O chapéu panamá é um acessório quase obrigatório a todo sambista. O que poucos sabem, entretanto, é que o acessório nunca foi fabricado no Panamá, mas na Colômbia. A alcunha ganhou notoriedade mundial quando o presidente americano, Franklin Roosevelt, ao visitar o Canal do Panamá posou com o chapéu e ele foi assim chamado.
Essa é uma das história que a Estácio de Sá abordará em seu desfile ‘A fé que emerge das águas’. A curiosa passagem estará retratada na fantasia da bateria Medalha de Ouro no segundo setor do desfile. Tarcísio Zanon, carnavalesco da agremiação, em entrevista concedida no barracão conta um pouco de como surgiu a ideia de desenvolver um enredo internacional com forte característica latina.
“Quando se fala em fá abre-se um leque de opções, emergindo das águas outro leque. Falamos do cristo negro que emergiu das águas no Porto Belo, Panamá. Essa imagem foi encontrada por pescadores e todo 21 de outubro tem uma romaria partindo da Cidade do Panamá até o Porto Belo. Existem alguns questionamentos sobre o enredo, mas acredito que esteja próximo de nós por se comunicar bem com o carioca. O meu link com o Brasil é a coincidência de nossa padroeira também ser negra e emergir das águas. Sempre enxergamos Jesus de uma forma renascentista. Os ocorridos que citei conferem representatividade ao nosso enredo. A Jessica Maia, ex-rainha do carnaval, foi quem sugeriu o enredo a mim. Ela morou 10 anos no Panamá. Em um primeiro momento não gostei, mas quando ela me contou essa história me apaixonei”, declara Zanon em entrevista ao CARNAVALESCO.
Além da fantasia da bateria, o projeto da Estácio chama a atenção pela opulência para uma agremiação da Série A. Sem entrar em detalhes, o carnavalesco aposta na comissão de frente para arrebatar a Sapucaí neste sábado de carnaval.
“Quando surgiu a ideia da comissão de frente fiquei encantado com o projeto. Nossa sinergia, minha da Ariadne, é muito boa. Sempre conseguimos alcançar um ótimo resultado. Com certeza é um trabalho que vai emocionar e arrebatar o público”, explica.
O Leão do São Carlos é apontado pela crítica especializada como uma das fortes candidatas ao título da Série A, ao lado de outras agremiações. Tarcísio não rechaça o favoritismo mas deixa claro que ele precisará ser comprovado na avenida.
“Eu acredito que o favoritismo é bom em alguns aspectos e ruim em outros. A posição de desfile é excelente e a comunidade está bastante motivada. Também vejo pela questão histórica da Estácio, que vem sim fazendo carnavais grandiosos nos últimos anos. As dificuldades são enormes. Na Série A há quase uma impossibilidade de fazer. Carnaval é na avenida, como sabemos”, destaca.
Embora seja considerada uma das favoritas, a Estácio não escapou da crise que praticamente inviabilizou o desfile da Lierj neste ano, como explica Tarcísio Zanon.
“A crise atrapalhou de uma forma muito pesado. Claro que a Estácio buscou se cercar de apoios. Esse foi até um dos motivos que nos fez lutar por esse enredo. Os atrasos relacionados à subvenção atrapalharam sensivelmente a construção do projeto. Todo ano ele é mexido, e esse ano a crise de matérias é muito forte. Isso compromete muito o trabalho dos carnavalescos até no Especial”, conclui.
Entenda o desfile
Contamos a história do Cristo Negro pelo olhar de um romeiro. Mostramos dessa forma uma nova cultura, como eu acredito que é um papel interessante do carnaval.
Setor 1: Saímos da Cidade do Panamá para chegar a Porto Belo. Dessa forma passamos pelas belezas naturais, a tradição das tribos. O Panamá é conhecido como abundante terras de borboletas e peixes e isso está retratado no nosso desfile.
Setor 2: Chegamos ao Canal do Panamá onde tivemos o boom econômico. Construído pelos franceses, foi explorado depois pelos EUA. O chapéu do Panamá na verdade é fabricado na Colômbia. Mas quando o presidente Franklin Roosevelt apareceu com o chapéu no Panamá acabou se difundindo como se fosse feito no país.
Setor 3: Chegamos às festas profanas e culturais do Panamá. A Diablada, o Festival das Flores, rei e rainha de Espanha.
Setor 4: A chegada a Porto Belo e o carnaval. A procissão do cristo negro se assemelha muito ao nosso carnaval. É entoada por tambores. Falamos sobre isso, trazendo o sincretismo colocando Obatalá. Amarro desta forma as duas culturas.