Já se vão seis anos desde o histórico título da Vila Isabel no Carnaval 2013. Nesse período aquela escola que esteve sempre entre as campeãs entre 2009 e 2013, amargou carnavais de baixa qualidade e posições coadjuvantes. Mas a nova gestão que assumiu a escola está imbuída de devolver à azul e branca os bons momentos do início desta década. Além de uma equipe reforçada a escola tem um barracão imponente, com alegorias enormes e um abre-alas que promete ser um dos maiores deste carnaval, com 60 metros de comprimento. Internamente a diretoria mantém a expectativa de no mínimo figurar entre as escolas que voltam sábado, o que não aconteceu nos últimos cinco carnavais.
O carnavalesco Edson Pereira recebeu a reportagem do CARNAVALESCO no barracão da azul e branca e falou que o resultado obtido na avenida será a consequência do trabalho de uma equipe. Segundo o artista ele está acostumado a lidar com o favoritismo.
“Eu sou um artista plástico e demorei muito a entender isso. Penso diferente dos meus colegas. O título é consequência de muito trabalho. Às vezes você demora a chegar lá. Todo ano eu recebo esse tipo de apontamento com favoritismo, desde a minha volta á Unidos de Padre Miguel. Esses anos me ensinaram que sou mais um operário do carnaval. Eu tenho que trabalhar independente de resultado. O que vier é bônus”, pondera.
Edson Pereira é um dos artistas mais versáteis da avenida. Desde que passou a se destacar mais na Série A e na Unidos de Padre Miguel, vem sempre desenvolvendo carnavais diferentes entre si. Segundo ele essa é uma decisão proposital.
“Minha estratégia de trabalho é procurar no enredo escolhido ser contrário ao que fiz no ano anterior. Todo ano eu crio baianas muito diferentes. Já estou pensando na baiana do ano que vem. Cabe ao carnavalesco ser um diretor de arte que busque soluções. Precisamos entender que o mundo pede socorro e nós estamos inseridos. Não podemos fazer um carnaval que na apoteose tenham 10 caminhões de lixo esperando. A matéria prima gera lixo ambiental e precisamos da total consciência de reaproveitar tudo. Fantasias e esculturas podem e devem ser transformadas em outras. Esse é um papel fundamental”, alerta.
O carnavalesco da Vila Isabel revela que a decisão de homenagear a cidade de Petrópolis foi a mais atraente dentre todas as que a escola possuía como proposta. A partir daí Edson desenvolveu um enredo para tornar a história interessante para o desfile.
“Tínhamos três opções de enredo e uma dessas era Petrópolis. A Vila é a escola com mais propriedade para falar da cidade imperial. É a extensão de sua própria história. Por isso o título do enredo fala dos santos. A escola possui uma relação forte com São Pedro, no sentido de pedir para não chover enquanto não tinha quadra. E o São Pedro de Alcântara, padroeiro de Petrópolis, e também padroeiro do Brasil. Dom Pedro I e Dom Pedro II completam os quatro Pedros. A história da cidade, da Vila e dos quatro Pedros estarão em nosso desfile”, conta.
Carnaval de leitura fácil para atingir a todos
O carnaval da Vila Isabel, embora de bastante opulência, vai buscar na simplicidade da emissão da mensagem um de seus trunfos para não apenas buscar as notas que podem lhe dar o título, mas também atingir o entendimento do público.
“Eu tenho estigma de fazer carnavais com leitura fácil. Eu faço porque o carnaval é uma arte popular. Acabou se elitizando muito. Eu acho possível você juntar o erudito e o popular interagindo com a arquibancada e os jurados. Sou um cara simples na busca para atingir a classe do carnaval”, explica.
Edson Pereira aproveitou para esclarecer a polêmica relacionada à logo da escola, assim que o enredo foi anunciado. Pessoas nas redes sociais criticaram, alegando se tratar do santo errado. Mas Edson explicou e fez críticas à postura de alguns sambistas nas redes.
“Hoje em dia você usa as redes sociais tanto para favorecer quanto para prejudicar. Temos uma classe no samba que eu chamo de sambeiros. As escolas estão cheias de problemas, as pessoas ficam torcendo contra, dizendo que as coisas são feias. A logo foi lançada mas ninguém havia ledo a sinopse. Porquê não esperaram para criticar?”, conclui.
Conheça o desfile
Setor 1: “A Vila chega em Petrópolis com um cortejo de Noel na carruagem imperial. É a coroa da Vila e do Império, que são a mesma coroa. Partimos da família imperial junto com a Vila fundando a cidade imperial, com toda essa questão religiosa. A Versalhes tropical pensada por D. Pedro no meio da serra faz com que ele leve a catedral de São Pedro de Alcântara”.
Setor 2: “Falamos do aspecto orgânico, os primeiros habitantes, os índios coroados. Até hoje não se sabe a etnia deles, mas o que se tem de registro era que eram semi canibais. A dificuldade de se colonizar aquela área era muito grande. O paredão de pedra dificultava. Eles protegiam como uma reserva e a maior riqueza do local, que é a água”.
Setor 3: “Mostramos como se constrói a parte evolutiva, com a imigração de franceses, ingleses, italianos e alemães. Cria-se uma cultura gastronômica. A cerveja alemã, os tecidos italianos, os franceses com a cultura das flores. Aí fazemos um link com o barão de Mauá que traz a Maria Fumaça”.
Setor 4: “Falamos da Petrópolis glamourosa. O palácio Quitandinha, que seria um cassino. Fundado em 1947 e nos anos 1960 ela vira um hotel. Ali se apresentaram os grandes artistas do Brasil e do mundo. Uma Hollywood tropical, com os concursos de misses”.
Setor 5: “Fazemos uma passagem de tempo no desfile com um tripé que será o Santos Dumont. O nosso fechamento mostra como foi a importância da luz da liberdade, direcionada não só através da Lei Áurea mas também todas as outras leis por ela promulgada. As duas coroas se fundem em uma só, a da Vila e a do Império”.