Exaltar outras manifestações carnavalescas também faz parte do infindável repertório das escolas de sambas para o desenvolvimento de seus desfiles. Seguindo inspirada por elas, a Imperatriz da Paulicéia levará para a Avenida em 2024 “Maracatu, bendito é seu rito”. Assinado pela comissão de carnaval formada por Wagner Miranda, o Bimbo, Deuseni Ignotti e Clayton Kaomi, o enredo reproduzirá no Sambódromo diferentes rituais que compõem o tradicional festejo pernambucano.
A Azul e Branco da Gamelinha pretende continuar no embalo da ótima fase da escola nos últimos anos, campeã dos três principais grupos da UESP de forma consecutiva e com a permanência consolidada no Grupo de Acesso 2. O vice-presidente da Imperatriz, Junior Batata, recebeu o site CARNAVALESCO para uma conversa no barracão e contou detalhes dos preparativos para o desfile.
Desejo antigo enfim realizado
Algumas escolas de samba costumam planejar seus enredos com anos de antecedência, e é o caso da Imperatriz da Paulicéia. De acordo com Junior Batata, enredo para 2024 já constava nos planos da escola há um bom tempo, mas precisou ser adiado por diferentes motivos.
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“O Maracatu era para ser o enredo do carnaval de 2022, mas o que aconteceu? Ele está desde 2018, 2019 pronto, junto com o enredo do Ilú (“Ilú Obá de Min – Mãos femininas que tocam tambor!”, enredo campeão do Grupo Especial de Bairros da UESP de 2022). Resolvemos fazer o Ilú primeiro e o Maracatu seria no ano seguinte, só que em 2021 não teve o carnaval e o Ilú se estendeu para 2022. Quando chegou em 2023 nós já tínhamos o enredo da Vila Esperança, que era pertinente porque em 2023 era o centenário do carnaval dela. Não tinha como deixar passar porque todos nós somos nascidos e criados na Vila Esperança. A gente falou: ‘bom, vamos fazer em 2023 o Vila Esperança e em 2024 a gente faz o Maracatu’. A gente está muito feliz porque o enredo é fantástico igual ao do Ilú. São histórias ricas demais, e a gente resolveu fazer agora em 2024, rezando para ninguém ter ideia antes”, revelou o dirigente.
Os ritos do maracatu do baque virado
Além de ser uma manifestação cultural secular carregada de histórias e tradições, o maracatu possui diferentes formas de expressão. Dentre elas, a Imperatriz optou por focar nos ritos do maracatu nação, também conhecido como baque virado. O primeiro deles é o próprio desfile das agremiações do maracatu, que será retratado na parte inicial do a apresentação.
“A Dama do Paço é a comissão de frente, que virá com a Nação Imperatriz que é a gente participando da festa. A escola estará dividida em dois setores com os carros, e no primeiro carro a gente vai explorar muito a parte do maracatu mesmo. Muito colorido, muita alegria, o mais encantador do maracatu. Ele vai vir muito vistoso pela parte alegre, é uma parte de como que é a festa em Recife. A gente vai explorar muito esse lado”, explicou Batata.
A Noite dos Tambores Silenciosos
As alas que virão após o primeiro carro terão o papel equivalente a setorização de um tradicional desfile do baque virado, inspirado nas antigas tradições de cortejos de coroação dos reis e rainhas do Congo. Os segmentos também serão responsáveis por fazer a transição com o segundo setor, que representará o ritual conhecido como Noite dos Tambores Silenciosos.
“A gente virá explorando muito a parte de ancestralidade. Vamos falar do Recife Antigo, das Pombas da Manhã. No próprio enredo quando os tambores silenciam, que eles fazem para a Virgem do Rosário e é quando soltam-se pombas brancas. A gente vai ter alas que vão simbolizar também essa parte do rito para dar uma amenizada no peso. Se você for analisar o rito ele é muito cercado de coisas que realmente não foram legais para a ancestralidade negra. É muito legal a gente explorar também essa parte”, explicou.
Um dos momentos mais simbólicos das festividades carnavalescas relacionadas ao maracatu, a Noite dos Tambores Silenciosos é um ritual ecumênico que ocorre na noite da segunda-feira de carnaval. Após o desfile dos maracatus, essas agremiações se reúnem no Pátio do Terço, em Recife, onde juntos cessam as batidas dos tambores para louvarem a Virgem do Rosário, padroeira dos negros, e fazerem orações na língua iorubá para saudar os ancestrais africanos escravizados durante o período colonial. Esse é um elemento que chamou atenção especial na visão de Batata.
“O que chamou a atenção da gente é a origem. A finalidade de reverenciar a Virgem do Rosário, como é feito toda segunda-feira de carnaval. O fato de os tambores silenciarem à meia-noite. O rito é muito rico e ele é feito sempre no mesmo horário e na mesma data. Conversei até com um amigo um tempo atrás que ele foi para lá e ele se deparou com essa festividade. Ele achou fantástico e eu falei: ‘pô não erramos’. Às vezes você se depara com algumas coisas que te surpreendem. Você fala: ‘caramba, como que eu nunca vi isso?’. A gente começou a pesquisar e realmente a história do maracatu é muito rica”, declarou.
Um desfile dedicado a Clayton Kaomi
Na semana anterior a realização da visita ao barracão, a Imperatriz da Paulicéia se despediu do diretor artístico Clayton Kaomi. Vítima de um mal súbito, Clayton foi um dos responsáveis por assinar o projeto da escola para o carnaval de 2024. Em mensagem póstuma, a presidente Mara Lazarini falou a respeito da importância do diretor para a fase vencedora da Imperatriz.
“O Clayton está na nossa agremiação desde o primeiro dia da nossa gestão e estará nos nossos corações até o último. Fizemos uma singela homenagem para que a comunidade de agora e que chegar saiba o quanto ele é importante para nós”, disse Mara.
Ficha técnica
Enredo: “Maracatu, bendito é seu rito”
Diretor de barracão: Gilson Sousa
Alegorias: 2
Alas: 14
Componentes: 700
Ordem de desfile: Terceira escola a desfilar no dia 3 de fevereiro de 2024 pelo Grupo de Acesso 2