Por Lucas Santos (Colaboraram Allan Duffes, Luan Costa, Freddy Ferreira, Guibsom Romão, Matheus Morais, Marcos Marinho, Marielli Patrocínio, Rhyan de Meira, Carolina Freitas e Raphael Lacerda)
Em um enredo que tem muito do DNA da Mangueira, falando dos povos bantus, de um povo preto, dos crias, do favelado, a Verde e Rosa no mínimo deveria buscar dar brilho a sua comunidade. E foi o que se viu no segundo ensaio da escola, com uma significativa melhora em relação ao primeiro ensaio que já tinha sido muito bom. Mas não foi só no chão da comunidade, no canto que a Mangueira se destacou. Também houve um trabalho excepcional da comissão de frente e do “casal Furacão” que marcaram positivamente este ensaio, além da parte musical, com o samba passando muito bem e a bateria mostrando muita musicalidade. Com este teste, a Verde e Rosa mostra que almeja brigar mais a frente na tabela e deixar de lado o incômodo de não ter conseguido nem campeãs em 2024. Em 2025, a Mangueira vai fechar a primeira noite de desfiles do Grupo Especial com o enredo “À Flor da Terra- No Rio da Negritude entre Dores e Paixões”, desenvolvido pelo carnavalesco Sidnei França.
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O diretor de carnaval, Dudu Azevedo, falou ao CARNAVALESCO no final do ensaio e projetou um grande desfile.
“A gente sempre faz uma reunião no final do ensaio para ver como foi e fiquei muito feliz que todos os meus diretores me relataram que nao tiveram nenhum problema na pista, que os seus setores passaram bem. A gente sabia que tinha condições de passar como a gente passou na pista, fizemos a parte da emoção, um paradão. De novo a gente faz o o encantamento para quem está assistindo, encanta desfilando, isso é muito bom para a gente, a gente sai daqui com a certeza de ter o componente feliz, com certeza do nosso tempo na avenida, de chegarmos a esse ponto da preparação como desejávamos, da apresentação nas cabines, da bateria que parou perfeitamente pra fazer a paradinha, colocamos a bateria no box sem correria, da Harmonia, canto, organização da escola muito boa. Estamos preparados pra fazer um grande desfile”, explicou o diretor.
Comissão de Frente
A Mangueira apostou em trazer muito do que já haviam trazido para Sapucaí no primeiro ensaio. A parte da ancestralidade com uma coreografia mais tribal, com pintura corporal muito bem produzida e coreografia forte e intensa. A luz cênica mais uma vez sendo utilizada e.o famoso “cria” surgindo da fantasia e mandando passinhos. Mas, desta vez, não estava sozinho, uma surpresa, na ousadia de Lucas e Karina, para não ficar igual, ao primeiro ensaio, outro “cria” surgia do público para dançar com o mesmo dos últimos ensaios. Uma carta tirada da manga. Boa apresentação.
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Mestre-sala e Porta-Bandeira
O casal “Furacão”, mais uma vez, apostou em uma coreografia que enfatizava o bailado clássico do casal de mestre-sala e porta-bandeira, como mote de ancestralidade e herança dos povos bantos presentes no enredo. Algumas pontuações no samba estiveram presente e deram um molho na apresentação, como o “passinho” de Matheus Olivério no trecho que falava sobre o cabelo descolorido. E Cintya, essa, estava mais uma vez iluminada, mesclando doçura, suavidade, mas sem perder a sua intensidade, com giros potentes, em incrível controle do pavilhão. Matheus foi muito generoso sabendo os momentos que sua parceria devia brilhar. Um dos momentos mais lindos é o mestre-sala dando um beijo na mão da companheira e ajeitando o pavilhão para que Cintya encerrasse com uma icônica bandeirada. Atuação sublime da dupla.
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“A Mangueira vem em um momento de reafirmação da magnitude, da matriarca que ela é. Eu sempre falo: se não tiver emoção, não é a Mangueira. Com todo o respeito a todas as outras escolas, mas a Mangueira sempre tem esse quesito. Tem esse “a mais”, que é a emoção. Ver a arquibancada lotada, funcionando com um samba tão criticado – e que fala da crítica dentro dele – é maravilhoso. A dança do casal Furacão está cada vez mais forte e dentro das características que queremos passar para o mangueirense: aguerrido, vigoroso, determinado e com a nossa identidade. Eu sempre digo: quando dancei a primeira vez com a Cyntia, foi amor à primeira dança. E todo ano, quando recomeçamos, é uma reconquista, um novo amor. Eu acho que estamos em um momento de paixão. É fogo, é dendê”, disse o mestre-sala.
“Estou saindo hoje com o dever cumprido. A coreografia está linda, com tudo que foi pedido. A gente vem trabalhando, e eu venho controlando o vigor, porque a cada samba que entra a gente quer dar mais, e aí eu tento equilibrar. Mas pode ter certeza: vai ser um lindo desfile. Aí sim, posso dizer de coração: estou muito feliz. Ver que o meu trabalho está sendo bem visto, bem quisto e respeitado por vocês e por todo mundo do samba me deixa muito, muito feliz”, completou a porta-bandeira.
Harmonia
Mais uma vez, a Mangueira mostrou que está completamente fechada com o samba e cantou não só com vontade, correção e energia, mas feliz com a obra, era visível no olhar do mangueirense, principalmente no “É de arerê…” e no “Sou Mangueira” e “Orgulho de ser favela”, sem deixar de ter um excelente rendimento para o restante da obra. Quando o carro de som jogou para a comunidade, ela não os deixou na mão e muitas vezes só na batida do surdo, os componentes seguravam a obra. Sem os problemas de som do primeiro ensaio, Dowglas e Marquinhso puderam “brincar” e conduzir a Mangueira a mostrar o que esquema bateria mais comunidade mais carro de som tem feito na Visconde de Niterói. Apresentação muito firme e consciente do que a obra e a escola precisava.
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“Graças a Deus, estamos conseguindo fortalecer ainda mais o nosso trabalho. No segundo ensaio, uma das coisas que estávamos treinando era o andamento da escola como um todo. E hoje acho que esse andamento foi muito melhor do que no primeiro ensaio, o que mostra uma evolução. Agora, é manter essa pegada para domingo. Só depende da gente para levantar esse caneco”, afirmou mestre Taranta Neto.
Evolução
Antes de mais nada, a análise desse quesito deve elogiar ao trabalho realizado pelas alas coreografadas da Mangueira. O início do desfile, no segundo setor, algumas alas com saias faziam um trabalho muito bonito, sincronizado, mas natural, trazendo toda a ancestralidade da dança que está presente no enredo. Mesclando energia e suavidade, e principalmente, religiosidade, inclusive abusavam de utilizar a musicalidade das bossas da “Tem Que Respeitar Meu Tamborim” no passo marcado. Alguns elementos como cajado também contribuíam para o efeito. No restante da escola o passo livre fez uma escola passar aproveitando o samba ao máximo. Algumas pontuações do samba, como a referência ao cabelo descolorido com as mãos no trecho do samba que tem esse verso, além de algumas outras pontuações menores, não devem ser vistas no dia por conta da fantasia, mas foram positivas para incrementar o ensaio da Verde e Rosa.
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Entre os integrantes da harmonias havia alguma orientação para ser mais veemente na cobrança por organização das filas, o que surtiu efeito, sem fazer com que os componentes ficassem engessados. Algumas alas mais para o final da escola, no setor que falava sobre “os crias”, ainda mandavam passinho. Escola evoluiu bem, com fluidez, sem correria.
Samba-enredo
O samba caiu mesmo no gosto da comunidade, muito pelo excelente trabalho musical realizado pela escola. A bateria da Mangueira dos mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto deram o molho que talvez a obra precisasse, usaram todos o seu arsenal de ritmo, com musicalidade, e trouxe bossas muito pertinentes a obra que ajudaram ela acrescer. A segunda parte que possui uma harmonia mais acentuada, com letra tocando em temas toca tesouro a escola ganhou destaque e a primeira parte ganhou ritmo, força, dando andamento a obra até chegar no refrão do meio para a quebra, através de maior balanço Todo esse trabalho passou por cima de algumas questões que eram colocadas sobre a obra como o refrão principal na métrica e acentuação tônica da palavra “dona” e a melodia mais comum da primeira parte. Dessa forma, o samba cresceu muito e cada verso tem sido muito bem trabalhado pela escola a fim de buscar a nota 10. Ótimo rendimento no ensaio e interação com o público.
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“Esse último teste no campo de jogo foi maravilhoso, com certeza foi para lavar a alma de todo o mangueirense. Tenho certeza agora que a Mangueira está pronta, a comunidade merece toda a estrutura, todo o trabalho, todo o suporte que a presidência está botando. Então temos que só retribuir, a comunidade está feliz, a escola está feliz, então só depende da gente entrar aqui, fazer o trabalho, tudo o que a gente vem ensaiando durante esse tempo todo. Eu acho que a Mangueira vai colher grandes frutos. No primeiro ensaio tivemos aquelas questões que culparam o carro com o som, mas nesse ensaio de hoje foi muito diferente, com o som oficial do dia do desfile ficou muito fácil de a comunidade entender, ouvir de ponta a ponta o samba, então isso ficou marcante para a gente, é muito maravilhoso ensaiar com o que a gente vai usar no dia. Foi maravilhoso, um excelente ensaio”, disse Dowglas Diniz.
“Ali do carro de som estava legal. Embora a gente esteja muito cansado essa semana, agora nós vamos dar uma descansada para chegar no domingo 100%. Mas de um todo foi maravilhoso”, revelou Marquinho Art Samba.
Bateria e Outros destaques
Uma bateria “Tem Que Respeitar Meu Tamborim” da Estação Primeira de Mangueira que contou sua tradicional afinação mais pesada de surdos. Isso ajudou a realçar o belo trabalho dos surdos mor mangueirenses. Repiques técnicos tocaram junto de um naipe de caixas ressonante e volumoso. Na primeira fila da cozinha da bateria da Verde e Rosa também havia o molho exemplar dos timbaques. Na parte da frente do ritmo, um trabalho entrosado entre os eficientes ganzás e um bom naipe de xequerês mostrou grande integração dos solos de ambos. Uma ala de tamborins de grande qualidade deu valor sonoro à cabeça da bateria da Manga. Cuícas sólidas e um destacado naipe de agogôs de duas campanas mostrou seu valor musical, também em bossas. Um conjunto de bossas bastante integrado ao samba-enredo foi apresentado. Uma criação musical refinada e de muito bom gosto. Uma bateria da Mangueira aguardando com ansiedade e otimismo mais um grande desfile.
No esquenta, além do tradicional exaltação da Mangueira, Marquinho Art Samba e Dowglas cantaram os funks “Eu só quero é ser feliz” e “Som de preto”. A rainha Evelyn Bastos impressionou no modelito homenageando “os crias” com uma figurino todo trabalhado no jeans, brilhos e algumas peças de CD na parte de cima da fantasia. Comandados por mestre Rodrigo Explosão e Taranta Neto, a “Tem Que Respeitar Meu Tamborim” abusou da musicalidade com algumas bossas mesclando a ancestralidade e o novo, com o ritmo do funk. Além disso, repetiu o show pirotécnico do primeiro ensaio com a iluminação do sambodromo apagada.
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