Por Chicão Bulhões e Marcel Balassiano
O carnaval, principal manifestação cultural do Rio de Janeiro e uma das mais importantes do Brasil, tem uma transversalidade muito grande, e pode ser analisado sob vários aspectos. No Rio, blocos e escolas de samba se complementam nos dias de folia, com milhões de pessoas nas ruas e milhares assistindo os desfiles.
Além da parte cultural, com uma imensa história, de 90 anos de desfile, as escolas de samba possuem projetos sociais, muito importantes nas últimas décadas, e que ajudaram (e continuam ajudando) bastante a minimizar os impactos da pandemia do Coronavírus; o carnaval é a “marca” do Rio e do Brasil no mundo; é o principal evento da cidade e do estado, que com o Revéillon e o Rock in Rio formam a trinca de maiores eventos da cidade; movimentam intensamente o turismo, tendo recebido mais de dois milhões de visitantes brasileiros e estrangeiros no último carnaval, com a ocupação da rede hoteleira acima dos 90%, chegando perto dos 100% em algumas localidades; impactam fortemente a economia, tendo circulado R$ 4 bilhões em 2020, gerando arrecadação, através dos impostos, de dezenas de milhões de reais; segundo estimativas da Confederação Nacional do Comércio – CNC, o Rio de Janeiro foi responsável por 1/3 da movimentação financeira das atividades turísticas relacionadas ao carnaval 2020, sendo que São Paulo e Bahia, juntos, representaram 1/3 também, e demais estados foram responsáveis pelo terço final; e gerando milhares de empregos, temporários e permanentes, formais e informais, nessa grande indústria carnavalesca. Por tudo isso, o carnaval não pode ser classificado “apenas” com uma festa, que dura alguns dias no ano, mas sim como um grande instrumento de desenvolvimento econômico do Rio de Janeiro!
Essa transversalidade que ocorre no carnaval também pode ser observada na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS), que tem como objetivo melhorar o ambiente de negócios da capital fluminense, para ajudar a economia do Rio de Janeiro a se desenvolver mais e melhor, criando empregos e melhorando a renda dos cariocas, que em última análise é o que mais interessa para a população. A SMDEIS tem uma interação constante com todas as demais secretarias e outros órgãos da Prefeitura, pois todos eles são fundamentais para o desenvolvimento econômico do Rio.
Um dos projetos que vamos criar na SMDEIS é o Observatório Econômico do Rio, com dados e análises específicas sobre a economia carioca. A falta de dados econômicos sobre o carnaval é um grande empecilho, que dificulta uma análise mais completa da manifestação como um todo. Por meio do Observatório, também queremos consolidar os dados já existentes do carnaval carioca (número de turistas e impacto econômico, por exemplo) e mapear e consolidar novas informações, que fiquem disponíveis para a secretaria, prefeitura, vereadores, imprensa, e sociedade em geral. Por exemplo, muito se fala nos trabalhadores do carnaval, mas não se sabe ao certo quantos são no total. Por isso a importância de quantificá-los e classificá-los, num primeiro momento.
Com dados e informações mais completas, é possível estudar políticas públicas, com foco na relação entre carnaval e desenvolvimento econômico. E esses dados também são importantes na narrativa, para mostrar, com mais números e mais exatos, a importância do carnaval para o desenvolvimento econômico da cidade. E isso tem o seu valor, já que de vez em quando o mundo do samba precisa se posicionar contra os críticos, e ressaltar a sua importância, como foi na gestão passada da Prefeitura do Rio.
A SMDEIS, em parceria com a Fundação João Goulart, presidida pela Rafaela Bastos, vai criar um GTT (Grupo Transversal de Trabalho), para consolidar os dados da Prefeitura sobre o carnaval, quantificando como os diferentes órgãos da administração municipal são envolvidos no principal evento da cidade, entre desfiles de escola de samba e blocos. Nesse trabalho estarão envolvidos os “Líderes Cariocas”, servidores municipais com “ambição positiva de liderança para, paulatinamente, assumirem as posições de maior impacto e levar a produtividade e o desempenho da Prefeitura a um novo patamar”. Esse trabalho conjunto entre órgãos da administração municipal vai produzir um documento final, que será apresentado num seminário, em até seis meses após o início dos trabalhos.
Uma das principais funções da SMDEIS é manter o diálogo com a iniciativa privada, desde o microempresário até os grandes empresários, brasileiros e não brasileiros, que têm ou pretendem ter negócios no Rio. Com o carnaval é a mesma coisa, e a SMDEIS está aberta a manter o diálogo constante com esse importante setor da indústria criativa da cidade maravilhosa. O carnaval foi mais um “setor” impactado negativamente pelo Coronavírus. Se hipoteticamente não estivéssemos no meio de uma pandemia mundial, mais de dois milhões de turistas iriam se divertir no Rio, com um movimento bilionário na economia, arrecadando milhões para os cofres públicos, num cenário totalmente irreal no contexto atual. Em função da pandemia, o carnaval 2021 não vai poder acontecer, e esses resultados positivos não vão poder ser realizados. O cancelamento foi a medida mais prudente e acertada a ser tomada, para que em 2022, com todos vacinados, o
carnaval ocorra da melhor forma possível. Não teria a menor possibilidade de realizar carnaval com a pandemia ainda em curso, já que carnaval é sinônimo de aglomeração, justamente o que se deve evitar até o fim da crise.
No ano passado, o auxílio emergencial beneficiou quase 70 milhões de brasileiros, sendo que mais de dois milhões de domicílios no Estado do Rio de Janeiro, quase 40% do total, receberam a ajuda do Governo Federal. Muitos dos trabalhadores do carnaval estavam inseridos nesse contingente de beneficiários. Para este ano, a Prefeitura do Rio, por meio da RioTur e da Secretaria de Cultura, está estudando formas de lançar editais para ajudar os trabalhadores do carnaval, nessa “ponte” até o fim da pandemia.
Uma medida feita bastante no ano passado, principalmente nos bares e restaurantes nos momentos de maior rigidez das medidas sanitárias, foram os “vouchers”, para antecipar alguns recebimentos futuros. Ou seja, a pessoa antecipava um valor para o bar / restaurante escolhido, para poder usar mais na frente, quando fosse possível. Isso ajudou os estabelecimentos a terem algum dinheiro enquanto estavam fechados.
No carnaval das escolas de samba, algo nessa linha também poderia ser feito, começando o mais rápido possível a venda de ingressos para o carnaval 2022, dos camarotes, frisas e arquibancadas, e não somente no final do ano. Com isso, as escolas poderiam ter uma parte do dinheiro disponível mais rapidamente, para poderem começar a se organizar financeiramente ao longo do ano, e não somente perto do carnaval. Essa estratégia deveria, inclusive, ser adotada para todos os próximos carnavais, e não somente para 2022. Sendo assim, poderia ajudar os trabalhadores do carnaval a ter uma ocupação desde já, mesmo que trabalhando menos horas por dia, e com uma remuneração também menor, já visando os desfiles de 2022. Tentar outras antecipações de receitas, por um período mais longo, ajudaria nessa equação financeira das escolas.
Em resumo, nessa nova administração municipal, liderada pelo prefeito Eduardo Paes, um grande amigo do samba, que nos seus oito anos de prefeito muito fez pelo carnaval, das escolas de samba e blocos, a SMDEIS reforça e reconhece a grande importância do carnaval para a economia do Rio, na esperança de que em 2022 será o “maior e melhor carnaval da história”, que certamente vai ajudar muito no desenvolvimento econômico da nossa cidade maravilhosa!
- Chicão Bulhões é secretário municipal de desenvolvimento econômico, inovação e simplificação do Rio de Janeiro. Marcel Balassiano é subsecretário de desenvolvimento econômico e inovação do Rio