Pela primeira vez em sua história, a Beija-Flor será a segunda agremiação a passar pelo Sambódromo da Marquês de Sapucaí em um domingo de Carnaval. Devido ao histórico de notas baixas e colocações ruins de quem desfila nesta ordem, a missão da escola de Nilópolis é desafiadora. Episódios recentes provaram ser possível quebrar este estigma.

joao vitor
Foto: Allan Duffes/CARNAVALESCO

Em 2019, a Unidos do Viradouro, que retornava ao Grupo Especial, terminou com um vice-campeonato desfilando nesta posição, com o enredo “Viraviradouro”, assinado por Paulo Barros. Já no ano seguinte, a mesma vermelha e branca de Niterói foi além e faturou o título se apresentando como segunda de domingo com “Viradouro de Alma Lavada”, desenvolvido pela dupla Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira. Esses dois casos de sucesso servem como provas para que João Vitor Araújo, carnavalesco que fará sua estreia na Beija-Flor em 2024, siga confiante e apostando suas fichas em um possível título nilopolitano.

“Eu tenho a Viradouro como um grande exemplo. Uma escola grande, forte, de comunidade, que canta, que sabe desfilar, e que foi campeã nesta posição. A Beija-Flor também pode ser, afinal somos uma escola gigantesca, de uma comunidade apaixonada, que canta a plenos pulmões… Então, obviamente, é uma posição que olhando rapidamente choca. Porém, a Beija-Flor sabe desfilar independente de qualquer coisa. Com todo respeito as coirmãs, agora é trabalhar, escolher um excelente samba, que tenho certeza que a comunidade de Nilópolis vai dar conta do recado”, garantiu João Vitor em entrevista ao site CARNAVALESCO.

Por ter caído em uma posição de desfile com numeração par, a Beija-Flor irá se concentrar no lado do Balança Mas Não Cai em 2024. Ao ser questionado sobre isso, João Vitor Araújo não escondeu que preferia os Correios, mas ressaltou que ainda há bastante tempo para fazer todos os ajustes necessários para não enfrentar problemas no grande dia.

“A gente sempre torce para cair do lado dos Correios pela facilidade da montagem da escola. O sorteio é importante, porque a gente a partir dele, já com a definição entre Correios e Balança, trabalha com um determinado tipo de estratégia na hora de executar as alegorias. Então, no caso do Balança, a gente tem todo um cuidado a mais, todo o processo tem que ser feito muito rápido, o viaduto está logo na esquina… Então, tudo isso vai ser trabalhado, pensado e repensado para que no dia do desfile saia perfeitamente”, afirmou.

Chegada de João Vitor Araújo a Deusa da Passarela

João Vitor Araújo foi anunciado como novo carnavalesco da Beija-Flor de Nilópolis no começo de março deste ano. Ele assumiu o posto depois das saídas de Alexandre Louzada e André Rodrigues. Sobre a recepção e o início do trabalho na nova casa, João comentou:

“Estou muito feliz com essa minha chegada na Beija-Flor. Estou sendo muito bem amparado, muito bem conduzido, e a única resposta que posso dar para esse carinho que a escola está tendo comigo é trabalhando arduamente. Está sendo algo delicioso, que está sendo feito com muito esmero, e que o resultado terá o padrão Beija-Flor de Nilópolis”, declarou o artista durante conversa com o site CARNAVALESCO.

Com passagens por Viradouro, Rocinha, Unidos de Cabuçu, Unidos de Padre Miguel e Cubango, João Vitor foi contratado pela Deusa da Passarela após realizar um trabalho elogiado por público e critica em 2023. Na ocasião, ele assinou o enredo “Mogangueiro da Cara Preta”, junto da consagrada carnavalesca Rosa Magalhães, que rendeu um oitavo lugar para o Paraíso do Tuiuti.

“Todo artista, principalmente aqueles que como eu enfrentaram muitas dificuldades nos trabalhos anteriores, merecem um pouco de estrutura. Eu acho ruim quando as pessoas atribuem o merecimento de um trabalho em uma escola com uma condição melhor só aos consagrados. Aqueles também que passaram por dificuldades na Série Ouro ou até mesmo em escolas do Grupo Especial merecem conhecer um pouco de uma estrutura melhor. Costumo dizer que o sol nasce para todos e que todos merecem o céu. Então, eu acho que isso faz toda a diferença”, argumentou.

Antes mesmo de receber sua primeira chance como carnavalesco principal, João Vitor exerceu diferentes funções nos mais diversos barracões. A estreia foi na Portela, ao lado de Alexandre Louzada, durante os preparativos para o Carnaval 2001. Na sequência, passou cinco anos na Mangueira, como aderecista e chefe de adereços de Max Lopes. Ele trabalhou ainda com Paulo Barros na Viradouro e Fábio Ricardo na Rocinha.

“Ninguém merece sofrer a vida inteira. Fazer o falso luxo parecer luxo de fato, fazer com pouco e dar a impressão que é muito, é extremamente desgastante. Todo mundo pensa que é muito fácil, mas você tem que pensar 20 vezes mais, testar 30 vezes mais, para chegar naquele efeito. E a quantidade de dias e de energia que se perde com isso, você acaba envelhecendo uns 30 anos em um Carnaval”, relatou João Vitor.

Enredo patrocinado

Em 2024, a Beija-Flor levará para a Avenida o enredo “Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila”. O tema irá explorar a cultura popular da capital alagoana e terá como ponto central a história de Benedito dos Santos, um homem analfabeto, que ganhava a vida como engraxate, mas que se tornou um famoso folião soberano. Ele era conhecido por suas histórias, entre as quais a envolvendo um parentesco direto dele com o último imperador da Etiópia.

O desfile contará com um aporte financeiro da Prefeitura de Maceió, que por meio da Secretaria Municipal de Turismo, destinará uma quantia de R$ 8 milhões para ajudar a custear o Carnaval da Beija-Flor. Para o site CARNAVALESCO, João Vitor falou sobre a experiência de trabalhar com um enredo patrocinado e recordou que esta não é a primeira vez.

“Já estive em Maceió e ainda vou mais uma vez. Esta é minha segunda experiência com enredo patrocinado. Há 10 anos, fui campeão com Viradouro fazendo um enredo com patrocínio… Quem sabe a história não se repita?” sugeriu João, com bom humor, fazendo menção ao desfile de 2014 da vermelha e branca de Niterói, que marcou a estreia dele como carnavalesco e rendeu o título da então Série A.

Visual identificado com a Beija-Flor

A chegada de João Vitor Araújo na Beija-Flor ocorre em um momento no qual a escola enfrenta uma crise na parte visual. Desde o Carnaval de 2017, a Deusa da Passarela não tira nota máxima em Alegorias e Adereços. Já a última vez em que a agremiação não perdeu pontos nos quesitos plásticos foi no ano de 2015.

Neste período, apesar do campeonato de 2018, a Beija-Flor passou por uma série de reformulações estéticas e discursivas. A tradicional comissão de Carnaval chegou ao fim após mais de duas décadas. Além disso, nomes importantes na história da azul e branca de Nilópolis, como os carnavalescos Cid Carvalho e Alexandre Louzada, retornaram e novamente deixaram a agremiação.

Agora, a escola busca uma nova repaginação. Responsável por essa missão, João Vitor antecipou que o trabalho de 2024 terá como intuito resgatar um visual mais condizente com a identidade criada pela própria Beija-Flor ao longo das décadas, marcado pelo luxo e imponência.

“Eu adoro o visual mais requintado e luxuoso que virou uma marca da Beija-Flor. Gosto da grandiosidade, da beleza, assim como a escola. Então, o torcedor pode esperar isso novamente: Carnaval com cara de Carnaval! Nada contra aos outros estilos e as demais características, mas vou fazer aquilo que eu gosto de ver e o que o público gosta também. Então, aguardem uma Beija-Flor lindíssima”, concluiu o carnavalesco.