Por Gustavo Lima e Will Ferreira

As cortes mirim, infantil e juvenil do carnaval de São Paulo para 2025 estão formadas! O concurso que coroou passistas de diversas escolas foi realizado neste domingo (10 de novembro), na quadra da Dragões da Real, localizada na Vila Anastácio, Zona Oeste de São Paulo. A iniciativa, organizada pela ASASP (Associação dos Sambistas do Amanhã de São Paulo) teve mais de vinte participantes e coroou, ao todo, quinze deles. O CARNAVALESCO esteve presente no evento e conta como foi toda a festividade, sempre marcante para um sambista em formação. O portal também entrevistou nomes importantes para a ocasião, como antigos campeões e jurados.

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Fotos: Gustavo Lima e Will Ferreira/CARNAVALESCO

Amanhã começou hoje!

Todo o evento foi inteiramente voltado para os pequenos sambistas. Houve, por exemplo, uma grande roda de pavilhão, com muitos casais formados por componentes com menos de dezoito anos de idade. Pouco depois, a ala das crianças da Dragões da Real também entrou em cena, cantando os sambas de 2024 (“África – Uma constelação de reis e rainhas”) e 2025 (“A vida é um sonho pintado em aquarela!”) da agremiação. Eles, por sinal, fizeram o show juntamente com Léozinho Tatuapé (integrante mirim do carro de som da escola da Zona Leste de São Paulo, que cantou a canção de 2017 da agremiação, “Mãe África conta a sua história: do berço sagrado da humanidade à abençoada terra do grande Zimbábwe”) e Thiaguinho, da Mocidade Alegre.

Os participantes do concurso passaram por duas etapas. Na primeira delas, respondiam perguntas feitas pelos apresentadores Yohana Obyara (princesa da Ritmo Que Incendeia, bateria da Dragões da Real, e Rainha Infantil em 2018) e Marlon Lamar (paulistano e desde 2018 primeiro mestre-sala da Portela, com passagens por Império de Casa Verde e Dragões da Real). Depois, veio a amostra de samba no pé, com direito a caracterização. Os passistas preferiram roupas mais tradicionais, tipicamente associada aos malandros, enquanto elas variaram entre vestidos e fantasias completas.

Com a palavra, alguns dos eleitos

Eleita para a mais alta hierarquia no concurso, Marisol Suzarte, Rainha da categoria Juvenil (que reúne as passistas mais experientes, com treze participantes) e musa da bateria da Raízes de Vila Prudente (escola do Grupo de Acesso de Bairros III da União das Escolas de Samba Paulistanas [UESP]), relembrou o primeiro contato dela com o mundo das agremiações carnavalescas: “Eu cheguei nesse universo há três anos, quando eu cheguei em uma escola de samba e vi que aquilo era para mim. Desde então, eu nunca mais saí de uma escola de samba. Fui atrás, fui perseverante, liguei para o meu sonho que eu tinha desde pequena, quando via o carnaval pela televisão e não podia ir porque a minha família não é do mundo das escolas de samba”, revelou.

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Marisol aproveitou para destacar a ajuda que teve da própria rede de apoio e da agremiação: “O momento que eu percebi que tinha talento foi quando as minhas treinadoras começaram a me incentivar muito. Elas me fizeram acreditar nesse sonho, que eu tinha potencial e poderia vencer. Foi aí que eu vim aqui na ASASP representando a Raízes de Vila Prudente”, comentou.

Primeira Princesa Juvenil, Mariah Oliveira é criada nem uma das mais tradicionais escolas de samba paulistanas: “Eu sou nascida e criada na Rosas de Ouro! Minha mãe é diretora de ala e meu pai é diretor de harmonia. Eles estão comigo em todos os momentos e isso não tem preço! Eu fui da Ala das Crianças da Roseira durante muitos anos, começando em 2015 e saindo em 2020. Desfilei um ano em uma ala e fui depois para a Ala das Passistas. De lá eu não saí mais, destacou.

A integrante da corte, por sinal, mostrou planejamento, mas não escondeu a emoção ao falar da conquista: “Estou preparada para todos os eventos que virão. Já estava planejando isso e agora é só carregar a faixa! Essa é uma sensação inexplicável. Só de estar aqui, representando a minha escola, já vale por tudo e eu já tinha certeza de que já era vencedora só por isso. Ter conquistado a faixa, para mim, é um sonho realizado e uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida”, emocionou-se.

É interessante notar o quanto a história de cada um dos eleitos é diferente. Beatriz Carvalho, Primeira Princesa da categoria Infantil (a intermediária entre as três existentes) representando o Amizade Zona Leste (que desfilará no Grupo Especial de Bairros da UESP em 2025), possui uma ligação bastante antiga com a instituição: “Eu sou cria da escola, desde pequena estou lá. Conforme o tempo foi passando, fui aprendendo sobre o carnaval e fui me apaixonando cada vez mais pelo samba. Hoje, o samba faz parte da minha vida. Hoje eu estou realizando um grande sonho”, garantiu.

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Ainda em formação como sambista e como pessoa, Beatriz quer incentivar mais garotas a participar do universo carnavalesco: “A minha paixão pelo carnaval, agora, explodiu! Eu quero muito levar essa sensação para outras meninas. Vou falar para elas que, se elas têm o sonho de participar, elas têm que buscar isso. Esses eventos sempre me emocionam, todas as crianças e adolescentes merecemos um futuro melhor”, empolgou-se.

Passista de Ouro da categoria Mirim (a que reunia os candidatos mais jovens do concurso), Guilherme Cerqueira, do Vai-Vai (que elegeu os seis candidatos que levou para o evento), comentou sobre o frisson que causou logo ao pisar no palco: “Eu curti demais a reação da torcida! É a primeira vez que estou passando por isso na vida, agora que estou entrando para a corte. Estou muito feliz com essa faixa. Vou dar o meu melhor para honrá-la, vou me jogar inteiro com ela!”, animou-se.

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Família orgulhosa

Os eleitos mais jovens tinham a presença de um responsável. Um deles era Fábio Cerqueira, pai de Guilherme – que, é claro, estava muito feliz com o filho: “Eu fico muito feliz com o que ele faz, ele samba desde a barriga da mãe. Ele tem uma projeção há anos e foi uma batalha grande chegar onde ele chegou: ser o Passista de Ouro pelo Vai-Vai. Desde quando a mãe dele estava grávida ele reagia quando ouvia samba, ele nasceu para fazer coreografias – não só relacionadas a carnaval, mas música no geral”, revelou.

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Alexandra Carvalho, mãe de Beatriz, detalha que sempre incentivou a filha a participar das atividades no Amizade Zona Leste: “Lá em casa, é diferentíssimo daquelas em que os pais não gostam de ver os filhos no samba. O pai dela era mestre de bateria e eu era passista. Nós nos conhecemos dentro da escola, nos casamos, desfilei grávida dela. Levo ela na escola desde quando ela nasceu, ela começou a gostar e, só de estar aqui, já é um grande passo. Ela vai crescer sempre, acredito muito na minha filha. Eu e o pai dela sempre incentivamos muito ela porque ela era muito tímida, e nós trabalhamos para que ela se soltasse mais, já que ela sempre soube sambar e sempre foi da Ala das Passistas. Hoje, ela é a minha primeira princesa!”, orgulhou-se.

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Passando o bastão

A corte de 2024 foi substituída, embora tenha marcado para sempre os respectivos nomes na história do concurso. Fernanda de Paula, rainha juvenil da corte de 2024, tentou exemplificar: “É uma sensação muito boa, um misto de emoções. Tem um pouco de tristeza e felicidade, porque tenho certeza que as meninas vão representar a gente muito bem. Lembro que eu tinha recebido o convite da ASASP três anos atrás, mas achava que não estava preparada. Eu tive o apoio da minha família e deu tudo certo”, rememorou.

Daqui para frente, de acordo com Fernanda, o nome de cada um dos eleitos brilhará no universo carnavalesco paulistano: “Esse processo foi muito bom para gente, nós ficamos muito reconhecidos. A gente ia em todos os eventos em todas as escolas. Eles nos enxergaram de verdade. Esse é o intuito da ASASP, que é representar todos os adolescentes do carnaval de São Paulo”, disse.

Ao ser perguntada sobre o início no universo carnavalesco, ela aproveitou para também falar sobre o futuro: “Eu comecei no Vai-Vai em 2017 pela ala das crianças e agora estou na ala das passistas. Minha mãe sempre frequentou a escola. Quando eu nasci, ela parou de ir, mas quando eu fiz 8 anos nós voltamos juntas. No momento em que pisei naquele chão já senti a energia e me apaixonei. Por enquanto eu não tenho nenhum plano, mas acho que mais para frente quero tentar concorrer UESP, Liga e rainha do carnaval. É isso o que eu quero”, destacou.

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Júri gabaritado

A comissão julgadora do concurso teve uma série de nomes muito respeitados no universo carnavalesco. Karine Grum (rainha da Ritmo Que Incendeia), Isadora Salles (princesa da bateria da Dragões da Real), Aline Oliveira (rainha da Ritmo Puro, bateria da Mocidade Alegre), Thai Rodrigues (rainha do carnaval carioca de 2022), Keise Cristine (Rainha do Carnaval da UESP) e Robério Theodoro (duas vezes Rei Momo do carnaval paulistano e candidato ao concurso carioca) eram apenas alguns que estavam no júri.

Thai exemplificou como é sair do palco e passar a julgar os pequenos: “É uma loucura, o sentimento fala muito mais alto porque a gente sabe o que passou por ali. É uma cultura muito desvalorizada, uma cultura onde a gente tem que ter o esforço dobrado para provar e também para adquirir os nossos figurinos, maquiagem, sandália… é tudo muito caro. O sentimento sempre transborda, sempre fala mais alto. É uma responsabilidade imensa também mexer com os sonhos, com vontades, sabendo que já foi o meu sonho e a minha vontade”, comentou.

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Sobre o nível do concurso, ela fez questão de destacar o altíssimo nível de todos os participantes: “Eu amei, eu fiquei super orgulhosa, realmente fiquei de boca aberta em ver o quanto as meninas têm como base os estudos. Fiquei admirada em ver o quanto elas sabem o quanto é importante o estudo, o estar bem em matemática e português. Eu percebi que todas se preparam, elas vão fazer aula de oratória, dá pra ver que elas ensaiaram. Fiquei muito feliz com o que eu vi no concurso no São Paulo”, impressionou-se.

Responsabilidade na revelação

Josefa Silvana da Silva, presidente da ASASP, comentou sobre a importância do concurso realizado pela instituição: “A valorização é a principal marca, porque as crianças estão sempre nas respectivas alas, mas lá tem muito talento. O que é uma escola de samba? É samba no pé, e essas crianças no concurso arrasam, elas mostram para o pessoal, para todo mundo, o quanto é importante manter o samba no pé. Não é só coreografia, é importante dizer. Muitas escolas também têm samba no pé. Têm escolas que, para manter a tradição de escolas de samba, mantém, até mesmo, uma ala de passistas mirins. Isso mostra o quanto a prática deve ser valorizada”, destacou.

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É claro que existem barreiras para realizar tal confronto – e elas foram destrinchadas por Silvana. “Os principais desafios são: apoio, financeiro mesmo, porque nós colocamos tudo do nosso bolso. Tem pessoas que ajudam: a Lilian Gonçalves,sempre dá uma ajuda para a gente, por exemplo. No ano passado também tivemos o vereador Adriano Santos; mas, na maioria das vezes, somos nós mesmo. Eu falo que a gente é o décimo terceiro salário, nosso décimo terceiro é o dono do concurso. Têm escolas que não tem ainda esse interesse de enviar candidatos, embora todas as escolas já mandaram: se não mandaram esse ano, mandaram em outros anos crianças para concorrer – e a criançada sempre quer. Outra dificuldade são os meninos, porque os meninos não são muito inscritos. Desde o primeiro concurso tiveram poucos meninos inscritos. A gente quer que eles participem e que os meninos também voltem a ter a ala de passistas masculina para a malandragem ganhar”, elencou.

Por fim, Silvana também comemorou a iniciativa da Liga-SP de realizar o desfile mirim no Sambódromo: “Essa iniciativa da Liga-SP, para nós, é muito, muito importante. Eles estão reconhecendo que sem as crianças não haverá futuro de carnaval. É uma valorização que eles estão dando que não tem palavras para explicar. Eles estão reconhecendo o futuro depois de muita luta. Acredito que a Liga-SP também tenha batalhado muitos anos para isso e, agora, eles firmaram. Sem criança não há futuro de carnaval”, deu o recado.

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Confira todos os eleitos para as cortes mirim, infantil e juvenil do carnaval de São Paulo para 2025:

Miss Simpatia: Sophia Machado (Vai-Vai)
Musa do Carnaval 2025: Marjorie Sofia (Unidos de São Lucas)
Passista de prata: João Miguel (Acadêmicos do Tucuruvi)

Mirim
Passista de Ouro: Guilherme Cerqueira (Vai-Vai)
Segunda Princesa: Kathellyn Rafaelle (Vai-Vai)
Prineira Princesa: Mafer Oliveira (Tom Maior)
Rainha: Isa Passos (Nenê de Vila Matilde)

Infantil
Passista de Ouro: Murilo Ceríaco (Camisa Verde e Branco)
Segunda Princesa: Kenia Morena (Império de Casa Verde)
Primeira Princesa: Beatriz Carvalho (Amizade Zona Leste)
Rainha: Málika Ayana (Vai-Vai)

Juvenil
Passista de Ouro: Kairê Hilário (Vai-Vai)
Segunda Princesa: Yas Melo (Bloco Fuzuê/Vai-Vai)
Primeira Princesa: Mariah Oliveira (Rosas de Ouro)
Rainha: Marisol Suzarte (Raízes da Vila Prudente)