Em um ano onde os enredos com críticas sociais e políticas dominam o carnaval carioca, o Salgueiro também vai deixar um importante recado no encerramento de seu desfile sobre Xangô no próximo domingo de carnaval. Na história que contará o orixá, em seu último setor, o carnavalesco Alex de Souza usará da característica de Xangô, o orixá da justiça, para criticar o sistema judiciário brasileiro.
Alex conversou com a reportagem do CARNAVALESCO sobre o projeto e as dificuldades em se realizar o carnaval deste ano, e confirmou que o último setor do desfile terá uma crítica ao sistema judiciário.
“Xangô é o orixá da justiça. Aproveitamos o momento para abordar o judiciário brasileiro. É até uma situação curiosa, por tudo que a escola passou no aspecto da justiça. Mas vamos abordar o aspecto das falhas do nosso sistema judiciário, e pedir que Xangô olhe pelos grupos sociais que sofrem diariamente com preconceitos, violência. É um encerramento com uma carga bastante crítica”, promete Alex.
O carnavalesco falou da responsabilidade em fazer o enredo mais desejado por todos os salgueirenses esse ano. Segundo o artista, trata-se muito mais de honra do que de peso em si.
“Eu acho tem a importância de estar no Salgueiro, independente do enredo. Tem um passado, uma força, uma história das mais imponentes do carnaval. Fazer Xangô é mais honra que responsabilidade. Prestar essa homenagem ao padroeiro da escola. Nasci no dia de Xangô, 30 de setembro. Já tem uma coisa cósmica, que estava traçada a muito tempo. Tivemos dificuldades mas espero fazer o melhor trabalho que honre o orixá e a escola de samba”, garante.
Envolto em uma disputa de poder que se arrastou por sete meses, o Salgueiro foi profundamente afetado e só conseguiu de fato iniciar o seu carnaval no início deste ano. Alex revela que a grande mensagem que a escola pretende deixar na avenida é a de superação.
“Com tanto problema, tanta dificuldade, vamos conseguir colocar um bom carnaval na avenida. E as pessoas na pista sambando, evoluindo, acreditando em si mesmas. O Salgueiro é forte, poderoso, carismático. As arquibancadas saúdam sempre o desfile do Salgueiro. Que consigamos fazer um desfile sem erros e desta forma potencializar o que temos de bom”, ressalta.
Entenda o desfile
Setor 1: “Começamos com a criação do mundo segundo o povo iorubano. A partir daí fazemos o link entre o real e o irreal. Xangô teria existido em 1400 como um rei do povo Iorubá, de Oyó. Fazemos uma citação sobre a história do avô, pai, irmão mais velho. Ele toma o lugar do rei e depois ele é destituído. Esse setor é o Xangô histórico, um rei africano”.
Setor 2: “Ele já se torna um orixá. Representado com seus fundamentos, preceitos, oferendas, histórias, a religiosidade em si. Algo pouco falado, o Xangô de Pernambuco. A primeira vez que ouvi falar de Xangô de Pernambuco foi o Pamplona em uma das transmissões dele de carnaval. É uma história muito interessante. Pois somos muito influenciados pelo Candomblé baiano, e o pernambucano é muito pouco falado, embora os rituais sejam iguais”.
Setor 3: “O orixá difundido no Brasil e no mundo. Aqui os escravizados para poder celebrá-lo apelavam por um sincretismo aos santos católicos. Em festejos desses santos que tinham afinidade com Xangô eram utilizadas essas datas para louvar o orixá. São Pedro e São Jerônimo são alguns desses santos”.
Setor 4: “Xangô do Salgueiro. O professor Júlio. O alujá, a batida de Xangô que rege a bateria. O Júlio Machado desfilou pela primeira vez em 1969. A escola vence e ele passou a desfilar sempre com o orixá independente do enredo. Foram 33 anos até a sua morte em 2007. Isso fez uma mística em cima de uma figura da escola, reconhecida e amada. Único destaque na história que incorporou o mesmo personagem na avenida”.
Setor 5: “O senhor da justiça. Vamos clamar por ele pois as questões judiciais aqui são complicadas neste país tão controvertido. Que os grupos sociais ameaçados recebam a proteção de Xangô e que a justiça se faça”.