Por Rafael Soares e fotos de Nelson Malfacini
A Unidos de Bangu foi a sétima a se apresentar na Marquês de Sapucaí neste sábado de carnaval da Série Ouro. A vermelho e branco levou o enredo “Jorge da Capadócia” para a avenida. O desfile da agremiação se mostrou bem problemático. As alegorias eram simples e tinham graves defeitos de acabamento, com esculturas quebradas e panos rasgados. As fantasias tiveram bom uso de cores, mas irregularidade no acabamento. O enredo não mostrou nenhuma novidade em relação aos vários que já passaram na avenida sobre o mesmo tema, o que resultou em uma leitura facilitada. Outro quesito comprometido foi a harmonia, que se exibiu com baixo nível de canto na maior parte do cortejo, apesar do bom trabalho do time de carro de som. A evolução foi correta em seu ritmo, mas fria na animação dos componentes. O casal de mestre-sala e porta-bandeira mostrou um número apenas correto. O grande destaque foi a apresentação da comissão de frente, bem expressiva e sincronizada.
Comissão de Frente
Com o nome de “Guerreiros da Capadócia”, a comissão de frente assinada pelo coreógrafo Fábio Costa trouxe um grupo de 15 componentes homens. Usando uma bela fantasia de guerreiros, o grupo mostrou uma dança bastante expressiva, e muito bem sincronizada em seus movimentos. Os integrantes gritavam ao guerrear, passando bastante realismo no ato. Alguns eram jogados contra o tripé, chegando a cair no chão e aparentarem sentir dor. Na reta final do número, dois guerreiros subiam no alto tripé, e pouco depois, no seu topo, surgia um integrante representando São Jorge, montado em um cavalo articulado. O quesito foi o maior destaque do desfile.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Jorge Vinícius e Verônica Lima, veio com uma fantasia de nome “Vestidos com as Armas de Jorge”, representando os elementos usados pelos soldados em combate. A dança exibida pelos dois foi apenas correta e leve, chegando a ser lenta, sem tanta expressividade ou movimentos mais ousados. Eles bailaram de forma bem tradicional, com alguns momentos coreografados de acordo com a letra do samba.
Samba-Enredo
O samba da Unidos de Bangu tem uma letra forte que descreve bem o enredo, retratando a história guerreira de Jorge, além do sincretismo no Brasil através da figura de Ogum. A melodia é pesada e valante, com boas variações para impulsionar o canto. Composto por Tem-Tem Jr, Dudu Senna, Marcelinho Santos, Jefferson Oliveira, Rafael Ribeiro, Ronie Oliveira, Cândido Bigarin, Binho Percussão VR, Jorginho Via 13, Juca, Renan Diniz e Denis Morais, a obra musical teve um rendimento que deixou a desejar na avenida. Os intérpretes Igor Viana e Pipa Brasey mostraram um bom desempenho ao cantar o samba, embalado pela bateria de mestre Laion, mas isso não foi o suficiente para impulsionar a obra, que pouco foi entoada pela comunidade. Isso ficou ainda mais notório nos ‘apagões’ dos ritmistas, quando não se ouvia a escola cantar.
Harmonia
A comunidade da Unidos de Bangu teve um canto irregular em seu desfile, com muito mais pontos baixos do que altos. O principal trecho entoado pelos componentes foi o falso refrão, mas também sem tanto volume. Muitas alas passaram com componentes calados ou entoando mínimas partes da obra musical. Algumas alas na segunda parte do cortejo mostraram um canto mais satisfatório, mas isso não se manteve no restante da agremiação. Se destacaram as alas “O Martírio do Jovem Guerreiro”, “O Bem Venceu o Mal” e “Patrono da Inglaterra”.
Evolução
A evolução da agremiação foi correta no ritmo adotado durante a passagem pela Sapucaí. Não se viu correria ou lentidão no cortejo, nem qualquer tipo de espaçamento inadequado. A escola encerrou o desfile em 53 minutos. Entretanto, os componentes se exibiram com certa frieza, pouca animação ou espontaneidade.
Enredo
A Unidos de Bangu apresentou o enredo “Jorge da Capadócia”, uma das figuras mais populares da fé no Brasil. Venerado como mártir da fé em Jesus Cristo no catolicismo, é sincretizado com Ogum no candomblé e na umbanda, e de forma especial com Oxóssi no candomblé baiano. As fantasias e alegorias foram de óbvia leitura, até por conta do enredo já ter passado inúmeras vezes pelo carnaval carioca, e ter muitos símbolos e elementos de fácil identificação. O acabamento precário das alegorias e algumas fantasias não prejudicou o quesito.
Fantasias
O conjunto de fantasias da Unidos de Bangu se mostrou com soluções e materiais mais simples, facilitando a leitura. Mas no aspecto estético deixou a desejar em vários momentos, com acabamentos razoáveis. De forma geral, o uso de cores foi interessante. No último carro alegórico, alguns componentes estavam com fantasias incompletas. Algumas poucas se destacaram na beleza, como as baianas “Escudo de Jorge”, a ala “Ogum do Ferro e da Estrada” e “Ogum Vence Demanda”, com belas combinações de cores.
Alegorias
O conjunto alegórico da escola foi marcado pelos problemas de acabamento bem visíveis. O carro abre-alas, intitulado “Capadócia Entre Lutas e Combates”, apresentava os tradicionais cavalos, usados em tantas batalhas, soldados guerreiros e o bravo Jorge, liderando seu exército. O elemento cênico remeteu aos tempos medievais, com escudos, gárgulas e lanças. A grande escultura principal passou com o braço quebrado. Outra escultura tinha uma lança mal executada, fora de proporção. A saia também era bem simplória. Além disso, a iluminação foi bem tímida.
Na sequência do desfile, a segunda alegoria de Bangu, de nome “Alvorada de São Jorge: Ritos de Fé”, simbolizava uma grande homenagem às alvoradas ao Santo Guerreiro ocorridas em todo 23 de abril. Apresentava a figura de São Jorge montado sobre seu cavalo, velas, escudos e os dragões que são enfrentados e vencidos pelo seu povo. Os dragões eram grandes e tinham efeito de fumaça, mas um dos homens que fazia os movimentos estava visível no carro. Outra escultura de São Jorge estava sem sua lança. Um queijo foi coberto com material precário. O acabamento geral era bem básico.
Por fim, o terceiro e último carro da agremiação, intitulado “Jorge Sincretizado! Patacori, Ogum!”, apresentava uma grande festa em louvor a Ogum, o orixá guerreiro. Irmão de Exu e Oxóssi, filho de Iemanjá, amante de Oyá, parceiro de Oxaguiã em suas lutas e batalhas. As cores dessa alegoria eram interessantes, gerando uma combinação diferente. Porém, o acabamento geral também foi muito simplório, marca do conjunto da Unidos de Bangu.
Outros destaques
A bateria da Bangu, comandada pelo mestre Laion, mostrou um ritmo bem adequado para a execução do samba-enredo. As bossas tinham ótima qualidade musical, tentando impulsionar o canto e animação dos componentes.