonito, graças a Deus a gente fez com bastante carinho. Deu tudo certo! Para mim, é o que eu sempre digo, é um pouco mais fácil de trabalhar porque eu sou um dos compositores do samba, e eu já pego o samba desde a construção e já vou pensando em algumas bossas para encaixar na bateria”.
O mestre revelou também sua parte favorita. “A parte que eu mais curto no samba é o refrão da cabeça, acho bem interessante, bem legal e bastante forte”.

Sobre o horário de desfile, o último da madrugada, Negão vê o momento como mais um desafio a ser superado. “Esse é um horário bastante diferente para o Barroca, é um horário que a escola faz tempo que não desfila – no caso, ser a última escola da noite. É um trabalho bem desafiador, é um trabalho bem árduo. Mas, se Deus quiser, vai dar tudo certo. A gente tem um samba belíssimo, um samba que caiu nas graças da galera e a bateria vai se encaixar bastante com o samba”.
Na parte operacional, o representante da Comissão de Carnaval, João Ricardo Alexandre (Jonny), destacou o esforço coletivo para garantir um grande contingente na gravação.
“Hoje nós viemos com 103 pessoas, para ser bem exato. São 43 da bateria e 60 pessoas do elenco”.

A logística foi planejada para facilitar a chegada da comunidade à Fábrica do Samba. “O pessoal da escola preferiu vir direto, a comunidade achou que era mais fácil. A gente trouxe dois ônibus lá da quadra, eles saíram de lá duas horas antes de chegar aqui. Nesses ônibus tinham baianas e o pessoal que tem mais dificuldade em relação à mobilidade. Saindo daqui, a gente vai numa apresentação da Independente, nossa coirmã”.
Sobre o desfile, Jonny antecipou a estética que a Barroca pretende levar ao Anhembi. “A gente é a última a desfilar na sexta-feira, já clareando o dia. Podem esperar muito ouro, muitas surpresas. Vai ser um carnaval bem rico e colorido. Muita cor de ouro, mas muito colorido, também, pelo horário. Podem esperar algumas surpresas, também”.
O diretor musical e arranjador Tonn Queiroz comentou a construção sonora do samba, especialmente por se tratar de um enredo com temática afro e forte referência a Oxum. “No tema afro, é importante privilegiar a percussão. A percussividade africana é o primeiro ponto. E o Ijexá, até por ser o ritmo oriundo e mais conhecido, foi o privilegiado. Quando se fala de Oxum, ela tem uma ligação forte com o Ijexá”.
Ele elogiou o desempenho da bateria e a sinergia da dupla de intérpretes. “Gostei muito da bateria e gosto muito da dupla de cantores. Não é porque se tornaram meus amigos pessoais, mas eu gosto muito da forma como um dá espaço para o outro. Acho que isso é bem importante num trabalho coletivo”.

Tonn também revelou a base instrumental utilizada. “A base é realmente percussiva, tem instrumentos de harmonia, tem o bandolim como instrumento de harmonia e esse é um instrumento que a gente vai trazer, com certeza, no ao vivo. Mas o forte mesmo do tema é a percussão”.
Os intérpretes Dodô Ananias e Rafael Tinguinha ressaltaram a preparação vocal necessária para a gravação e para o desfile em horário avançado. Tinguinha explicou sua rotina de cuidados.
“Para mim foi tudo de boa! É muito importante a gente descansar, dormir bastante e beber bastante água. Esse é o principal. O método para fazer isso vai de cada um: tomar remédio, comer maçã… vai de cada um. Mas o mais importante para um bom canto é descansar bastante e beber bastante água. Isso ajuda muito. E também é importante destacar que a nossa vida tem horários bem distintos da maioria”.

Dodô destacou que a logística para a gravação exigiu ainda mais atenção. “Voz é descanso, sempre parto desse princípio. Ter no mínimo oito horas de sono, se alimentar bem, beber água. A maçã dá uma colaborada, mas o grosso de tudo é o descanso. A gente também tem que se cuidar: semana de gravação é uma semana diferente e a gente tem que fazer uma preparação adequada. Para mim e para o Tinguinha, a logística também é importante: a gente não mora em São Paulo e estamos na cidade há um dia para passar a noite aqui, para não chegar no dia, correndo. O nosso horário de gravação, no início da tarde, não é o melhor para a voz. Eu, por exemplo, estou acostumado a acordar nesse horário – umas 13h, 14h. Sou cantor e meus horários são diferentes. Por conta do nosso horário de desfile, por exemplo, às 05h ou 06h teremos que ter a voz estralando. É uma preparação totalmente diferente para estarmos no dia da gravação, que foi linda”.
Ao falarem do samba, os dois demonstraram enorme identificação com a obra. Tinguinha destacou o trecho de forte referência religiosa: “Por mais que eu também ache o samba todo lindo, é um dos melhores sambas do carnaval de São Paulo de novo, e estamos trabalhando para ele render bem novamente. Mas eu sou da parte dos macumbeiros: ‘Ê Yalodê Iyá wô rô/Ê Yalodê Iyá’. Também gostaria de parabenizar o Thiago Meiners e toda a parceria por esse lindo samba”.

Dodô reforçou a confiança no impacto da obra. “Acho esse samba lindo, ano passado eu falei que teríamos um dos três melhores sambas do ano e ganhamos o Estrela do Carnaval. Em 2026, coloco novamente o samba do Barroca Zona Sul novamente entre os três melhores do ano, com todo respeito às coirmãs. Vamos trabalhar muito para que esse samba chegue no ápice no dia do desfile – não só na bolha do carnaval como também fora dela. A parte que mais me toca é o ‘Mamãe semeou a vida/As águas doces vão de encontro à mata’. Acho essa melodia muito doce, com caminhos muito interessantes melodicamente e harmoniosamente. Aqui na Zona Sul a gente não erra a mão nunca no samba!”.









