A série “Barracões” do site CARNAVALESCO viaja junto com a Pérola Negra ao Maranhão para conhecer as quebradeiras de coco babaçu. Carregando consigo a tradição de explorar o fruto do babaçueiro, árvore típica do Nordeste, essas mulheres guerreiras terão sua história contada no Sambódromo do Anhembi através do enredo “Pérola Negra no encanto do balaio das quebradeiras”, assinado pelo carnavalesco André Marins.

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Fotos: Lucas Sampaio/CARNAVALESCO

A inspiração e o agradecimento das quebradeiras

O momento em que nasce o enredo costuma ter significado especial para os carnavalescos. Quando André Marins foi apresentado à história das quebradeiras de coco, as descobertas e contatos feitos ao longo do processo desenvolveram não apenas a ideia do tema que a Pérola Negra levará ao Anhembi, como também a maneira especial com que a história dessas mulheres será tratada.

“Eu estava procurando um enredo aonde eu tivesse uma cultura brasileira mesmo, alguma coisa que nunca tivesse passado na Avenida. Conversando com um amigo ele falou que tinha um enredo e apresentou a história das quebradeiras. Eu vi um documentário falando sobre elas e me encantei por causa da história, e enquanto fui criando mais conteúdo para o enredo eu fui descobrindo várias coisas. Quando se fala de pessoas que trabalham com esse tipo de material se imagina que é uma coisa sofrida, difícil, mas para elas isso é um prazer. Recebi um áudio em que a Rosalva, uma das quebradeiras de coco babaçu do Maranhão, pede que não coloque nada sofrido porque elas têm prazer no que fazem. Elas não têm vergonha, não têm nenhum tipo de preconceito com isso que elas fazem. Pelo contrário, elas amam fazer o que fazem com o coco babaçu, e o enredo vem pegando por essa tangente. A gente mostra, é claro, a dificuldade de como foi e ainda é porque também não é fácil agora, mas que tenha essa questão de o brasileiro ter a certeza do que está fazendo”, relatou o artista.

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Em áudio encaminhado pelo carnavalesco após a entrevista, a quebradeira de coco babaçu Rosalva expressa alegria pelo enredo escolhido pela Pérola Negra.

“Estou aqui com os olhos cheios de lágrimas porque é essa a nossa escolha de vida enquanto mulheres quebradeiras de coco, com toda a diversidade que nós temos. A mulher quebradeira de coco, com terra, sem-terra, acampada, ribeirinha, branca, preta. As quebradeiras de coco urbanas, que eu sou uma delas, não tenho terra também, então para quebrar coco eu preciso entrar na terra alheia. Isso é uma escolha de vida. Ser quebradeira de coco não é uma profissão, é um modo de vida, é um jeito nosso de viver. Defender o babaçu é a defesa de nós próprias, tem uma significação muito forte isso para nós. Especialmente agora, nesse momento de mudanças extremas climáticas em que o mundo está discutindo sustentabilidade, olhar para os babaçuais, olhar para as populações tradicionais que defendem as florestas de babaçu, a principal população tradicional, as quebradeiras de coco, que a gente dá a vida pra defender as palmeiras de babaçu, é também contribuir para esse socorro que o mundo está pedindo, que a gente precisa atender e que se faz mais urgente do que nunca. Lutar pelas florestas de babaçu, pela vida e a liberdade das quebradeiras de coco também significa lutar pela vida do meio ambiente como um todo. Muitíssimo obrigada pela sensibilidade e vamos juntos”, agradeceu.

A riqueza do coco babaçu

A Pérola Negra iniciará o desfile apresentando para o público as quebradeiras diante de uma floresta de babaçueiros, fazendo uso da comissão de frente e do carro Abre-alas para ilustrar diferentes situações vividas por essas mulheres. André Marins destaca que o desfile será interessante de se observar como um todo, e apontou alguns elementos de destaque existentes em cada segmento.

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“Existem desde a comissão de frente no primeiro setor, que são as quebradeiras indo para a Avenida catar o coco. Elas vão simular essa catação, que é um ponto bem interessante. A gente tem uma história bem legal nela que tem quatro personagens, que virão bem lúdicos e bem coreografados pelo Ale, que é um grande coreógrafo. No Abre-alas a gente traz como se as quebradeiras estivessem indo para a floresta, com a liberação dos encantados e de Oxóssi para uma boa colheita. A gente vai ter uma brincadeira no Abre-alas que é como se as mulheres estivessem indo catar o coco babaçu na Avenida. Nós teremos um elemento na frente do carro que vai fazer essa performance. O coco babaçu é rico, rico mesmo. A gente traz nossa floresta em ouro por causa que ele é rico e a maioria na questão do ouro porque é para mostrar que ele realmente é uma fonte de renda preciosa. Do caule se faz carvão, das folhas se faz artesanato e a palha para colocar em cima das casas. Do coco surge o óleo, a farinha, o leite de babaçu. Tudo se aproveita dessa grande árvore e desse grande fruto, e a gente estará mostrando no nosso desfile toda essa parte que do que se pode fazer com o babaçu hoje”, detalhou.

Da cultura maranhense ao futuro do babaçu

A apresentação da Pérola Negra será dividida em quatro setores. Após abordar as tradições das quebradeiras, a escola explorará a cultura maranhense e o artesanato desenvolvido com as diferentes partes da planta. André Marins falou a respeito das nuances desses segmentos.

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“Já que a gente fala das quebradeiras do Maranhão, a gente passa pela cultura do Maranhão. A gente traz na nossa segunda alegoria um casarão maranhense com a questão do ofício do azulejo português. A gente traz essa cultura do Maranhão até mesmo para ter mais uma brincadeira que a gente faz com o Rei Sebastião, em que o babaçu se torna o grande Rei dessa cultura maranhense. As fantasias são de uma sobriedade em termos de estilo que é nobre. É uma roupa bem artesanal, toda voltada para a cultura maranhense. Foi elaborada a questão de estamparia de cores que trazem essa riqueza da cultura brasileira. Por exemplo, foi difícil a gente achar algumas coisas relacionadas aos azulejos, mas conseguimos construir como se fosse um cenário do casarão. Dentro desse ambiente todo há uma brincadeira muito grande não só com a ala das crianças, mas também uma performance em cima da segunda alegoria”, explicou.

O futuro das quebradeiras e do coco babaçu terá destaque especial no desfile através do último setor, passando pela Lei do Babaçu Livre e finalizando com uma alegoria carregada de referências tecnológicas.

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“Passamos pela Lei que foi sancionada para as quebradeiras poderem usufruir do coco e entrarem dentro das fazendas para poder colher o babaçu, e trazemos no final essa questão do futuro, o que será do futuro delas e do futuro do babaçu. São várias pesquisas, não só no Brasil como no mundo inteiro. Em vários lugares do mundo fazem pesquisas sobre o coco babaçu, até no biodiesel. A gente traz esse futuro numa questão meio guerreira, com essas mulheres negras, indígenas, e brancas que são hoje está tudo misturado com essa brasilidade toda, para que o babaçu se torne cada vez mais conhecido”, explicou André.

Escola leve e alegre para desfilar no Anhembi

O trabalho de desenvolvimento do carnaval da Pérola Negra para 2024 envolveu aprendizados e a satisfação de levar uma história de luta carregada de muita alegria. Não é difícil traçar um paralelo entre a determinação das quebradeiras com a garra da comunidade da Vila Madalena. André Marins encerra a entrevista falando sobre o sentimento dos componentes ao verem o projeto em desenvolvimento e seu empenho de desenvolver um desfile agradável de se assistir e agregador a nível cultural.

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“Desde o momento da apresentação do enredo até o desenvolvimento é o encanto que eles estão tendo com tudo que está acontecendo. Todos estão gostando da plástica, todos estão gostando da forma que está sendo dividido o enredo. É engrandecedor você ver que os componentes estão gostando daquilo que estão vendo, mesmo que não esteja tudo pronto. Ainda falta detalhezinhos para a gente terminar, mas é bom ver que eles estão bem animados, graças a Deus. A sensação que eu tenho é que a escola está leve, com uma proposta que vai desde a leveza e a alegria até para o futuro das crianças. Eu tentei usar de artifícios que eu sempre uso dentro do carnaval, que é trazer ambientes diferentes. O que você vai ver no Abre-alas você não vê na segunda alegoria, e na segunda alegoria você não vai ver a terceira alegoria. A questão que eu queria era trazer como se fosse um grande documentário, então cada um fala sobre si por exemplo”, concluiu.

O pedido de Rosalva, a quebradeira de coco

O pedido informado por André Marins feito pela quebradeira de coco Rosalva ocorreu em outro trecho do áudio encaminhado pelo carnavalesco. Ela relata o motivo de fazer tal pedido, falando um pouco sobre a realidade vivida por essas mulheres entre os estados do Maranhão, Piauí e Tocantins.

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“Eu estava falando das companheiras fazendo a encenação da coleta do coco e estou aqui imaginando já a escola entrando. Eu só gostaria de pedir uma coisa, não sei se seria abuso meu, mas é um pedido muito especial porque é uma coisa que mexe muito com nós quebradeiras de coco. Que tudo que for pensado, discutido, apresentado construído junto com a gente sobre nós, sobre a nossa luta que a gente leve a nossa alegria, a nossa felicidade de ser mulher quebradeira de coco. Por que eu estou dizendo isso? Porque a mídia no geral, não é o caso da escola, mas a maioria das mídias quando vão falar trazem aquele senso da penosidade da lenda de que o coco é algo penoso, uma vida desgraçada, desprovida de tudo. O que traz a penosidade da nossa vida é a negação do Estado em não regularizar os nossos territórios, principalmente os territórios que estão em retomada e que estão em processo de titulação, que são os territórios quilombolas. Quando a gente tem o território livre, tem o babaçu livre, tem a água livre, tem a terra livre para se plantar e se colher, a gente tem fartura para vender, para comer, para ter uma alimentação saudável, para sermos pessoas com um nexo fundo com as suas águas, com as suas terras, com as suas mães d’águas, com os nossos encantados que estão nos rios, que estão nas nossas florestas. Dos meus maiores orgulhos o primeiro é de ser uma mulher preta e segundo de ser uma mulher preta, quebradeira de coco e filha de quem eu sou. Nós temos a Lei Babaçu Livre nas comunidades, mas eu tenho que roubar o coco em alguns municípios no Tocantins. Nós já temos a nível estadual no Piauí, mas a Lei não é cumprida, não é obedecida, e a gente precisa ter acesso a esse babaçu para a gente poder ter o alimento ou o complemento do nosso alimento. Para algumas famílias é o complemento, mas para muitas famílias o alimento total é o babaçu”, relatou Rosalva.

Ficha técnica
Enredo: “Pérola Negra no encanto do balaio das quebradeiras”
Diretor de barracão: João Ricardo Alexandre
Diretor de ateliê: Antônio Fernandes da Silva
1600 componentes
15 alas
3 alegorias + 1 tripé
Ordem de desfile: Quarta escola a desfilar no dia 11 de fevereiro pelo Grupo de Acesso 1